O Brasil assiste nesses meses uma onda conservadora na política, como resistência a movimentos eleitorais que apontam novos rumos para a região, com projeto voltado para uma visão mais socialista, com lideranças de esquerda. Se a Europa e Estados Unidos se mostraram assustados, a tradicional elite nacional ficou perplexa ao notar o ritmo daqueles que comandam os vizinhos, a exemplo do que passa a ocorrer nacionalmente – de apenas tímida inclusão social na divisão do bolo econômico. Contudo, os tempos atuais são outros para os latino-americanos, que observam um tsunami, que encobre os fatos regionais com avanço da representação dos mercados globais, regionalmente.
Por aqui o PSDB ganha importância como partido que se molda a uma proposta de abertura econômica, de modo a alavancar a economia nacional, considerando a necessária dependência do Brasil aos mercados e política internacional. Um assunto muito discutido, no passado, em que Fernando Henrique Cardoso foi protagonistas, como intelectual e depois político, da chamada dependência da América Latina sobre os grandes centros comerciais. Uma fórmula única de obter riqueza e desenvolvimento, que, no entanto, não teve consenso entre grupos políticos e acadêmicos. Ainda hoje, ao que se vê, a proposta está longe se abandonada, mas ao contrário, ganha defensores intencionados.
O candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, o tucano Aécio Neves, assume papel de personagem na trama política, na organização da política conservadora, em companhia de outras lideranças, de ultradireita. Nesta semana entrou em cena para deixar claro que a esquerda latino-americana está ultrapassada, sendo necessário mais abertura para o poder global. Na viagem frustrada à Venezuela cumpriu duas missões: a de enfraquecer o projeto político da petista Dilma Rousseff, nacionalmente, e acenar “modernidade” ironizando o esquerdismo “autoritário” de Nicolás Maduro, no comando do país venezuelano.
O roteiro não saiu como planejado, o de servir de imagem para as mídias brasileiras e internacionais ao lado da oposição na Venezuela, que por sua vez protagoniza a retomada de uma linha conservadora na nação vizinha. No entanto, mereceu tempo de jornais globais, de modo a elevar o tom das provocações contra a política de países anti-imperialistas.
Deste modo, o que não se revela explicitamente é que a proposta tucana – e adeptos de vários partidos brasileiros, inclusive parte significativa do PMDB, de Eduardo Cunha – é mesmo de defender a dependência do Brasil aos países de economia global, leia-se, sobretudo, Estados Unidos e Europa. Uma política que distancia o Brasil dos “vizinhos pobres e atrasados”, para abrir as portas para o neoliberalismo, que regionalmente se aproxima de Colômbia e Chile – que enfrentam resistências internas, porém pouco midiatizadas.
Em essência, ainda pode-se ler que a democracia pensada pela oposição latino-americana, a exemplo dos tucanos no Brasil (aqui se inclui o governo de Marconi Perillo em Goiás), é sinônimo de prioridade econômica de mercados. Não se trata de preservação de valores e culturas regionais, mas simplesmente, o desenvolvimento por si mesmo. Como resultado um sistema político já conhecido à direita, com apoio da ultradireita elitista que aponta para um Brasil imperial na região, como canal de transporte de riquezas para os mercados internacionais, em detrimento de decisões de nações inteiras, dirigida por poderes nacionalistas.
Nesta onda privatizante não estará somente estatais, mas as demais instituições, como justiça e educação, além de trabalho, renda e voto. Novidade? Nenhuma. Apenas a repetição de uma triste realidade política que, no conjunto, os brasileiros conhecem e uma maioria tenta desvencilhar, mas com retrocessos recorrentes movidos por investimentos em propaganda política em grandes mídias.
Antonio S. Silva é Jornalista, doutor pela Universidade de Brasília (UnB) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).