01 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 16/05/2022 às 10:32

Estabilidade nas pesquisas: quantas horas de trabalho para comprar um bigmac?

Divulgação
Divulgação

O cenário das pesquisas eleitorais continua relativamente estável. Em uma pesquisa ou outra, um candidato ou outro aparece meio ponto abaixo, ou acima, do que na pesquisa anterior. Há 3 dias saiu pesquisa da Genial-Quaest que reafirma a tradição: desde a eleição de Collor até as mais recentes, quem está na frente está mostrando que, depois de 3 anos de qualquer governo, houve um desgaste e se quer trocar de presidência, ou não houve desgaste e não se quer trocar. A escolha é sempre pelo viés econômico, Para 73%, a economia piorou no último ano. Depois de 3 anos, sua qualidade de vida (econômica) melhorou ou diminuiu? A partir disto, se tem uma escolha, acredito. Independentemente da facada, Bolsonaro já estava a frente de Hadad, e ganharia a eleição.

Esta estabilidade ilustra a percepção generalizada de que Bolsonaro não progride, não apresenta benefícios, está estagnado. Lula, com 46% no primeiro turno e Bolsonaro com 29%, é uma vantagem muito considerável. Ciro apresenta 7%, Dória com 3%, Simone Tebet está com 1% e Luciano Bivar com 0%. 6% optam por branco ou nulo, e 3% julgam que ainda não sabem. O resultado já está definido, não tem muito o que se fazer. Bolsonaro teria que produzir um milagre, para mudar o quadro drasticamente. Isso não é impossível, como expliquei no texto de semana passada.

O governo acabou de trocar o Ministros de minas de energias. Isso não alterou o mercado, mesmo ele sendo puramente psicológico. As ações da Petrobrás subiram, o inverso do que ocorre quando, geralmente, se tem uma intervenção. Por outro lado, estamos recebendo constantemente a notícia da inflação, que poderá acumular mais de 12% ao ano, derretendo o dinheiro de todo mundo. E a classe trabalhadora não tem meios de se proteger disso, ao contrário da classe média, que, certamente, irá comprar títulos. Para os trabalhadores, o que existe é empréstimo, isto é, ainda mais endividamento.

O consumo está nitidamente diminuindo. Quantas horas de trabalho devemos ter para comprar um big mac¿ A energia vem mais cara, a água também. Nós trabalhamos mais, dormimos menos. Temos menos horas de lazer. Enquanto isso, Bolsonaro contempla a presidência. Isso mesmo, contempla. De vez em quando, ele começa a protestar contra o governo, como se ele não o fosse. Protesta contra a Petrobrás, como se ela fosse autônoma, e ela não é. Ela é parte do governo dele, oras!

Como já discutido aqui, em textos anteriores, o governo é maioria nas ações de controle da companhia. Então ela é dirigida, sim, pelo governo. Não intervir na Petrobrás é uma política, não uma proibição. Então ele poderia intervir, sim! 3 anos no governo e não se apresentou uma política de energia. O máximo que se fez foi trocar, vez ou outra, o presidente da companhia. Sem programa, sem planejamento, sem projeto a curto, médio e longo prazo. Esse é o grande problema.

O Presidente é um militante de direita. Atua eternamente contra a esquerda, como se ela ainda estivesse no poder. Ele atua como se fosse oposição, e não situação. A relação é invertida. A partir desta inércia, o exercício da presidência é vendido ao Centrão. Estes, sim, fazem o que bem entendem, enquanto Bolsonaro aparece polemizando na mídia, que é o que sabe fazer. Enquanto o Presidente pergunta a uma pessoa negra apoiadora, quantas “arrobas” ele pesa, em uma brincadeira racista. Sem apoio de classe, sem apoio do mercado, fantoche do exército. Afinal de contas, Bolsonaro é mesmo suficientemente capaz de articular um golpe? Fica aí a pergunta.

Cristian de Paula Sales Moreira Junior é professor de História e mestre e doutorando em História Política pela UFG.

A opinião deste artigo não necessariamente reflete o pensamento do jornal.