Elder Dias é jornalista e publicou esse artigo no http://espnfc.espn.uol.com.br/goias
Hélio dos Anjos chegou ao Goiás como uma novidade em 1995. Um treinador-aposta. Vinte anos atrás, montou um time relativamente modesto e interessante para a Série A, à qual o Goiás retornava depois de seu primeiro rebaixamento. Daquela campanha, a lembrança de Sandoval, Magrão e de uma derrota amarga e inesquecível para o Botafogo de Túlio.
Desde então, o treinador tinha voltado ao clube três vezes: de 1999 a 2001, entre 2001 e 2002 e entre 2008 e 2010. Não dá para negar que ele “mexe” com o elenco das equipes que treina e cria certa identificação: não à toa vários outros times também o contrataram tantas vezes – Fortaleza (3 passagens), Sport (3), Vitória (4) e Juventude (3).
Mas ocorre também que trazer um treinador apenas por causa de seu passado é uma temeridade. Em 2010, quando saiu, e depois, quando voltou para dirigir o Atlético por duas vezes, era unanimidade na imprensa esportiva e na torcida esmeraldina que ele era um profissional ultrapassado.
Bom, alguns acham que técnico não perde qualidade ao ficar velho, ao contrário de jogadores. Eudiscordo. Todo treinador de futebol que fica velho também se deteriora.
Só que o “velho” de um profissional tem a ver com a cabeça e não o corpo. Não é nada físico. É intelectual. Um técnico de futebol fica velho quando deixa de se reciclar, quando não se atualiza, quando não troca antigos hábitos que já não funcionam mais. Aí, sim, seria melhor se aposentar ou mudar de ramo.
Tite é um profissional que vai demorar a ficar velho. Depois de sair do Corinthians, em 2013, tirou um ano da vida para aprender inglês e conhecer como é o futebol na Europa. Reciclou-se naquilo que faz e voltou para o antigo time ainda mais competente do que havia saído. E seu time é o maior favorito para ganhar Libertadores, Campeonato Brasileiro e o que vier pela frente.
O que dizer de Hélio dos Anjos nos últimos anos? Dirigiu quatro times nos últimos quatro anos. Atlético Goianiense, em 2011 e 2012; Figueirense em 2012; Fortaleza, em 2013; Atlético, de novo, em 2014; e estava no Caxias, ameaçado de rebaixamento no Gauchão, havia três semanas.
Goiás ECHélio dos Anjos ficou mais tempo desempregado do que atuando nos últimos quatro anos. Será que se reciclou?
Nesse intervalo de quatro anos, Hélio esteve muito mais tempo desempregado do que atuando. Como ele aproveitou esse tempo livre? Progrediu ou regrediu? Fez cursos, intercâmbios? Investiu na própria carreira? Reviu seus conceitos?
Não sei, mas acho difícil. O que se sabe de Hélio dos Anjos fora dos CTs, da área técnica e das coletivas é que é um próspero empresário na área da construção civil. Tem negócios em Goiânia, inclusive.
Se eu fosse repórter de clube, a primeira pergunta que faria ao novo treinador esmeraldino: “Professor Hélio dos Anjos, como o sr. se reciclou em sua carreira nos últimos anos?”.
Diz uma frase sábia, muito utilizada em palestras motivacionais (e o nosso técnico fala muito em motivação), que não se obtém resultados diferentes repetindo os mesmos procedimentos. Repetir Hélio dos Anjos vai trazer o que ao Goiás?
Como torcedor, vou esperar os resultados. Torcer para ver um Hélio dos Anjos diferente: criativo, inovador, corajoso, que priorize fazer o time jogar futebol e não segurar placar. Que ele seja hoje o anti-Hélio dos Volantes.
Como analista, tenho de avaliar os últimos trabalhos. Depois do Goiás em 2009, nunca mais Hélio conquistou um título; nos últimos quatro anos, quatro times, nenhum da Série A.
Mais uma vez, a diretoria esmeraldina – agora com um toque claro da personalidade do diretor de futebol Harlei – deixa claro que não liga para a opinião do torcedor. Pior: investe em um profissional que, depois de 20 anos, voltou infelizmente a ser uma aposta.
Quem perde é o Goiás.