Antônio Bias, diretor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), disse recentemente uma frase impactante e preocupante. Frase impactante, mas já vaticinada por outros pensadores e até mesmo por publicações nacionais. Bias, referindo-se a cidade de Anápolis, disse que esta será uma das cidades que mais crescerá nos próximos dez anos. A frase me inquietou, me incomodou e, por que não dizer, me assustou também.
Tenho uma relação umbilical com essa cidade. Nasci aqui. Quando olho para o passado, vejo uma cidade que vem sofrendo com um crescimento que marca, o chamado desenvolvimento das cidades brasileiras. Da vila que nasce do caminho de burros à cidade que já fora comparada à industrial Manchester, no Reino Unido. Anápolis será um grande aglomerado urbano em 2025. É impressionante como a cidade cresceu. Cresceu, pois é um município que tem vocação para o crescimento. Contudo a questão que fica é: estamos crescendo de forma responsável e sustentável? Queremos uma cidade grande, com seus grandes problemas?
Muito dinheiro, oriundo dos impostos, tem sido gasto com a construção de viadutos nos últimos anos. Os governantes têm orgulho de dizer isso. Recentemente, o governador do Estado veio à Anápolis dar o “start” na transformação do atual Aeroporto de Cargas em Aeroporto civil, com a perspectiva de operar voos comerciais. Vou polemizar. É isso que o povo anapolino realmente quer? Queremos transformar o município em um grande amontoado de gente, de carro, de edifícios verticais? Isso é ser um município desenvolvido? Se for, parem o trem que eu quero descer.
O que eu tenho observado é que a classe empresarial anapolina tem trabalhado incansavelmente para implantar a pauta deles, o que eles entendem por desenvolvimento. E o governo, que deve cuidar do bem para coletividade, o que tem feito para garantir que outras pautas sejam debatidas?
O Nobel de Economia, o indiano Amartya Sen, foi premiado com a honraria ao mostrar que o desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, segurança, liberdade, habitação e cultura. Todos os países que investiram em cultura, em detrimento de aeroportos e viadutos, estão experimentando os benefícios de optarem por esse caminho. Anápolis tem a oportunidade de aprender com o erro das outras cidades que passaram pelo período que a cidade está passando. Não podemos deixar passar essa chance.
Vivemos atualmente um “hipercapitalismo brutal”. Nesse hipercapitalismo, que é um estágio acima do neoliberalismo, 67 pessoas têm tanta riqueza quanto 3 bilhões de pessoas não têm o que comer. Anápolis, em seu microcosmo, tem mansões que valem mais de R$ 5 milhões e gente morando na rua. Anápolis tem carros de luxo desfilando em suas avenidas, com um transporte público caótico e de péssima qualidade. A cidade tem escolas com mensalidades de mais de R$ 1.000,00 e escola de placas. Chico Sciense já dizia “a cidade não para, a cidade cresce e o de cima sobe e o debaixo desce”.
Penso que podemos mudar isso. Romper com essa lógica. Cabe ao poder público criar instrumentos para debatermos a cidade. Além da pauta empresarial, o que se tem feito na saúde, na educação, na mobilidade urbana (para além da construção de viadutos) preparando a cidade para aquele crescimento previsto por Bias? Uma Conferência da cidade, talvez, possa ser um espaço ideal para isso. Precisamos construir novas possibilidades de sociedade ou não teremos mais sociedade. Não temos o direito de postergar esse debate, pelos nossos filhos e netos. 2025 já chegou.
Edergênio Vieira é professor da Rede Municipal de Ensino de Anápolis e poeta – Twitter @edergenio