29 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:33

Contaminação eleitoral evidencia políticos pequenos em meio a desafio gigante

O imenso desafio posto de combater um vírus desconhecido e de alta letalidade mobiliza governos e sociedade mundo afora. A necessidade de superar o maior drama da humanidade em mais de cem anos congelou debates político-eleitorais e, até então impensável, sensibilizou parcela significativa do empresariado, sempre mais atenta a investimentos e seus lucros.

Esse é o panorama nos principais países envolvidos no combate ao coronavírus, incluindo os Estados Unidos que a essa altura estariam envolvidos com o embate entre democratas e republicanos pela sucessão de Donald Trump. Deveria ser também a tônica no Brasil, mas não é a realidade.

Parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) uma forma de agir que jamais deixou de ser envolvida pelo embate político, já de olho nas perdas e ganhos para a eleição presidencial de 2022. Ao se opor aos governadores, o presidente tenta evitar o crescimento de previsíveis adversários.

O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), também faz política com a crise do coronavírus. Se opõe ao governo federal, provoca Bolsonaro e também vislumbra ganhos eleitorais futuros de olho na sucessão presidencial. Porém, faz isso de forma mais habilidosa, diferente de Bolsonaro que age sempre com a truculência que o caracteriza. Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, segue linha similar.

Com o avanço da crise, Bolsonaro passou a ter ciúmes até do protagonismo de seu ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM). Enxergou nele um potencial adversário. Com sucessivos embates públicos, presidente e ministro passaram a ser adversários integrantes de um mesmo governo por algumas semanas. Interlocutores salvaram Mandetta algumas vezes, mas a demissão é questão de tempo.

Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (DEM) navega em águas tranquilas, enquanto o prefeito de Goiânia Iris Rezende (MDB) enfrenta maiores percalços. O governador é mais eloquente, protagonista na crise de Saúde e não tem oposição organizada, sequer alguém que possa enxergar sua cadeira. Já o prefeito é bombardeado por opositores de olho na eleição que se avizinha.

Na capital, não há comoção pelo combate ao coronavírus e pela luta pela preservação de vidas que comova o suficiente para unir a classe política às vésperas da eleição municipal de outubro.

Qualquer chefe de executivo, até pelo tamanho da responsabilidade e repercussão dos atos, já é muito solitário. No momento, Iris parece ainda mais. Em meio a pandemia, tem recebido pouco o quase nenhum apoio externo. Nem mesmo a classe empresarial parece se mover de forma ostensiva.

A cidade já sofre com perda substancial de receitas em razão do isolamento social que paralisou as atividades econômicas, mas precisa manter todos os serviços de pé e arcar com a folha salarial de 50 mil servidores e necessita investir muito mais na saúde para combater o avanço da doença. Assim tem sido feito. E qual foi a grande empresa local que doou cestas básicas ou EPIs ao Município? Quantos parlamentares trouxeram investimentos para a capital, senão aqueles já embalados pelo Governo Federal para combate a pandemia?

Mesmo diante desse quadro o presidente da Câmara, Romário Policarpo (Patriota), resiste a abrir mão de parte do duodécimo a que a Casa tem direito para pagar suas despesas. O sacrifício precisa ser apenas do Executivo? E, por tabela, da população?

De olho na cadeira de prefeito, outros políticos surgem para bater tambor a cada medida tomada por Iris. Querem desgastar o prefeito a todo custo, mesmo que as ações tenham como foco preservar vidas. É o jogo.

Nenhum deles foi ao Paço debater qualquer medida com Iris, ponderar qualquer situação ou tentar dissuadi-lo de um ato. Correram para suas redes sociais para condenar o prefeito por um decreto que suspendeu contratos e gratificações pelo período em que a prioridade é (e não poderia ser outra) combater o avanço da doença em Goiânia.

Os pré-candidatos preferem fazer proselitismo, ainda que grande parte das pessoas estejam em casa amedrontadas pelo vírus e pelas consequências negativas inevitáveis que serão impostas a todas elas. Na população, o debate eleitoral está distante, suspenso, ainda que políticos queiram aquecê-lo. Não há espaço neste momento.

De outra geração de políticos, Iris Rezende, a despeito da eleição que se aproxima, prefere seguir trabalhando em silêncio. Com erros e acertos, inerentes ao cargo que ocupa, mas sem omissão e distante do oportunismo que caracteriza e apequena a classe política atual.