23 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:34

Carlos Brandão: “A ordem é fechar o Chorinho, disse o rapaz”

(Foto: Luiz Augusto)
(Foto: Luiz Augusto)

Desde que o Chorinho foi criado, em 2007/8, pela secretaria de Cultura de Goiânia, que um dos focos das pessoas que fizeram/fazem sua produção, é a segurança. Para isso, sempre foi solicitado apoio da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Para ser honesto, pelo menos nas vezes que fiz a produção, raramente fui bem atendido por essas corporações.

Ontem, fui surpreendido com a escalação de uma equipe enorme de policiais militares, para “organizar” o Chorinho. O comandante da equipe chegou e já proibiu os ambulantes de venderem bebidas alcóolicas. Ok, começamos mesmo assim, porque nosso foco é a música. Mas o rapaz do comando, começou a dar palpites na organização do Chorinho. Isso pode. Aquilo não pode. Vcs devem mudar esse evento de lugar, etc, etc, etc.

Não quero me dirigir a esse rapaz, que estava lá, com certeza, cumprindo ordens do seu comando. Quero me dirigir ao chefe maior desse rapaz.

Governador Ronaldo Caiado, eu acho que o senhor deveria, antes de sair pela cidade metendo o bedelho em atividades culturais, cuidar da sua própria secretaria de cultura, que até hoje não disse a que veio. A sua polícia, senhor Ronaldo Caiado, não deve sair pela cidade se arvorando de curadora de atividades culturais e definindo o que pode e o que não pode acontecer.

Se o governador de Goiás, avaliza essas atitudes, a gente pode dizer que estamos realmente fodidos e mal pagos. Repito, senhor Ronaldo Caiado: dê condições para que sua secretaria de Cultura funcione. Cuide do seu quintal. Não há necessidade de colocar sua PM para definir o que pode e o que não pode acontecer, culturalmente, na Grande Goiânia.

O Chorinho sempre pediu apoio da segurança pública estadual e municipal. É público e notório que os órgãos de segurança do Estado nunca viram com bons olhos essa atividade cultural. Tudo que é feito na rua, dá trabalho, senhor Caiado. Se o senhor não entende de Cultura, eu tenho 50 anos de trabalho nessa área e posso lhe explicar algumas coisas.

E o senhor precisa explicar isso aos seus policiais. A ordem é fechar o Chorinho, disse o rapaz de ontem. “Por que vocês não mudam isso para um lugar fechado?”, perguntou. “Isso que vocês estão fazendo aqui é uma loucura, é impossível fazer isso no meio da rua”, explicou, como se ele entendesse alguma coisa de atividades culturais.
Governador Ronaldo Caiado, se liga: sua polícia fechou boa parte das Batalhas de rap que existiam pela cidade. Se o senhor ainda não foi apresentado para o hip hop, essa arte é um dos portos seguros dos jovens da periferia. O rap salva pessoas, senhor Ronaldo Caiado. Peça um estudo do tema, para sua secretaria de Cultura e tenho certeza que ela vai lhe mostrar essa realidade.

Repito e encerro: a cidade e os produtores de Cultura não precisam do “auxílio luxuoso” da sua PM, para realizarem suas atividades culturais, senhor Ronaldo Caiado. E como produtor do Chorinho, agradeço toda e qualquer ajuda no sentido de dar segurança para o público que vai assistir aos shows. Mas dispenso o apoio da PM, na produção e curadoria do mesmo. Como dizem: cada qual no seu quadrado. Ado. Ado. Ado!

Carlos Brandão