Por Renato Rovai, da Revista Fórum
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, fez uma delação premiada. Ou seja, ele foi pego cometendo uma série de crimes e aconselhado por advogados especializados neste tipo de acordo a revelar detalhes de uma história que pode livrá-lo da cadeia. A previsão é que seria condenado por até 50 anos.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras fez os depoimentos na Custódia da Polícia Federal em Curitiba. A PF filmou as sessões de depoimentos a procuradores da República. Os depoimentos foram posteriormente criptografados e enviados a ao Procurador Geral da República. Mas hoje, mesmo com todo o cuidado, teria havido vazamento de alguns dos nomes citados.
Chega a ser leviano que esses nomes sejam revelados sem que haja nem sequer uma única fonte ou sequer um pedaço de papel com um texto escrito a lápis para sustentar a denúncia.
Essa é a primeira questão. Veículos de comunicação não deveriam sair acusando pessoas sem que elas tenham como se defender, porque não conhecem a acusação, e sem que haja uma evidência clara de que o que estão publicando não é só alga baseado no ouvir dizer.
Depois, quem faz delação premida é bandido. E como bons bandidos, delatores têm uma estratégia para tentar sair do enrosco em que se meteram.
Ou seja, é evidente que a narrativa que Paulo Roberto Costa vai sustentar irá misturar histórias reais com algumas falsas. Até porque se na primeira fase do depoimento ele não vier a conseguir o perdão que almeja, terá mais o que falar para buscar um prêmio maior.
Há também o fato de que o delator tem suspeitos de o terem acusado e tem inimigos políticos. E esses ele vai dar um jeito de culpabilizar na sua narrativa. Mesmo que sejam absolutamente inocentes.
Em várias outras delações isso ocorreu. Não há porque não ocorra nessa.
Cabe ao jornalista responsável e ao juiz correto esperar que a investigação aconteça de forma ampla para que os acusados não sejam condenados por antecipação.
Isso não significa que tudo que Costa falou deve ser ignorado. A corrupção no Brasil é sistêmica e precisa ser combatida quase como uma epidemia. Mas não é diferente da de outros países e nem é maior no setor público do que no privado. São as empresas que costumam incentivar a corrupção como forma para garantir contratos de forma mais fácil.
Veja e seus derivados midiáticos estão tentando transformar a eleição que se avizinha em mais uma disputa moral. Podem até conseguir. Mas seria um retrocesso imenso. Há programas de governos bastante diferentes em discussão e isso deveria ser o centro da definição do voto.
Com todos os erros cometidos pelos governos do PT nos últimos 12 anos, os órgãos de investigação ampliaram em muito sua autonomia para investigar e combater a corrupção. Isso é o que importa. Fazer com que essa investigação se realize e leve à cadeia os culpados. E que ela não termine como a do helicóptero da família Perrela, cujo pó foi literalmente jogado para baixo do tapete. E cujos envolvidos estão soltinhos da Silva.