22 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 27/01/2014 às 15:48

Júnior Friboi por ele mesmo: explosão ou implosão eleitoral?

(Texto publicado originalmente no Jornal X, 27/01/14)

Em março de 2010, escrevi uma matéria para este blog que começava assim: 

“Ingênuos, claro, sempre dão boas entrevistas, porque acabam revelando fatos e desejos de seu grupo político que não deveriam vir a público. É o caso da entrevista de José Batista Júnior (PTB), mais conhecido como Júnior Friboi, concedida hoje à repórter Núbia Lobo e publicada no jornal O Popular. Ele é pré-candidato a vice-governador ou a senador na chapa de Marconi Perillo (PSDB).”

No mesmo ano de 2010, Friboi foi descartado da chapa encabeçada por Marconi Perillo. Depois da eleição foi para o PSB e, agora, está no PMDB. Friboi tem um mérito: quebra o “conluio imaginário”.

O sociólogo Pierre Bourdieu dizia que o ruim das entrevistas de políticos é que há um “conluio originário” fortíssimo. Este conluio seria um acordo mais forte do que contratos abertos ou secretos. Neste conluio, todo político tem uma obrigação de discrição e segredo acerca de tudo que é planejado e discutido nos bastidores ou diz respeito às crenças íntimas desse grupo.

Friboi tem um mérito em relação aos políticos em geral. Gosta de “abrir o coração” e revelar o que pensa de verdade. Isso pode ser um trunfo seu, se bem trabalhado.

Abaixo, as principais frases que disse em sua primeira entrevista de 2014, algumas nas duas últimas semanas de 2013 e as que disse em 2010, quando era da base de Marconi Perillo.

Entrevistas de 2013:

1) Em entrevista ao Opção dia 15 de dezembro de 2013, faz ameaças ao PT e diz que está esperando os petistas irem atrás dele: “O PMDB de Goiás pode não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff. Eu não tenho nada com o PT, mas, para mim, eu vejo que eles deveriam eleger a prioridade, porque nós do PMDB já estamos resolvidos. (…) Mas corre o risco muito sério de o PT perder o apoio (do PMDB) para a presidente Dilma em Goiás.”

2) Em entrevista ao Popular dia 12 de dezembro de 2013, disse que se o PT não quiser aliança com ele, vai procurar o Vanderlan e o PSB. Em outra entrevista, chegou a dizer que Vanderlan “não tinha alternativa” que não fosse procurar ele, Friboi. No dia seguinte, Vanderlan reagiu: “Só pode ser brincadeira. Não tenho o menor interesse em conversar com ele.”

3) Em entrevista ao Popular dia 30 de dezembro, mostra sua habilidade de unir as oposições: “Tudo bem quem quiser lançar candidato no primeiro turno. Mas no segundo vai ter que todo mundo se juntar. Se não for pelo amor, será pela dor.”

4) Na mesma entrevista ao Popular de 30 de dezembro, Friboi admite que já ajuda vários peemedebistas com ‘viagens de Sêneca’: “Com recurso financeiro, não tenho feito absolutamente nada. Até porque não está no momento certo. Vamos fazer durante a campanha. Mas de repente, uma viagem de avião, um Sêneca, por exemplo, até posso arrumar. Não vou mentir aqui para vocês que não tenha feito. Mas esporadicamente, nada de deixar avião por conta. Nem o meu, nem o de ninguém. Mas, de repente surge uma viagem longe, um deputado que vai me representar em algum evento, pode até ser que tenha feito, não sei quantas vezes.”

5) Na entrevista ao Opção de 15 de dezembro, Friboi diz que o Grupo Jaime Câmara está contra ele por insistir em chamá-lo de ‘José Batista Júnior’: “Lógico que é uma tática deliberada da Jaime Câmara. Inclusive isso veio a pedido do governo, eu não tenho dúvida disso. Meu nome na campanha não é José Batista Júnior, meu nome político é Júnior Friboi. Então, que ponham assim. É tendencioso isso, a imprensa precisaria fazer as coisas de maneira não tendenciosa. Isso é muito ruim.”

