23 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:32

As cores não existem, nem resistem

José Otávio Jungles é jornalista e professor.
José Otávio Jungles é jornalista e professor.

É verdade: as cores não existem de fato, é fato! O verde que você enxerga, não é o mesmo verde que a pessoa que está do seu lado esperando o mesmo semáforo abrir vê, isso depende da quantidade de receptores de cada olho. É incrível que, mesmo sem existir de verdade, somos guiados pelas cores.

O verde, amarelo e vermelho dos semáforos são capazes de fazer uma cidade andar de forma ordenada, mesmo sendo percebidos com nuances diferentes. O que realmente existe e enxergamos são diferentes espectros de luz refletindo em tudo, mas o ser humano é criatura capaz de transformar luz em trevas, e os reflexos da luz criam sombras enormes em nossa história.

O azul, vermelho e branco da bandeira inglesa eliminou muitos brancos, negros, amarelos e vermelhos… A liberdade e a igualdade do azul e branco na bandeira da França, sumindo com o avanço do vermelho que escorria das guilhotinas…

O amarelo, vermelho e preto da bandeira Alemã cobrindo o mundo com uma noite de quase seis anos. São apenas cores que não existem, mas por elas muitos não existem mais. A história nos mostra que as cores só foram bem compreendidas na história da arte, e mesmo assim nem sempre, mas muitas vezes por acreditar nas cores, a humanidade errou o tom. 

Enquanto discutimos a palheta de cores mais adequada à humanidade, não se ensina mais história nas escolas e assim caminhamos para gerações desumanas, que não terão de confrontar os erros do passado. E com o passar do tempo as cores não resistem, todos nos tornaremos um pouco azulados, depois cinza…até finalmente explodirmos em cores quando a natureza finalmente re-aproveitar nosso velho “vaso vazio”, como diria o pequeno príncipe. O que restará de nós então quando a luz se for e levar as cores consigo? 

As coisas que realmente existem e realmente importam: amor, caráter, bondade e tantas coisas que não discutimos porque estamos em claro daltonismo ideológico. Os daltônicos talvez sejam os que melhor enxergam nossa sociedade, já que o vermelho e o verde não os definem, aprenderam com o cinza como pode ser difícil conviver com algo que não existe, mas está lá. O preconceito também não existe, mas está aqui também. Não é só lá…

José Otavio Junges
Jornalista e Professor