30 de dezembro de 2025
Opinião
Publicado em • atualizado em 30/12/2025 às 18:31

Eleições proporcionais: O erro histórico das pesquisas para deputado

Luis Carlos Bordoni
Luis Carlos Bordoni

A pesquisa eleitoral para deputado precisa, acima de tudo, considerar o sistema proporcional, onde o sucesso do candidato depende tanto dos votos individuais quanto do desempenho do partido ou coligação. Isso torna o processo muito mais complexo e exige uma abordagem específica.

Começando pelo erro – Pelo que temos visto por aí e aqui, o primeiro e mais recorrente erro nas campanhas proporcionais é tratar a pesquisa para deputado como se fosse uma disputa majoritária. Não é. Diferente das eleições para prefeito, governador ou presidente, a eleição para deputado estadual ou federal depende não apenas do desempenho individual do candidato, mas, sobretudo, do desempenho do partido ou da coligação.

Cálculo – Em eleições proporcionais, o coletivo pesa tanto quanto o indivíduo. O cálculo do quociente eleitoral, a distribuição das vagas entre as legendas e a disputa interna dentro do próprio partido mudam completamente a leitura dos números. Ignorar isso leva a diagnósticos equivocados e, muitas vezes, a falsas promessas de vitória. Quem é – Uma pesquisa bem feita para deputado precisa ir além da simples intenção de voto.

Ela deve medir o grau de conhecimento do candidato, identificar quais temas mobilizam diferentes segmentos do eleitorado, mapear prioridades regionais e compreender a relação do eleitor com partidos e siglas. Esse cuidado é essencial, sobretudo porque uma parcela significativa do eleitorado chega ao período eleitoral sem candidato definido para cargos proporcionais. Sem esse mapeamento, a campanha atua no escuro.

O valor dos dados – Os dados coletados não servem apenas para “mostrar números”. Eles permitem estimar a real chance de eleição a partir de simulações dentro do partido, definir mensagens mais eficazes, monitorar adversários diretos — inclusive os da mesma legenda — e direcionar melhor tempo, recursos e presença territorial. A pesquisa também ajuda a ajustar o discurso às demandas locais, evitando desperdício de esforço e comunicação fora de foco.


Objetivos claros – Para isso funcionar, é indispensável clareza de objetivos. Cada pergunta precisa responder a uma finalidade concreta: medir intenção de voto, avaliar o reconhecimento do nome, testar propostas ou traçar o perfil do eleitorado. A amostra deve representar fielmente o universo eleitoral, com número adequado de entrevistas, margem de erro conhecida e nível de confiança estatisticamente válido.

Tipos de pesquisa – Também é fundamental compreender que nem toda pesquisa tem o mesmo papel ao longo da campanha. Pesquisas quantitativas oferecem a fotografia do cenário; as qualitativas revelam motivações, rejeições e linguagem; e os levantamentos de acompanhamento ao longo do tempo permitem observar tendências e corrigir rumos. O erro está em escolher uma e abandonar as demais.
Coletando dados – Por fim, o método de coleta — presencial, telefônico ou digital — deve ser definido conforme o perfil do eleitorado e a realidade regional, sempre com processos padronizados e transparentes, inclusive para eventual fiscalização da Justiça Eleitoral.

O que não pode continuar acontecendo é aplicar, nas pesquisas de eleições proporcionais, a mesma lógica e metodologia usadas nas disputas majoritárias. Isso simplesmente não funciona. Em pesquisa de eleição proporcional, quem ignora o partido, o sistema e o coletivo, erra o diagnóstico — e quase sempre erra o resultado.

Luiz Carlos Bordoni, paulista de Monte Aprazível, que se tornou um comunicador admirado na televisão, rádio e jornais do estado de Goiás. Filho de Aristides Bordoni e Maria Zapolin cursou Ciências Jurídicas e Política, radicando-se em Goiânia na década de 1970.

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