Parece ser piegas e oportunista defender algo que muito mexe com os que são negros e, porque não dizer, com toda a sociedade brasileira. Hoje, aqui, estou para dizer que não há como fechar os olhos e não comentar a situação vivida por um rapaz de 22 anos que todos os dias enfrenta uma sociedade organizada de pessoas que só querem menosprezá-lo e maltratá-lo.
O ambiente futebolístico parece permissivo. Fomos (falo da minha geração) criados assim: poderíamos fazer o que quiséssemos dentro de um estádio em nome de desestabilizar o jogador adversário. O nome do 12º jogador dado à torcida passa por isso. Ela não tem somente que apoiar o seu time, ela tem que vaiar, xingar e menosprezar o adversário para derrotá-lo mentalmente. Triste saber que vivemos e fomos criados em um ambiente assim, e que depois de permitirmos tudo isso chegamos ao absurdo de atos xenófobos, homofóbicos e racistas aos montes, em todos os campos de futebol pelo mundo.
Uma sociedade que não defende os jovens não pode ser uma sociedade saudável. E não estou aqui falando dos espanhóis. Todos os dias no Brasil vários Vinicius Jr. são alvo de racismo estrutural, institucionalizado ou qualquer outro nome bonito que colocam para amenizar a palavra feia que é o racismo.
Vinicius luta na Espanha e todos nós no mundo sofremos, tanto os retintos e pardos quanto os que já sofreram algum tipo de discriminação. Não consigo olhar a imagem de tudo aqui sem ter os olhos marejados, porque sei que isso ocorre todos os dias com quem ousa desafiar o sistema.
Vinicius luta por nós e nós ficamos anestesiados vendo a luta dele. Hoje na minha luta está a tentativa de ensinar um menino de 14 anos que ele não pode ter mágoa, rancor e tem que respeitar e entender as pessoas. Eu não sei se vou conseguir, mas vejo que o que o Vinicius Jr. faz com maestria nos campos de futebol nos ajuda a ensinar as novas gerações e nos faz ficar cada dia mais envergonhados com a criação que tivemos.
Como muitos falaram nesta semana: “cansa”, “desgasta”, “nos consome”, “ficamos angustiados”, “nossa luta”, “dói”. Não tem como não chorar e mais complicado é saber que a sociedade espera que nós, que fomos massacrados a vida toda, ensinemos os outros a serem melhores, melhores pessoas, enquanto eles continuam a nos olhar por cima dos ombros e no fundo não querem aprender nada conosco, querem somente nos culpar por sermos quem somos.
Você não tem que ser uma pessoa melhor porque o Vinicius não pode ser tratado daquele jeito. Você não tem que ser uma pessoa melhor pelos outros. Você tem que ser uma pessoa melhor por você mesmo. A mudança tem que começar em você. Vinícius só quer jogar bola e ser feliz.
Marcley Matos é jornalista