23 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:35

Jogo duro, duríssimo na sucessão de Iris Rezende em 2020

Sucessão de Iris Rezende movimenta os principais partidos e personagens políticos (edição Altair Tavares, fotos divulgação)
Sucessão de Iris Rezende movimenta os principais partidos e personagens políticos (edição Altair Tavares, fotos divulgação)

Seis  partidos  competitivos devem ter candidato à sucessão do prefeito Iris Rezende Machado. Além da legenda do prefeito, o MDB, o PSB, do deputado federal Elias Vaz, o PP do senador Vanderlan Cardoso, o PSDB do ex-governador José Eliton e o PT da deputada estadual Adriana Accorsi, o DEM do governador Ronaldo Caiado. Legendas à esquerda e à direita como PSOL, PCB e PC do B, PSC, PSD, PTB, PSL também devem participar do processo, visando principalmente a eleição de vereadores.

Iris pode ser candidato a reeleição. Se não for é o principal cabo-eleitoral desta campanha. Se for, não deve ser subestimado. Neste biênio 2019/2020 o prefeito vai pilotar um grande pacote de obras. No balanço apresentado à Câmara de Vereadores Iris indicou investimentos de R$ 635 milhões, com os quais pretende asfaltar 30 bairros, recapear as principais ruas e avenidas da capital, levar em frente o projeto de fazer a Avenida Leste-Oeste seguir para o Jardim Novo Mundo, retomar a Marginal Cascavel, terminar a Maternidade Oeste, entre outras obras estruturantes.

Tudo isto coloca Iris como um grande player no jogo eleitoral do ano que vem.  Uns poderão dizer? “Ah, mais Iris está muito idoso!” Ou ainda “Olha, a população quer o novo, vejam o exemplo da eleição de 2018”.

 O novo envelheceu

Eu digo que o novo que foi eleito em 2018 está fazendo m… em cima de m… no Brasil e em vários estados. Os governadores eleitos no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, para ficar em alguns exemplos, já decepcionaram a população. O mesmo pode ser dito de Sua Excelência o mito.

 Ontem fui levar meu filho no ponto de ônibus. Ele estuda num colégio da rede pública estadual e acho importante que ele saiba se deslocar pela cidade. Nem sempre posso levá-lo e o rapazinho está na idade de se virar. No ponto tinha um idoso, com aparência de uns 76 anos. Estava reclamando que votou em Bolsonaro pensando que as coisas iriam mudar, mas diz que se mudou foi para pior. Falou isto num goianês de dar gosto, que eu repito para o deleite dos leitores(as):

 “Tudo tá subino meu fio. Os ‘mantimento’ estão mais caro, a luiz e a água tamem, e agora tão falano que as aposentadoria vai sê um fracasso, que vai ficar só a metade. E eu num tô entendendo é mais nada, que parece que nóis elegeu um presidente mais vei cinco, pruque manda o ‘homi’, manda os treis fio do homi e o vice manda tamem. Uai, este trem tá atrapaiado dimais sió”.

 Nem sempre o novo é novo mesmo. O empresário eleito em Minas Gerais não tem sensibilidade social. Nem sequer pôs os pés em Brumadinho.

 O ex-juiz eleito no Rio de Janeiro assiste impávido massacres perpetrados contra a população pobre dos morros. Treze foram mortos num só dia.  Vários vídeos tem sido postados na internet no qual se pode ver helicópteros da policia disparando nos morros. Pode isto Arnaldo?

 No Palácio do Planalto, sua Excelência e seus ministros estão fazendo tantas trapalhadas que a China, nosso maior comprador, está trocando o Brasil pelos Estados Unidos. E o desemprego está em 12 milhões e não pára de crescer.

 Novo jogo

Juan Manuel Fangio, o argentino pentacampeão de Fórmula 1 dizia: “ay carreras e carreras”. Uma corrida nunca é igual a outra. Vale também para as eleições. Experiência política e partidos consolidados vão pesar muito nas próximas eleições.

A legislação eleitoral mudou. Nesta eleição não vai ter mais coligação entre os partidos para eleger vereadores. Cada legenda terá que colocar o seu time em campo com chapa completa. Poderá haver aliança na majoritária, por exemplo, um partido indicando o prefeito e o outro o vice. Mas só. Todas legendas terão que montar sua barraca na feira, expor as mercadorias e conversarem com os fregueses.