6) Na mesma entrevista ao Opção, chega a dizer que prefere o DEM ao PT: “Sem o PT, a relação com o DEM com certeza melhoraria, aí ele viriam sem problema algum. Ronaldo Caiado não tem problema com o PMDB. Se o PT lançar um candidato próprio, isso abre as portas para o DEM entrar. Caiado poderia até ser meu vice.”

7) Ainda na mesma entrevista ao Opção, Friboi diz que Caiado poderia fazer um “acordo branco, informal” com ele. “Ronaldo Caiado é um grande líder ruralista. Nós já conversamos esses dias e esclarecemos todos os mal-entendidos que tivemos. O problema é com o DEM e não com Caiado. É o problema nacional que eles têm com o PT, com a resolução deles de não estar onde o PT estiver. É um problema nacional, não é meu com ele ou vice-versa. Se ele quiser nos dar um apoio branco, estaremos prontos… Se ele resolvesse por isso seria bom para nós.”

8) Também entrevista ao Opção, Friboi expõe e compra briga gratuitamente com o ex-deputado estadual Wagner Guimarães: “Eu respeito Wagner Guimarães. Ele tem suas razões e não vou contestá-lo. O que quero dizer é que, quando ele foi candidato a deputado, todas as suas reivindicações que foram feitas a mim para que eu pudesse contribuir com o sucesso de sua campanha, eu sempre atendi de forma correta. Ele está sendo ingrato. Primeiramente, porque ele é um colega de partido. Segundo, ele não tem absolutamente nada para falar de mim. Nunca lhe fiz mal em nada e nunca deixei de cumprir um compromisso com ele.”

9) Na mesma entrevista, Friboi diz que empresas de sua família (Grupo JBS) sempre financiaram campanhas eleitorais de todos para não serem ‘prejudicados’ e ‘perseguidos’ em seus negócios. É de uma sinceridade espantosa.

10) Em entrevista no dia da homenagem a Iris Rezende, soltou a seguinte frase:“Ainda bem que estamos homenageando ele em vida, felizmente Iris está vivo para ver as homenagens.”

 

Agora as frases de 2014, relevadas em uma única entrevista concedida dia 22 de janeiro à Rádio Mil FM:

1) Júnior Friboi volta a colocar em dúvida se o PMDB deve manter a aliança com o PT. “Não tenho opinião formada se vamos apoiar a Dilma ou não”. Mais adiante, afirma que “se unir (com o PT), é bom. Mas se não unir, paciência.”

2) Em vez de fazer isso em um momento solene, Friboi solta que Leandro Vilela será mesmo seu coordenador de campanha. E se disse surpreso com a ‘maturidade’ de Leandro e seu primo Daniel Vilela.

3) Em vez de tratar com seriedade e mais respeito (até para conquistar o aliado), Friboi não poupa o PT e seu pré-candidato Antonio Gomide. “Essa candidatura (do Gomide) é especulação. Vamos ver se ele renuncia à prefeitura.”

4) Pra variar, Friboi sempre gosta de lembrar que, com ele, o partido terá dinheiro na campanha. “O PMDB tem nome, tem capilaridade e tem agora comigo estrutura financeira”.

5) Em vez de valorizar o prefeito Paulo Garcia por defender uma aliança PMDB-PT, Friboi praticamente diz que o prefeito está cumprindo com sua “obrigação” por defender um “acordo” do qual ele, Friboi, inclusive, diz ter participado (mesmo estando no PSB em 2012). “Paulo Garcia está cumprindo compromissos da instituição, a instituição tem compromissos.”

6) Em mais um momento de elogio a si mesmo, Friboi diz que política para ele não é profissão. “É um sacerdócio.”

7) Friboi afirma que ele e Iris Rezende estão no mesmo patamar. “Ele precisa de mim, eu dele”, pontua e mais adiante afirma que os dois se completam.

