28 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 28/10/2012 às 12:42

Deu na Tribuna do Planalto: A reforma e o dilema de Marconi

O governador Marconi Perillo (PSDB) confirmou para segunda, 29, a posse de dois novos secretários: o de­le­gado da Polícia Federal Joaquim Mesquita para Se­cre­taria de Segurança Públi­ca e a volta do deputado fe­de­ral Leonardo Vilela (PSDB) para a Secretaria de Meio Ambi­e­n­te. A posse de dois novos au­xi­liares deixa explicita a dificuldade que o governador tem enfrentado para fazer a ampla reforma administrativa que concebeu para os dois anos restantes de seu mandato.

Com dois anos de muitos desgastes – em parte pelos ajustes e dificuldades na administração e, posteriormente, pelo reflexo da Operação Monte Carlo –, o governador decidiu fazer uma ampla reforma em sua gestão. Trocar peças desgastadas nesse período e fazer mudanças nas pastas em que os titulares tiveram desempenho aquém do esperado. A ideia inicial era fazer trocas significativas.
Reforma administrativa é algo corriqueiro. Dificil­me­n­te um governo termina com a mesma equipe que começou. Em anos anteriores, o próprio governador Marconi fez inúmeras mexidas em seus governos, trocando auxiliares, mu­dando-os de posição, contemplando os partidos da coalisão que ajudou a elegê-lo e, sobretudo, fortalecendo a gestão.
Por que então hoje o governador Marconi enfrenta tamanha dificuldade para fazer algo tão simples, que ele mesmo já havia feito em anos anteriores?
Diferentemente dos governos passados, o tucano tem hoje uma base mais heterogênea e complexa. O governo está dividido em grupos, com interesses diversos, configuração formatada na eleição de 2010. Mesmo compondo a mesma gestão, os interesses quase sempre são divergentes. Em outras palavras: há internamente uma disputa grande por poder. E ninguém quer perder espaço para os rivais.
Nesse cenário, o secretario-chefe da Casa Civil, Vilmar Rocha (PSD), se negou a deixar o cargo. Marconi queria acomodar na pasta o atual secretário de Segurança Pública, João Furtado Neto – mesmo desgastado, o governador tem compromisso de mantê-lo no governo.
O tucano queria repassar a Vilmar a secretaria de Cida­dania, atualmente ocupada pe­lo deputado Henrique Ara­n­tes (PTB). A mudança também desagradou o pai de Hen­rique, o deputado federal Jovair Arantes (PTB).
Com o imbróglio, Mar­coni até aqui não conseguiu mexer na Casa Civil e na Cidadania. Também sofreu resistência para mudar a Saúde, a Cultura, entre outras pastas. Sim, Marconi enfrenta resistência até em trocar Antônio Faleiros , que sempre falou em deixar o governo. Em resumo: a reforma travou e está longe de ser a guinada que o tucano quer dar em seu governo.
Por mais que ninguém fale abertamente, as dificuldades enfrentadas por Marconi diante de seus próprios aliados só reforçam a fragilidade do próprio governo.
Questionados, os aliados reafirmam a confiança em Marconi (a reportagem acima mostra isso), o tem como candidato natural à reeleição, mas longe dos holofotes não hesitam em confrontá-lo diante de interesses particulares. Ou seja, os próprios aliados (e só eles) usufruem das dificuldades que minaram o governo tucano nesses dois primeiros anos.
Apesar dos conflitos, o governador Marconi não terá alternativa a não ser fazer a reforma que pretende e, mais que isso, necessita. Ou muda o governo – azeitando-o para o próximo ano, decisivo para suas pretensões futuras –, ou comandará cada vez mais uma gestão fragilizada pela divisão de seus auxiliares, ameaçando seu próprio projeto de reeleição.
Sem meias palavras: é a sobrevivência do projeto de poder do grupo tucano que está em jogo. Ou essa sobrevivência se sobrepõe aos interesses dos diversos grupos que se digladiam hoje no governo ou aumentará consideravelmente o risco de mais adiante os atuais grupos não terem mais motivo para tamanha rixa. E Mar­coni sabe disso.

(Texto publicado originalmente na edição 1.351, da Tribuna do Planalto )

 


Filemon Pereira é diretor de redação da Tribuna do Planalto