Liberdade de expressão nunca será liberdade para agredir, para ofender, para espalhar mentiras. Ontem, o que o Brasil assistiu em rede nacional foi um presidente da república subestimando a inteligência, a consciência e a memória do povo brasileiro. Bolsonaro não tem desvio cognitivo, ele é mau-caráter e tem noção exata da gravidade de todos os crimes que cometeu no exercício do seu mandato.
Imaginem comigo: um presidente da república em uma live fazendo chacota, imitando uma pessoa morrendo por asfixia, por falta de oxigênio, enquanto quase 700 mil famílias perderam seus familiares pra Covid-19. Isso tudo ao vivo, gravado e transmitido. Aí, em entrevista, ele nega e acusa o jornalista de mentir fazendo uma afirmação sobre algo que está documentado e registrado.
Pensem comigo nos milhões de nordestinos que viram, durante o governo Lula, a chegada da água por conta da transposição do Rio São Francisco, da energia elétrica por conta do Luz para Todos, ver o atual presidente, em rede nacional, afirmar que foi ele quem levou água para estas regiões.
O presidente da República, que semana passada partiu pra cima de um youtuber, que já xingou ministros do supremo de “Canalha” e “Imbecil” fala que nunca agrediu verbalmente ministros da suprema corte. O mesmo presidente da república que participou, ativamente e presencialmente, de atos contra democracia, pró-fechamento do Congresso e do Supremo, agora afirma que não fez nada disso.
Eu, nos mais de 40 anos de luta política e trajetória, nunca havia visto algo tão cruel e criminoso em plena democracia. É como um ladrão que pula o muro da sua casa para roubar, é filmado por todos os ângulos possíveis pela câmera de segurança, é pego em flagrante pela polícia com objetos roubados, mas diz que não roubou e que não era ele nas filmagens. Diz até que não ele que está ali naquele momento. Maluco, não?
Não estamos aqui discutindo filosoficamente o conceito de mentira e verdade. Estamos falando sobre fatos, sobre acontecimentos, protagonizados e publicitados pelo próprio presidente da República, que agora nega e debocha.
Fazendo uma analogia ao criminoso que nega o crime mesmo diante das provas, é como se Bolsonaro fosse o ladrão que pula o muro da casa de outra pessoa, a diferença é que a casa, neste momento, corresponde a um país continental como o Brasil, que pede socorro com um criminoso fazendo mais de 200 milhões de cidadãos como reféns de seus erros.
Marina Sant`Anna é advogada, ex-deputada federal, ex-vereadora de Goiânia, ex-presidenta do PT de Goiânia e, atualmente, é candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores em Goiás.