O que aconteceu em Brasília ontem foi um último suspiro dos extremistas bolsonaristas na tentativa de chamar a atenção dos militares para um golpe de Estado. Acreditavam, imagino, nas palavras de seus influenciadores – youtubers, instagrammers, “jornalistas”, que inflacionaram os movimentos desde seus apartamentos, estúdios, escritórios, ou mesmo do exterior – de que seriam os catalisadores de um movimento que, no decorrer das horas, alcançaria o apoio das Forças Armadas, polícias, outros setores da população e, por último mas não menos importante, de seu líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
É assim que o movimento de ontem vêm sido construído desde a vitória eleitoral de Lula em Outubro. Fecharam algumas rodovias, e seus influenciadores disseram que ainda não era suficiente para que o líder entrasse em ação: ele precisava da adesão das Forças Armadas. Formaram acampamentos ao redor dos quartéis generais pedindo intervenção militar, mas seus influenciadores disseram que os militares não podiam entrar em ação ainda: era preciso esperar 72 horas, mais 72, mais 72… O então presidente viajou para Orlando, mas não se passou de uma estratégia. O então vice-presidente iria falar na TV, o que seria a hora da convocação, mas não se passou de uma traição.
Todas essas pessoas que participaram desse ataque à República são criminosas. Precisam ser autuadas, julgadas, condenadas e presas. Mas isso é só o começo. Deve-se passar pelos seus influenciadores, que criminosamente estimularam para que acontecesse. Não devemos nos esquecer, também, das autoridades públicas que prevaricaram. A chance de algo das proporções do que aconteceu ontem, com a quantidade de pessoas envolvidas e a respectiva organização e logística ser um improviso é zero. Essas pessoas desfilaram em uma multidão por Brasília, desde a chegada de seus ônibus até a Praça dos Três Poderes, o coração do Brasil. Isso sem que ninguém percebesse? Não brinca.
A responsabilidade pela segurança na Esplanada dos Ministérios é da PM-DF. E o secretário de segurança do GDF na manhã deste domingo era Anderson Torres, que até o dia 31 de dezembro era ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Não havia polícia o suficiente para garantir a segurança do governo do Brasil, enquanto o secretário tirava férias para ir à Flórida. O governador Ibaneis Rocha, o secretário de segurança Anderson Torres e o comandante da polícia militar do DF são responsáveis pelo ataque à República de Ontem, por conivência ou negligência.
Esse ataque foi orquestrado em grupos de WhatsApp e Telegram abertos, em que participam não só bolsonaristas, mas também pesquisadores, jornalistas, e, porque não, agentes do serviço de inteligência. Mais de cem ônibus chegaram com essas pessoas a Brasília no sábado. Esses ônibus foram pagos por alguém. Os anúncios também incluíam garantia de banheiros, locais para acampamento e comida durante toda a estadia. Esses também devem ser investigados.
Agora, precisamos também entender porque o governo foi pego de surpresa. Lula estava visitando Araraquara. Forças de segurança deixaram o presidente da república desinformado sobre este ataque orquestrado? Dino cobrava a dissolução dos acampamentos bolsonaristas, e Múcio pedia paciência para que se debandassem sozinhos. Quem será responsabilizado?
Até agora não temos noção do nível da depredação, das perdas. Prédios, a gente reconstrói, reforma. Mas e as obras de arte, mobiliários, vitrais? Tudo perdido. E ainda se dizem patriotas? Atacando os símbolos do Brasil?
Cristian de Paula Jr é professor de história e mestre e doutorando em História da Política pela UFG