14 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/09/2017 às 12:35

Geração Hand Spinner

Sou educador há alguns anos e, como educador, não consigo conceber a educação sem um processo contínuo de reflexão. Educação sem reflexão não existe, caso contrário teríamos outro processo, inculcação talvez, mas, sem dúvida, não teríamos educação, no sentido etimológico do termo. Educere, em Latim, quer dizer “educar, instruir” e também “criar”. Essa palavra era composta por ex, “fora”, e ducere, “guiar, conduzir, liderar”. Parece que eles tinham a ideia de que, introduzir alguém ao mundo, através da instrução, era como “levar uma pessoa para fora” de si mesma, mostrar o que mais existe além dela.

Partindo dessa premissa, quero refletir sobre um objeto que tem invadido as salas de aulas Brasil a fora, o enfadonho hand spinner. O nome Hand Spinner significa “girador de mão”, sendo que, hand significa “mão” e spinner, “girador”. O brinquedo, que ao despeito de comprovação científica, tem sido usado como antisstresse. Além disso, o objeto tem sido vendido como um brinquedo que ajuda a melhorar a concentração e o foco, especialmente em crianças autistas.

Não tenho a devida leitura para afirmar se as informações acima são verdadeiras ou falsas. Relatei algumas observações obtidas por meio de uma pesquisa rápida na rede mundial de computadores. Bem, agora vou me aventurar em um campo mais perigoso e não por isso menos desafiador: refletir sobre o porquê de esse brinquedo fazer tanto sucesso. O hand spinner é um produto da sociedade atual. Ele não é como o ioiô, por exemplo. Aquele objeto amarrado a um barbante que vai e volta, sendo assim também o seu sucesso momentâneo. O spinner também não tem relação com outro brinquedo famoso da década de 80, o cubo mágico. Cubo de Rubik, também conhecido como cubo mágico, é um quebra-cabeça tridimensional inventado pelo húngaro Ernő Rubik em 1974. Originalmente foi chamado o “cubo mágico” pelo seu inventor, mas o nome foi alterado pela Ideal Toys para “cubo de Rubik”. Nesse mesmo ano, ganhou o prémio alemão do “Jogo do Ano” (Spiel des Jahres). Ernő Rubik demorou um mês para resolver o cubo pela primeira vez. No spinner não há nada para ser resolvido. O atrativo da peça é o fato de que, ao segurá-lo e rodá-lo entre os dedos, o mesmo ficará, pasmem, rodando. Isso mesmo, simplesmente rodando.

O hand spinner reflete um vazio de geração, foi pensado para uma geração que não pensa, daí, talvez, o sucesso da peça. Ela não exige, daquele que o tem, nenhum exercício intelectual. E quando falo isso, não digo com pedantismo, mas por entender que nem todo brinquedo tenha que ser desafiador e instigante. Ou seja, brincar, o divertir-se não precisa, necessariamente, ser educativo, porém não pode deixar de ser prazeroso. Bem, o spinner, ao que me parece, não está ligado à sensação de prazer, mas sim a alienação constante de uma geração que decide por opção não pensar.

Refletir sobre por que essa geração spinner se recusa a pensar, penso ser o grande desafio posto ao momento. Instigar nos jovens a curiosidade, a reflexão, o pensar deveria ser uma das funções da nossa escola. Contudo não é isso que ocorre, a enfadonha escola, que coloca seus alunos sentados, em filas, fazendo cópias de livros didáticos mal elaborados, por editoras que visam apenas o lucro ao vender esses lixos ao governo, é a responsável pelo sucesso do hand spinner.

Se, ao invés de ficarem girando spinners em sala de aulas ou nos tempos livres, os alunos tivessem a companhia de um bom livro, estivessem ouvindo uma boa letra, ou mesmo assistindo um bom filme seria possível que tivéssemos esperança em dias melhores. Enquanto esse dia não chega, se é que um dia chegará… resta-nos girar, girar e girar e não sair do lugar.

Edergênio Vieira é poeta, educador na Rede Municipal de Ensino de Anápolis.