Temos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a preparação dos cidadãos para integrar o mercado de trabalho por meio de um processo de aprendizagem já aplicado no país e conhecido por Educação Profissional e Tecnológica (EPT). Partindo dessa premissa e olhando para a realidade socioeconômica, o investimento nessa modalidade torna-se imprescindível para o aumento da competitividade do país, para a retomada do crescimento da economia numa velocidade maior e para a criação de modernas e melhores oportunidades de emprego.
O papel da EPT, logo, está ligado à construção de uma sociedade dentro das condições de sua sobrevivência e às necessidades do mundo do trabalho que, nos últimos tempos, passa por uma escalada tecnológica. A qualificação técnica e satisfatória de jovens e adultos por meio da EPT ganha relevância neste momento em que uma série de mudanças e adaptações chegam às empresas, exigindo dos profissionais e trabalhadores respostas condizentes ao que alguns denominam de era digital.
Investir em educação para ciência e tecnologia profissionalizante, de efeitos de curto e médio prazos na vida dos cidadãos, envolvendo, principalmente, a juventude, é ter visão tanto no presente quanto no futuro, assegurando a formação de perfis profissionais específicos não somente para operacionalizar e gerar resultados, mas também para compreender os fundamentos científicos, tecnológicos e produtivos presentes na sociedade, e, ainda, capazes de empreender, de forma criativa, inovadora e disruptiva.
O contexto confere contornos mais refinados à importância da educação profissional e tecnológica. Nele é previsto que novas profissões se consolidem dentro de um curto espaço de tempo. De acordo com o mais recente relatório anual do Fórum Econômico Mundial, o The Future Jobs, divulgado em 1º de maio deste ano, até 2027 novas profissões surgirão e outras têm grandes chances de serem extintas. Conforme o documento, 50% das organizações esperam que a inteligência artificial gere crescimento de empregos e 25% esperam que ela leve à perda de empregos. O Fórum ainda espera que 23% dos empregos mudem até 2027, com 69 milhões de novos postos de trabalho sendo criados e 83 milhões eliminados.
Tal expectativa traz, portanto, a integração dos mundos físico e digital por meio das novas tecnologias, como a internet das coisas (IoT), inteligência artificial (IA), robótica, automação, ‘big data’, soluções autônomas de mobilidade urbana e linguagens de computador. Assim, os recursos humanos precisarão de alta capacidade de planejamento, interpretação e criação. O ensino técnico e aplicado, experenciado, permite que os estudantes sejam protagonistas do futuro, podendo optar pelo caminho profissional que quer seguir.
Os desafios são grandes para a administração pública, escolas, educadores e sociedade. Em tramitação no Senado, o Projeto de Lei 6.494/19 visa construir uma Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, trazendo uma proposta para que a União, em colaboração com os estados e o Distrito Federal, formulem e implementem uma política para essa modalidade de ensino, articulada com o Plano Nacional de Educação. Um processo foi iniciado com a finalidade de alinhar o sistema educacional às necessidades do mundo do trabalho, aprimorando ações em prol de uma educação que o Brasil sabe fazer e tem condições de sustentá-la. Essa política dará diretrizes para que estados expandam a EPT com qualidade, melhorando a oferta do ensino, criando mecanismos de avaliação, aproximação com o setor produtivo, aproveitamento das atividades pedagógicas, inserção dos egressos em vagas de emprego, entre outros pontos, que ajudarão a garantir formação adequada à juventude, parcela populacional que enfrenta a falta de oportunidade de estudo e emprego e preparo para o mercado de trabalho.
O que se faz notório no momento é chamar ainda mais a atenção da opinião pública para a grande importância da EPT no país. Entendemos que a educação deve estar de mãos dadas com a ciência e a tecnologia. É urgente preparar jovens e adultos para um mercado em constante e ampla transformação em diversos aspectos. A educação profissional e tecnológica deve ser considerada fator de sustentabilidade e competitividade, transformadora de vidas, e, portanto, investimento para hoje e amanhã.
Moisés Cunha, é diretor-geral do Centro de Educação, Trabalho e Tecnologia da Universidade Federal de Goiás (CETT-UFG)