8) Quando perguntado como é sua relação com a Dilma e o Lula, Friboi confunde as bolas e começa a falar de sua empresa. “(A relação) é das melhores. Ontem, inclusive, saiu a classificação, somos a oitava maior empresa do país.”

9) Ele próprio avisa na entrevista que é ‘novo de experiência’, como se isso fosse bom. “Pergunta: O senhor é um candidato novo? Júnior Friboi – Quando a pesquisa apresenta o novo, é novo de experiência.”

10) Quando fala da festa que o PMDB de Aparecida fará para ele, em vez de valorizar o prefeito Maguito Vilela e outros aliados, prefere elogiar os vereadores Ezizio e Gleison Flavio.

11) Em entrevista à CBN, dois dias depois da entrevista à Rádio Mil, não se constrangeu em dizer que deseja o PT ‘na marra’ a seu favor, em vez de tentar ele próprio construir uma aliança em Goiás. “A vice-presidência da República e a Presidência da República vão entrar nisso aí (…), vai haver interferência, sim, da cúpula nacional de PT e PMDB para apoiar minha candidatura.”

 

Veja agora as frases de 2010 (todas ditas em uma só entrevista, o que derrubou sua pré-candidatura no mesmo dia):

1) Júnior do Friboi expõe o fato de Marconi já estar negociando cargos antes mesmo de ser eleito:

“Propus para o Marconi, eu indo para a vice, de criar uma secretaria de relações internacionais e desenvolvimento e que eu possa cuidar dessa parte. (Criar também) algumas secretarias ligadas a mim, alguma coisa bem mais ampla do que simplesmente ser vice.”

2) Ele diz que o CPF do Friboi é diferente do CNPJ do Friboi. Indiretamente afirma que não quer sofrer retaliações, caso não consiga se eleger:

“A JBS vai fazer doações para todos (os candidatos). Independente de eu ser o candidato ou não, ela (a empresa) vai participar com todos, como sempre participou.”

3) Ele afirma que Caiado e Demóstenes devem “vir para o PSDB”, como se não soubesse do desgaste dos líderes dos dois partidos em Goiás e como se Ronaldo Caiado precisasse de Marconi para “garantir” sua vaga de deputado federal:

“Espero que o Demóstenes e o Ronaldo decidam vir para o PSDB porque acho que é o caminho natural deles. O Demóstenes tem a vaga garantida para o Senado, o Ronaldo para deputado federal. Eu poderia muito bem ser um grande aliado deles na defesa do produtor.”

4) O ponto alto: Júnior do Friboi sugere que há um acordo para Marconi renunciar aos últimos nove meses de mandato para ele, que seria o vice:

“O Marconi pode ficar 3 anos e 3 meses, me entrega o governo, eu assumo, vou para uma reeleição, fico mais três anos e três meses e posso sair de novo, com o Marconi voltando.”

5) A repórter Núbia Lobo, provavelmente assustada com a resposta, pergunta se esse acordo (do ponto 4) existe mesmo. Ele confirma, em vez de perceber que disse algo que não deveria ser revelado: “Pergunta: É isso que está planejado entre o sr. e o Marconi? Resposta: Eu não entraria se não fosse dessa forma.”

6) Ele acaba rifando a candidatura de Lúcia Vânia ao Senado, mesmo dizendo que não faz isso: “Não, não tem desconforto nenhum. A vaga não é de Lúcia Vânia, não é de ninguém. A vaga é do partido. Está terminando o direito de oito anos que o povo deu a ela. Agora é zerar tudo e começar de novo. Ela está esperando que o partido e o povo possam reconhecer o trabalho dela e, ao vencer as eleições, traga ela novamente.”

7) Ele, ao dizer que não entende de gestão pública, acaba abrindo a guarda para adversários fazerem críticas: “De gestão pública não entendo, vou passar a entender. Tenho a vocação política e vocação empresarial.”