27 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 18/04/2022 às 11:08

“Custe o que custar”: o bolsonarismo em confronto com as instituições

Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil
Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil

Este foi um final de semana agitado para os bolsonaristas. A começar pelo caso Daniel Silveira, que se configura como um verdadeiro escândalo. Com tornozeleira eletrônica e tudo, ele foi a uma festa no Rio de Janeiro, que terminou em confusão: um homem foi espancado por policiais após uma discussão. Ele, que não teve nada a ver com o incidente, no entanto, saiu prejudicado porque ficou em evidência. Isto porque, segundo consta, o deputado mora em Petrópolis, onde cumpre prisão domiciliar, e tem licença apenas para ir a Brasília, onde trabalha como congressista. O fato de ter ido a festa, comprovado por imagens divulgadas na imprensa nacional, é um descumprimento à decisão direta do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Evidentemente, deve haver uma nova punição.

Este senhor, Daniel Silveira, manifestou que talvez será lançado ao Senado, com apoio do bolsonarismo, e frequentemente se mostra fiel ao Presidente da República, com vídeos e declarações à imprensa. E o bolsonarismo bate mesmo de frente com as instituições, tentando desmoralizá-las.

Outro exemplo disso é a motociata do Presidente, que aconteceu neste final de semana em São Paulo, e ocorrerá em Rio Verde, aqui em Goiás, na próxima quarta-feira dia 20 de abril, segundo noticiado pelo Jornal Diário de Goiás. Certamente este será o destaque nos noticiários do Estado.

Este evento, “Acelera para Cristo”, como é chamado, custou, por causa de todo o aparato de segurança que evidentemente deve acontecer para proteger a vida do Presidente, um milhão de reais. Além disso, gerou 34 km de congestionamento, e pessoas ficaram prejudicadas em utilizar a rodovia dos Bandeirantes para passar a Páscoa com a família, por exemplo.

O Jornal O Globo levantou que o empresário organizador do evento recebeu Auxílio Emergencial do governo, totalizando 5 mil e setecentos reais. Isso para mostrar a índole destes cristãos…

Na edição do evento que aconteceu em 2021, a Agência de Transporte do Estado de São Paulo afirmou ter passado pelo pedágio 6 mil e 700 motos, contrariando os mais de 6 milhões que o bolsonarismo divulgou nas redes sociais e mídias apoiadoras. A agência já divulgou que passaram 3700 nesta última edição, segundo a informação oficial. Houve uma queda de 44% no número de participantes. Essa queda pode significar muita coisa, mas uma delas é a possível queda de apoio ao Presidente depois da gestão desastrosa na pandemia, e dos recentes escândalos de corrupção no MEC.

Segundo alguns analistas, este evento se configura como campanha eleitoral antecipada, confrontando a Justiça assim como Daniel Silveira. Além disso, é uma campanha eleitoral com recursos públicos, o que é um agravante. Tarcízio, Ministro do governo que, até onde se sabe, se lançará candidato ao governo de SP, como ele mesmo anunciou, também estava lá.Este confronto faz parte de uma estratégia de evitar o debate político e fomentar sua base apoiadora.

Em Americana – SP, ponto final da motociata, o Presidente fez uma série de declarações. Sobre o acordo do Tribunal Superior Eleitoral com o Whatsapp, que adiou o lançamento aqui no Brasil de uma nova ferramenta que permite a criação de grupos com milhares de pessoas – essa ferramenta será chamada “comunidade” e será implementada depois das eleições. Atualmente um grupo só pode conter duzentas e poucas pessoas –, disse que trabalhará para que não seja cumprido. “O Brasil continuará livre, custe o que custar”, são as palavras do Presidente. É um retorno aos confrontos diretos com a Justiça, como os que vemos no 7 de setembro de 2021.

O bolsonarismo ameaça e tensiona os limites democráticos estabelecidos pela Constituição. Qual será a resposta da Justiça?

Cristian de Paula Sales Moreira Junior é professor de História e mestre e doutorando em História Política pela UFG.

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