27 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2020 às 00:02

Disputa eleitoral em Goiânia está aberta, analisa Cileide Alves

Pesquisa Serpes/O POPULAR de 18 a 20/06/2004
Pesquisa Serpes/O POPULAR de 18 a 20/06/2004

(Texto originalmente publicado no blog da Cileide Alves(*), com o título: Pesquisa Serpes | Quadro eleitoral está aberto em Goiânia)


A julgar pelo resultado da primeira rodada da pesquisa Serpes/O POPULAR 2016, divulgada domingo (5), a eleição em Goiânia encontra-se aberta. Boa parte do eleitorado da capital está entre dois candidatos: o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB), líder com 24,8% das intenções de voto, empatado com o deputado federal e delegado Waldir Soares (PR), com 22,4% (a margem de erro é 4,8 pontos porcentuais para mais ou para menos).

Atrás de Iris e de Waldir aparecem Vanderlan Cardoso (PSB), com 11% e Adriana Accorsi (PT) 6,4%. Os demais candidatos seguem bem na rabeira: Giusepe Vecci (PSDB), 3%; Francisco Júnior (PSD), 2,4%; Djalma Araújo (Rede), 0,8%; Flávio Sofiati (PSOL), 0,6% e Alexandre Magalhães (PSDC), 0,4%.

Iris está prestes a disputar a prefeitura pela quarta vez, neste ano em que completará 58 anos de carreira e às vésperas de fazer 83 anos de idade. Um político, portanto, que já mostrou tudo a seu eleitor. O deputado Waldir é um político sem currículo. Delegado da Polícia Civil em Goiânia, tornou-se conhecido com uma campanha populista por meio das redes sociais, defendendo “tolerância zero” à criminalidade, tanto na primeira eleição que disputou e perdeu, para a Câmara dos Deputados em 2010, quanto na campanha vitoriosa em 2014, eleito como o deputado federal mais votado de Goiás, com 274.626 votos.

O segundo lugar do delegado Waldir na pesquisa é fruto de sua acertada estratégia de marketing de investimento em redes sociais. Waldir tem o hábito de gravar vídeos no celular de sessões no Congresso e alimentar o debate entre seus seguidores. Essa estratégia deu certo na eleição proporcional. O delegado tem mais de 640 mil seguidores em sua página no Facebook, fãs em todas as faixas de idade e de renda, conforme mostra a pesquisa Serpes.

Mas seguidor de rede social elege prefeito? É muito comum ouvir pessoas questionando seu equilíbrio emocional, sua capacidade de liderança e de diálogo e de conseguir falar para todo o público de Goiânia, e não apenas para o grupo que o admira na internet. Quem faz uma consulta em suas páginas no Facebook, em seu site e em seus pronunciamentos não encontra um discurso coerente e planejado de um candidato a um cargo majoritário, no caso a prefeitura de uma capital com mais de 1,4 milhão de habitantes.

Na pesquisa Serpes/O POPULAR realizada em 2004, em período próximo ao atual (entre 18 e 20 de junho), 58,83% dos eleitores não sabiam em quem votar para prefeito na consulta espontânea. Os indecisos atualmente são 65,1%. Isso deve à indefinição de Iris quanto a sua candidatura, pelo desconhecimento da capacidade eleitoral do delegado Waldir em uma disputa majoritária (o deputado federal Sandes Júnior, que tem perfil parecido, nunca ganhou uma eleição majoritária), pela crise política brasileira que distanciou os eleitores ainda mais dos políticos entre outros fatores. Em outras palavras, porque o quadro eleitoral encontra-se aberto.

Naquela pesquisa de 2004, Iris liderava com 25,17%, seguido do prefeito Pedro Wilson (16,83%) e este com o deputado federal Sandes Júnior (PP) em sua cola (15%). A rejeição de Iris era de 25,17%. Naquele ano, ele vinha de duas derrotas eleitorais para Marconi Perillo (1998 e 2002), era um político pouco conhecido entre os eleitores com menos de 35 anos de idade, e enfrentava um grande desgaste político fruto da desconstrução de sua imagem nas duas campanhas de Marconi.

Apesar desse quadro adverso, Iris apostou suas fichas na eleição de 2004 para reassumir o leme de sua história, que vinha sendo reescrita por seus adversários. Ele candidatou-se para recuperar a caneta e ele próprio escrever os próximos capítulos. E conseguiu. Passou para o segundo turno com 47,47% dos votos válidos, contra 23,08% do prefeito Pedro Wilson, e o venceu no segundo turno por 56,71%.

Iris consolidou a recuperação de sua história política em 2008, quando se reelegeu no primeiro turno com 74% dos votos válidos, índice nunca alcançado por nenhum candidato pelo menos depois da volta das eleições diretas para prefeito das capitais, em 1985. Fez as pazes com seus eleitores e completou 50 anos de carreira, em 2008, exercendo mandato de prefeito da capital e novamente tornou-se muito popular.

Todavia, ele renunciou à prefeitura de Goiânia em 2010, no auge de sua popularidade (seu governo tinha 70% de aprovação), entregou o cargo a seu vice-prefeito, Paulo Garcia (PT), e perdeu duas eleições consecutivas para governador para o mesmo Marconi. Iris agora terá de prestar contas de seus atos ao eleitor de Goiânia e enfrentar as demais adversidades. Ele está coberto de razão quando disse ao jornalista Jarbas Rodrigues Jr., na colunaGiro do POPULAR, neste domingo (5), que esta não será uma“decisão pessoal fácil”. E desta definição dependem os demais candidatos e, claro, a eleição deste ano em Goiânia.

Não se sabe se o primeiro colocado nesta pesquisa será candidato e, em sendo, se ele conseguirá se renovar para sua enésima campanha e se adaptar a uma nova realidade social. O segundo colocado ainda não demonstrou que consegue fazer uma campanha majoritária e que saberá se portar como um candidato à altura de Goiânia e não apenas como mais um Sandes Júnior.


(*) Jornalista, especializada em política, e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás. [email protected]