 O MDB tem tradição eleitoral em Goiânia, O PSDB, o PT também. PP e DEM, que um dia foram Arena e PDS, idem. O PSB é ainda uma legenda pequena, mas tem um candidato que pode incomodar, trata-se do ex-vereador e hoje deputado federal Eliaz Vaz, terceiro mais votado na capital, onde teve 52.882 dos mais de 77 mil votos com os quais foi eleito  (ficou atrás do Delegado Waldir-PSL, que recebeu 93.287 ) e do médico Zacharias Callil (DEM), que teve 87.991.

 Paço e Casa Verde

O governador Ronaldo Caiado (DEM) tende a manter a aliança com o prefeito Iris Rezende. Se ele for candidato à reeleição, é provável que MDB e DEM liderem uma ampla coligação, que poderá envolver outras legendas . Mas, se Iris não for o candidato –  e surja, por exemplo, a possibilidade de que seja substituído pelo ex-governador  e ex-prefeito de Aparecida de GoIânia Maguito Vilela -, é provável que o Palácio das Esmeraldas estimule um candidato de sua base politica, que podem ser os seus já citados campeões de voto na Capital:  Delegado Waldir (PSL) ou Zacharias Callil (DEM).

Maguito Vilela é um nome competitivo. Seja em Goiânia, Jataí, Aparecida de Goiânia ou Chapadão do Céu. Mas só será candidato se for ungido pelo prefeito para ser o seu sucessor, ou até quem sabe o seu vice, o que seria também uma jogada de mestre. O tempo dirá.

PSDB não morreu

Engana-se quem acredite que o PSDB está morto, enterrado e finito no Estado. Historicamente os tucanos não são bons de campanha. Ganharam com o PT de Darci Accorsi em 1992, quando indicaram como vice o ainda deputado estadual Jovair Arantes. Em 1994 o ex-prefeito Nion Albernaz trocou o PMDB pelo PSDB e se lançou candidato à sucessão de Darci em 1996. Venceu no segundo turno. E depois dele, tucano nenhum ganhou. A então deputada federal Lúcia Vânia bem que tentou em 2000, mas a vitória ficou com o deputado federal Pedro Wilson (PT). 

Em 2004 e 2008, o deputado federal Sandes Júnior (PP) foi o representante da aliança marconista. Deu ruim e Iris foi eleito e reeleito. Em 2010 Iris renunciou para disputar o governo do Estado, seu ex-vice, Paulo Garcia (PT), disputou a reeleição e bateu no primeiro turno o candidato palaciano, o deputado federal Jovair Arantes (PTB). Em 2016 Iris foi reeleito, numa eleição apertada, onde o marconismo cedeu o seu exército para o ex-prefeito Vanderlan Cardoso (PSB) e por pouco não derrotaram o peemedebista.

Em 2020 pode ser a vez do PSDB. O eleitor goianiense tem uma tendência danada de eleger prefeitos que são oposição ao governo do Estado. É um equilíbrio que vem dando certo para a Capital. Mas quem seria o nome? O ex-governador Marconi Perillo? Esqueçam. Marconi só venceu uma vez em Goiânia: quando foi eleito governador pela primeira vez em 1998. Depois disso, perdeu todas para o PMDB de Maguito e Iris. Se o PSDB quiser fazer uma aposta, terá que ser no ex-governador José Eliton.  Ele é o único que pode defender o legado tucano. Não é tarefa fácil. É esforço gigante, mas Eliton pode sensibilizar um eleitor em especial: o servidor público do Estado, que por estes dias anda implicado com o governador Ronaldo Caiado. Se a implicância continuar até 2020, uma zebra poderá surpreender os incautos.

É Baldy

Em 1992, o músico e compositor Itamar Correia já era consagrado como criador de jinglles “chiclete”. Havia feito o de Mauro Borges em 1986, de Paulo Roberto Cunha em 1994 que cairam no gosto popular. Em 1992, cravou o ” É Darci”. Pegou ‘quiném’ fogo no campim seco do mês de agosto.

É Alexandre Baldy, e não Vanderlan Cardoso o provável candidato do PP. Vanderlan acabou de assumir o mandato de senador. Não vai trocar oito anos por dois na prefeitura. Sim, dois anos porque o seu projeto é ser governador de Goiás. Poderá ser candidato em 2022 se o governo Caiado não estiver bem, ou poderá colar na Casa Verde e ser o sucessor do democrata. Há outras razões também. Vanderlan Cardoso é importante no Senado para vários segmentos, notadamente o setor empresarial e o segmento evangélico. E mais: Vanderlan não senador apenas por Goiás. Ele também tem relações de amizade e laços empresariais com lideranças politicas de Rondônia, entre elas o ex-senador Romero  Jucá.

