22 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 14/07/2016 às 19:53

Como o poder público pode induzir crescimento virtuoso na economia solidária

Jefferson José da Conceição é prof.dr. da USCS e atual diretor técnico da Adesampa.
Jefferson José da Conceição é prof.dr. da USCS e atual diretor técnico da Adesampa.

A economia solidária está, hoje, inserida na “outra metade” do sistema econômico. A primeira metade é aquela composta por empresas e trabalhadores que fazem parte da dinâmica e das relações capitalistas tradicionais, isto é, submetidos à compra e venda da força de trabalho e ao circuito que envolve produção, comercialização, distribuição e consumo típico de uma economia capitalista. A segunda metade é representada por um conjunto de empreendimentos que estão excluídos desta dinâmica. Neste caso, o modelo mais avançado é o da economia solidária.

A economia solidária vem de longa data. Suas origens remontam a meados do século 19, quando algumas experiências europeias buscaram constituir uma economia não capitalista, baseada no cooperativismo de produção e de consumo, vinculada a um socialismo denominado utópico.

No Brasil, a economia solidária – que tem origens ligadas às cooperativas agrícolas – foi retomada com força a partir da década de 1990, quando se verificou grande número de empresas falidas e de pessoas desempregadas. O Grande ABC vivenciou uma importante experiência que foi a dos metalúrgicos do ABC – uma das categorias mais atingidas na crise da década de 1990. Na época, o sindicato era presidido pelo hoje prefeito Luiz Marinho. Em 1997, a empresa Conforja, situada em Diadema, teve sua falência decretada. Após muitas discussões, os funcionários da empresa decidiram, com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, arrendar a empresa e constituir a Uniforja – um conjunto de quatro cooperativas de produção. Hoje, a Uniforja é uma empresa de sucesso, com faturamento de mais de R$ 220 milhões por ano e geração de mais de 600 postos de trabalho.

Como secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de São Bernardo do Campo, coordenei uma experiência inédita de apoio à economia solidária: a incubadora de Empreendimentos Solidários de São Bernardo do Campo, chamada de SBCSol, em parceria com o Instituto Granbery, Universidade Metodista, Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e Prefeitura de São Bernardo do Campo.

Lançada em 2012, a SBCSol teve o desafio de criar uma metodologia específica de incubação para os empreendimentos solidários, bem como apoiá-los com capacitação diversas. Na prática, isto significava tornar os empreendimentos solidários competitivos e capazes de concorrer no mercado capitalista. Isto envolvia ainda a participação da economia solidária em processos de licitação dos poderes públicos municipal, estadual e federal.

A SBCSol realizou a incubação de 21 negócios, sendo 18 empreendimentos e três redes (Alimentação, Artesanato e Reciclagem Têxtil); quatro seminários de desenvolvimento metodológico, divulgação e compartilhamento dos resultados do projeto. Foram feitas ainda 10 cartilhas temáticas de formação e 10 oficinas gerenciais de capacitação; montagem de biblioteca com 1,2 mil títulos. Criaram-se site, blog e perfil da SBCSol. Dois livros foram editados e publicados e produzido um vídeo institucional. Houve ainda a produção de nove artigos acadêmicos e duas teses de doutorado; inserção dos Estudos da Economia Solidária na grade curricular na disciplina de gestão do terceiro setor.

No total, 180 pessoas diretas (460 pessoas indiretamente) foram beneficiadas pelo projeto. Quarenta professores, pesquisadores e alunos estiveram envolvidos no projeto. Apesar do curto período de existência, foi possível extrair elementos importantes da experiência da SBCSol. Uma delas, a necessidade de que o processo de incubação enfatizasse a busca constante da qualidade dos produtos e serviços ofertados pelos empreendimentos, o que requereu, por sua vez, o aprimoramento persistente dos processos de produção e de prestação de serviços.

Outro elemento a destacar foi o da discussão dos rumos da formalização dos empreendimentos solidários, se na forma de cooperativa, associação, pequena empresa, entre outras. Certamente, norteou a discussão e escolha o caminho que possibilitasse dar melhores condições de remuneração aos seus sócios. Mas este foi apenas um dos pontos levados em conta.

A SBCSol foi uma inovação no Brasil. Conciliou política pública de fomento à economia solidária com potencial de aprendizagem que a universidade oferece. Este modelo pode agora ser replicado em outras localidades. Ao ser replicado, é fundamental potencializar seus pontos fortes e eliminar ou reduzir seus problemas.

Jefferson José da Conceição é prof.dr. da USCS e atual diretor técnico da Adesampa. Foi secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo do Campo entre janeiro de 2009 e julho de 2015. Foi diretor-superintendente do SBCPrev entre agosto de 2015 e fevereiro de 2016.