10 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 22/08/2022 às 09:56

Bolsonaro cresce entre os evangélicos: a eleição pode se tornar um conflito religioso

(Foto: TV Brasil)
(Foto: TV Brasil)

Saiu a tão esperada pesquisa Datafolha. Percebe-se que nada mudou em relação às outras pesquisas que saíram até semana passada. Pode-se dizer que Bolsonaro subiu um pouco desde a última do mesmo instituto: estava com 19 pontos de diferença contra Lula, e foi pra 15. Mas penso que o problema de Bolsonaro não é crescer ou não crescer, simplesmente. O problema é que Lula não parece cair. E que, mesmo crescendo, sua rejeição ainda é muito alta, continuando a ser a maior rejeição a um candidato à presidência da República entre os que chegam até o segundo turno. 

Tudo indica ser uma campanha muito difícil. Alguns analistas trabalham com a hipótese de que ainda há chances de Lula ganhar no primeiro turno. Particularmente, acredito que a esta altura um certo efeito do Auxílio entre os mais pobres já deveria ser notado. O presidente, até o momento, apenas recuperou os votos que havia perdido – o que é muito pouco –, e muito vagarosamente. Tendo em vista que, geralmente, os candidatos no poder, que tem a “máquina na mão” como diz o senso comum, sempre carregam certa vantagem midiática e material, o resultado está aquém do esperado.

Podemos até colocar na mesa o fato de que a campanha na televisão, pelo horário eleitoral obrigatório, não começou. O presidente conta com um minuto a menos que seu principal adversário: segundo as informações divulgadas pelo TSE, Lula terá 3 minutos e 39 segundos, e Jair Bolsonaro 2 minutos e 38 segundos. Nos perguntamos como será utilizado este tempo. Falará o presidente sobre comunismo? Ideologia de gênero? Kit gay? Se sim, será a primeira vez em campanhas de televisão. Penso que esse discurso não se repetirá na TV, tendo em vista que cabe a um eleitor que já o pertence. Ao contrário, acredito que, decepcionando alguns bolsonaristas, o presidente tentará fazer um discurso novo. Mas qual será, prefiro não arriscar. 

Nesta segunda-feira, dia 21 de agosto, também começam as entrevistas aos candidatos presidenciáveis no Jornal Nacional. Um clássico. Pelo sorteio, Bolsonaro será o primeiro. Nós sabemos das hostilidades que ele tem com a Rede Globo, então fica difícil comentar o que devemos esperar. Aliás, o que todos os cidadãos conscientes esperam mesmo é que seja uma boa entrevista, que ele comente sobre seu programa de governo, e que esclareça quais seus planos pro assunto que mais preocupa os brasileiros no momento, isto é, a economia. Mas, como sabemos, não é costume dele fazer isso…

Ao que parece, Bolsonaro cresce ainda mais entre os evangélicos. Esta pode ser sua carta na manga. Ele e Michelle têm acesso livre aos palanques e aos “altares” – das Igrejas para fazer campanha, desde antes da data oficial permitida pelo TSE. Nas redes sociais, não são poucos os pastores que ecoam mensagens em apoio ao presidente. Não à toa, Lula também procura avançar nos diálogos com os representantes destes grupos. 

É claro que o cristianismo sempre esteve presente no Brasil, e que suas formas foram se diferenciando ao longo do tempo. A relação entre Igreja e Estado é discutida, no mínimo, desde a Constituição de 1824. O fenômeno do pentecostalismo, porém, um movimento específico do cristianismo, é relativamente recente, desde sua chegada pelo Pará no início do século XX. A partir dos anos 1990, os evangélicos cresceram muito rapidamente no Brasil, movimento influenciado pelo evangelismo norte-americano, e passaram a ter uma relação muito direta com a política, seja apoiando candidatos, ou até mesmo criando partidos políticos próprios. Evidentemente, como somos um Estado Laico, a religião é lançada à esfera privada. Ou deveria ser.

O fenômeno eleitoral de 2022, porém, mostra um diferencial. Nós nunca tivemos uma eleição como uma questão religiosa tão presente. Em 2018 ela apareceu, com um pouco mais de destaque, mas não chega a ser um paralelo. Bolsonaro instrumentaliza essa questão: ele mesmo não é evangélico e esconde a rivalidade política – que surge da teologia, isto é, ambos consideram ser representantes da verdadeira  religião e, portanto, da verdadeira, ou mais correta, visão de mundo –  existente entre católicos e protestantes.

Como diria Foucault, invertendo a lógica de Clausewitz, a política é a guerra continuada por outros meios. Essa eleição pode se tornar um conflito religioso.

Cristian de Paula Jr é professor de história e mestre e doutorando em História da Política pela UFG

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