Vanderlan tem que fortalecer o PP, e o próprio Baldy disse isto com todas as letras em nota na coluna Giro, de O Popular, onde revelou que a legenda pretende ter candidato nas dez maiores cidades do Estado, não disfarçando pretensões maiores do que apenas 2020.

 Há o sentimento de que um empresário pode ser um candidato competitivo em Goiânia nas próximas eleições. Baldy tem este perfil e demonstrou jogo de cintura quando foi ministro das Cidades. Ali ele revelou uma faceta de articulador, de que sabe trabalhar nos bastidores.  Pode emergir como nome para contrapor os candidatos tradicionais, com forte apoio da classe empresarial, notadamente o setor da construção civil, que foi amplamente contemplado na sua passagem pelo governo Temer. 

 PSB entre duas escolhas

O deputado federal Eliaz Vaz (PSB) também faz parte desta equação. Ele coordenou a campanha de Vanderlan à prefeitura em 2016. Em 2018, no entanto, fez acertada aliança com o seu colega de Câmara Municipal, o vereador Jorge Kajuru, e ambos foram eleitos ao Congresso Nacional, ele para a Câmara Federal e Kajuru para o Senado. Kajuru foi eleito pelo PRP, mas já está filiado ao PSB. Kajuru teve 30% de seus votos em Goiânia (395.277). Mas Kajuru brigou com Vanderlan, que recebeu 522.008. Elias terá que escolher entre um dos dois para subir no seu palanque. 

Entre o médico e a bala

O Delegado Waldir provou que é bom de voto para o Legislativo. Praticamente repetiu a votação de 2014, quando foi eleito com pouco mais de 270 mil votos, e em 2018 bateu a marca de 274.406. Em 2016 ele trocou o PSDB pelo PR e entrou na disputa pelo Paço Municipal e terminou em terceiro, com 71.727 votos, contra 217.981 de Vanderlan e 277.074 de Iris. A eleição mostrou que sem um partido organizado e uma ampla aliança ninguém é competitivo na Capital. Sozinho, com o seu minúsculo PSL Waldir não irá a lugar nenhum. Apoiando pelo governo, ele pode fazer barulho e mexer no tabuleiro.

 A plataforma de Waldir é a mesma da bancada da bala: “bandido bom é bandido morto”. Isto é um bom discurso para eleger deputado, mas insuficiente para eleger um prefeito. O Dr. Zacharias Calil (DEM), talvez possa empolgar mais. É um médico querido e respeitado pelos goianienses e a agenda da saúde mobiliza setores mais amplos da sociedade do que a da bala. A conferir.

 Esquerda

Os partidos de esquerda e centro-esquerda, que sofreram grandes reveses nas eleições de 2016 e 2018, podem retomar parte do terreno nas eleições vindouras. O mito micou. O governo Bolsonaro é péssimo e não projeta dias melhores. As propostas de privatização das universidades federais e de aposentadoria com 40 anos de contribuição tendem a erodir a base popular que colocou Jair Bolsonaro na presidência. Analistas políticos de grandes jornais brasileiros (Folha, Estadão, O Globo) e internacionais, como o The Guardian, já comparam Bolsonaro ao presidente Jânio Quadros, O Breve, cujo mandato só durou oito meses.

O chamado campo progressista tem discurso para mobilizar o seu eleitorado, e tem nomes para colocar nas ruas. Reeleita e mantendo boa votação em Goiânia, a deputada estadual Adriana Accorsi é uma das apostas do PT. Delegada de polícia, ela tem voltado o seu mandato para  o combate á violência contra as mulheres e crianças – uma epidemia que faz muitas vítimas na Capital.

O PT também tem um candidato-coringa: o ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide. O sucesso de sua administração em Anápolis, onde deixou o governo com quase 90% de aprovação o cacifam para tentar novo mandato na “Manchester Goiana” ou até mesmo ser apresentado ao distinto eleitorado goianiense como um executivo de sucesso, com soluções inovadoras para o município.

Páreo difícil

Tem jogo e jogo duro nas eleições em Goiânia. Há nomes latentes como os deputados Francisco Júnior (PSD), que fez sua preliminar em 2016 e pode entrar em campo de novo para o jogo oficial em 2020. Um conjunto de fatores pode impactar nas eleições municipais que vão desde os erros e acertos dos governos estadual e federal.

As eleições de 2020 serão um campeonato no terrão. Vale dedo no olho, entrada dura,  bicuda, gol de canela, pressão da torcida e contestação de resultado e pedido para questionar na Justiça a escalação do jogador do time adversário.