Lula não é canalha. Muito menos, “o maior canalha do país”, como afirmou, em discurso durante evento do PSDB, o governador do Estado em que vivo e nasci, Marconi Perillo. Não, ele não é canalha, pelo menos, não acredito que seja na opinião da Dra. Sarah (sim, doutora).
Ela é médica formada em 2010, pela primeira turma de medicina do Prouni. Paraense, nascida no interior do Estado, em Xinguara, filha do trabalhador Rural “Seu José Eduardo” e da dona de Casa “Luzdalma”, ela afirmou, na cerimônia em que foi homenageada pela conquista, que pretendia “salvar vidas onde for preciso, seja em uma comunidade remota na selva amazônica, ou fazendo parte da Missão Brasileira no Haiti”. Reportagem do G1, de 2009, mostrou que o Prouni fez a taxa de alunos com emprego crescer em 80%.
Lula não deve ser canalha também na opinião da antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo, que testemunhou, no semiárido do país, uma revolução feminista nascida a partir do benefício do Bolsa Família. Com o direito de administrar a própria renda, as mulheres experimentaram, pela primeira vez na vida, a autonomia. E até a vaidade.
“Quando o marido vai comprar, ele compra o que ele quer. E se eu for, eu compro o que eu quero”, relatou a Dona Edineide, à Revista Marie Claire. “Elas passaram a comprar Danone para as crianças. E, a ter direito à vaidade. Walquiria testemunhou mulheres comprarem batons para si mesmas pela primeira vez na vida. Finalmente, tiveram o poder de escolha. E isso muda muitas coisas”, traz a reportagem, de dezembro do ano passado.
Lula, o ex-operário, chamado de Sapo Barbudo na década de 80, eleito duas vezes presidente pelo voto direto, reconhecido internacionalmente como um dos maiores líderes do século na América Latina e por tirar mais de 28 milhões de brasileiros da pobreza, não é canalha.
Não acredito que seja, pelo menos, na opinião do agricultor João Lourenço Dunga, que, agora, no interior do Pernambuco, consegue produzir o ano todo, mesmo na seca. “Antes aqui só era caatinga e pedra. Agora tem fartura”, comemorou o agricultor, em reportagem do Jornal Nacional.
A matéria mostrou que já são mais 460 mil cisternas, construídas em parceria com o governo federal e os estaduais, que diminuem o impacto da seca no nordeste para o produtor.
Lula foi chamado de “canalha” pelo governador de Goiás, eleito, pelo voto do povo, três vezes para comandar o Estado em que nasci, e mais uma vez, para representar o povo goiano no Senado. A escolha da maioria dos goianos por Marconi precisa ser respeitada. E eu respeito. Foi democrática. Democracia, aliás, possível graças a homens como Lula, um dos principais nomes das Diretas Já e que, com exceção da mais recente, disputou todas as eleições diretas para a presidência. Depois de derrotas, venceu duas delas.
Esse Lula, não é canalha. Não parece ser, ao menos, para os 52.793.364 eleitores que escolheram ele, no segundo turno de 2002, contra o tucano José Serra, para comandar o país. Bom lembrar que desse total, 1.424.236 são de votos goianos, que também o escolheram, à época.
Para essas pessoas – a não ser que elas tenham mudado radicalmente de ideia – Lula não é canalha. Também não o é para 58.295.042 brasileiros que decidiram pela reeleição dele em 2006. Destes, foram 1.485.280 de goianos.
Por fim, Lula também não é canalha para a Dona Sandra Mara Borges da Silva, empregada doméstica desde a adolescência em Anápolis – profissão que tem até hoje – minha mãe, que viu o filho mais velho se formar em jornalismo, por meio de uma bolsa do Prouni, em 2010. Lembro-me, como hoje, dela me dizer, dias depois, que, depois de ver a minha colação de grau, não conseguiu dormir. Passou a noite toda lembrando da formatura.
Com todo o respeito, senhor governador Marconi Perillo, mas, se para você, Lula é um canalha, o senhor não fala em nosso nome.
Por Wellington Borges – Jornalista e goiano.