Mestre em Agronomia, pesquisador, desenvolvedor de sementes, Verni Kitzmann Wehrmann, é um modelo de empresário rural. Sua família migrou do Rio Grande do Sul para o Paraná nos anos 1950 e depois para Goiás, nos anos 1970, se instalando em onde iniciaram o plantio de soja, milho e outros cultivares. Hoje Fazenda Werhmann conta com mais de 30 mil hectares e é líder na produção brasileira de alho, sendo responsável por 12% do cultivo nacional.
A Agrícola Wehrmann também produz batata, cenoura, beterraba, cebola e outras hortaliças. No período do plantio e colheita, a empresa gera centenas de empregos diretos e outra centena de indiretos.
Verni Wehrmann por vários anos comercializou a sua própria semente de soja, a 2 Marcos, até que sua pesquisa foi comprada pela Pionner. Passado o tempo de quarentena (cinco anos) exigido pelo comprador, voltou às pesquisas e desenvolveu outro cultivar, que desta vez foi adquirido pela Monsanto.
A família toda é envolvida na produção. Sua esposa, Magda Wehrmann de Faria, é goiana de Pontalina, com Mestrado e Doutorado em Economia Rural. Além de administrar a empresa o casal participa de encontros internacionais, divulgando suas pesquisas e o potencial da agricultura brasileira em países como a China, Moçambique, Ruanda, Angola e no continente europeu.
Mas há um limite para aquilo que os Wehrmman e seus vizinhos podem fazer: energia. A região do Entorno de Brasília – notadamente nos municípios de Cristalina e e Luziânia carecem de energia elétrica para dar um novo salto na produção: a industrialização.
Grandes produtores de soja e outros grãos se ressentem da má qualidade no fornecimento de energia elétrica. Nos últimos 20 anos os produtores fizeram infinitas reuniões com o inquilino da Casa Verde e travaram verdadeiras batalhas com a Celg para ampliação da rede elétrica e construção de subestações que pudessem garantir estabilidade no fornecimento de energia., O inquilino que ocupou por 16 anos a Casa Verde foi substituído, A Celg foi privatizada pela Enel, mas o problema ainda persiste.
O gasto dos produtores com geradores de energia movidos a óleo diesel é enorme. Um contra-senso, se considerarmos que Goiás exporta energia elétrica. Um total de 20 usinas hidrelétricas de grande, médio e pequeno porte instaladas no Estado nos rios Paranaíba, São Marcos, Tocantins, Araguaia, Corumbá, Rio das Almas, Rio Claro, Rio Verde, Rio Corrente geram cerca de 8.849,48 MW, superando Tucurii, no Pará que produz 8.535 MW e ficando atrás somente de Itaipu (14.000 MW) e Belo Monte (11.233 MW).
Com cerca de 728 pivôs em atividade em 56 mil hectares, Cristalina ocupa a segunda maior área de agricultura irrigada do país, gerando um PIB (Produto Interno Bruto) de cerca de R$ 1 bilhão, alcançado através do cultivo de 40 culturas. Além de soja, a região avança também na produção de trigo, arroz, feijão, milho, café, cana-de-açúcar, mandioca, laranja, algodão, banana, fumo, batata inglesa, alho, tomate, maçã, uva, cebola, cacau, amendoim e pimenta do reino e outros.
Há um potencial enorme para instalação de agroindústrias no município, mas este só vão se materializar quando houver confiança no fornecimento de energia elétrica.
O governador Ronaldo Caiado (DEM) “chamou na chincha” a Enel na semana anterior ao carnaval, quando cobrou eficiência no fornecimento de energia. A empresa italiana, que comprou a Celg – privatizada pelo governador Marconi Perillo (PSDB) -, é considera a pior distribuidora de energia do Brasil. Duas CPIs na Assembleia Legislativa estão em vias de serem instaladas para investigar a privatização e onde foram parar os recursos da venda da Celg.
A economia chinesa é a que mais avança no mundo. Um dos motivos é que a China ultrapassou os Estados Unidos em todos os quesitos da infra-estrutura: transporte ferroviário, usinas de ferro, produção de chips e computadores, e, principalmente, fornecimento de energia elétrica, eólica e fotovoltaica.
Sem transporte e energia não há desenvolvimento.
Para os chineses, crise significa oportunidade. Talvez o apagão da Enel seja o momento ímpar para Goiás discutir seriamente uma politica energética sólida, que sirva como motor da economia, incentivando o empreendedorismo local e também a atração de novos investidores para o Estado.