Por Elizeth Araújo
O brasileiro nem alcançou um nível satisfatório de participação política e já acumula decepções capazes de desiludir a mais idealista das criaturas. Se no senso geral, o sentimento pela política já vinha definhando, dá para imaginar como estão a cabeça e o coração dos goianos diante desse tsunami de denúncias trazidas pela Operação Monte Carlo. São mais de 60 dias de reportagens em jornais impressos, na TV, no rádio e no jornalismo digital. Já são cerca de duas milhões de citações no Google. A cada minuto, o bombardeio de informações invade mentes, olhos e corações dos eleitores e causa muitos estragos.
A avalanche de lama deixou aquela sensação de orfandade, traição, desconfiança, decepção e tristeza. Esses e outros sentimentos são visíveis, principalmente nos eleitores do senador Demóstenes Torres (DEM). A quantidade de representantes políticos que quiseram tirar e tiraram vantagem do dinheiro de jogos ilegais e da influência de Carlos Cachoeira não para de crescer no noticiário. O senso geral é que não sobrou ninguém. Não há em quem confiar. Está tudo perdido e não há luz no fim do túnel.
Não é bem assim. Primeiramente, o posicionamento de vítima do eleitor brasileiro não cabe no nosso modelo eleitoral. Pesquisas recentes mostram que a maioria dos brasileiros condena atos de corrupção ou atos ilícitos dos políticos, mas faria o mesmo se tivesse oportunidade. Nos processo sucessório o político não venderia votos se não houvesse comprador. Há eleitor que troca voto por qualquer benesse, até as antigas botinas ainda entram nas barganhas.
Então é tudo culpa do eleitor? Não. É culpa de todos, inclusive da imprensa que dedica muito pouco do seu espaço para contribuir com a conscientização deste às vezes coitado, às vezes aproveitador-eleitor. Nós, jornalistas da área de política, preferimos revelar a guerra de bastidores entre grupos de poder. Quem está armando pra cima do outro, quem levou vantagem, quem tem mais poder de fogo eleitoral para vencer o próximo embate. A fofoca política é o que rende audiência. Semelhante às notícias de violência, a corrupção vem sendo banalizada.
Nas escolas, as crianças não tem acesso à história, ao processo político brasileiro. Mal sabem que a Dona Política é uma Senhora do Bem, que pode trazer benefícios coletivos e despertar sentimentos republicanos se estiver bem acompanhada Não! O que os alunos sabem é que a Dona Política é sinônimo de roubalheira, corrupção, vantagens para poucos protegidos e por aí vai. Quando se fala em ensinar Política para crianças o que se ouve é chacota, desdém. Pregar a honestidade na gestão pública soa utópico, ridículo e até, vergonhoso. É uma cultura entranhada nas mentes.
As campanhas eleitorais estão cada vez mais caras e quem delas participa não quer ganhar apenas pelo trabalho que executa. Muitos querem receber o que nunca receberam numa vida inteira de trabalho. Alguns até chegam a enriquecer. Todos querem seu pedacinho de vantagem. E de onde vêm tantos recursos? De financiadores nada preocupados com o futuro governo ou com gestão pública. De olho na alta lucratividade de suas empresas praticam a política do toma-lá-dá-cá.
Agora, a operação Monte Carlo chegou naquele momento que todos esperavam. Instalaram a CPMI e a sociedade já grita: “vai acabar em pizza”. Concordo e discordo, porque independente do resultado desta investigação de “faz de conta”, a vergonha pela qual estão passando todos esses políticos envolvidos neste escândalo é a pior das punições. É uma execração pública que eles procuraram com as próprias mãos. E como diria Cartola “Quando notares estais à beira de um abismo. Abismo que cavastes com teus pés”. Infelizmente, esses não são casos para segunda chance. O que resta é mudar de sintonia e encarar esse momento de crise como uma oportunidade.
De que jeito? Ao invés de atirar pedras, reclamar, condenar e repetir que está tudo perdido, cobrar uma reforma política já seria um bom começo. Outras vacinas: não vender o voto. Não querer tirar vantagem em tudo por meio dos políticos. Não alimentar o crime. Ensinar às crianças que Política não é uma coisa suja e que pode ajudar a todos se cultivarem o pensamento coletivo. Parece ingenuidade idiota, mas não há outro caminho senão este, inclusive para os políticos. Se cada eleitor fizer a sua parte, quem sabe, não por consciência, mas por vergonha e cobrança, políticos vão se lembrar do transporte público ineficiente ao invés de andar de jatinho com dinheiro público. Vão se preocupar em comprar luvas, gases e medicamentos para os hospitais ao invés de tomar vinho francês. Uma coisa é certa. Reclamar, tripudiar e só lamentar não é atitude de um povo que quer solução. Até as guerras foram vencidas com atitude. Os goianos devem isso sim, juntar os cacos, reconstruir a esperança e dar exemplo ao Brasil.
Elizeth Araújo é jornalista e Diretora da Senhora Comunicação – @elizetharaujo