Há dois tipos de momentos que devem ser levados em consideração, na análise de uma pesquisa de intenção de voto. O momento extra-eleitoral, isto é, aquele cuja pesquisa é feita fora do contexto de uma eleição, e o momento intra-eleitoral, aquele em que a pesquisa ocorre às vésperas da votação.
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Diante desse tipo de pesquisa, o cidadão em geral, que não pensa nem aprecia política, ao ser abordado pelos pesquisadores com seus questionários, é sempre colocado diante de uma ficção: “e se a eleição fosse hoje?” As respostas surgem igualmente ficcionais, mas a “qualidade” delas se altera vertiginosamente, conforme o momento em que são feitas.
Fora do contexto eleitoral, o eleitor responde simplesmente quem ele conhece, quem prestigia, jamais em quem ele de fato votaria, até porque não há uma campanha importunando seu cotidiano e nem um leque de candidaturas disputando sentido nas mídias que ele acessa. É por isso que, apesar das manchetes jornalísticas, são extremamente enganosas as interpretações que se referem à viabilidade eleitoral de candidatos (a possibilidade ou não de vencerem eleições) nessa época. Um pré-candidato situado na insignificância da pesquisa pode ascender e superar todos os demais, sem que isso constitua uma anomalia, já que a pesquisa quantitativa apenas fotografa o instante, ignorando completamente o processo em que os deslocamentos são feitos.
Entretanto, dentro do contexto eleitoral, e, neste momento, especialmente quando restam apenas poucos dias para a viagem do eleitor às urnas, a ficção ganha a forma de realidade e o eleitor, abordado pelo pesquisador, é encontrado num quadro de sedução dos candidatos e às vésperas do instante em que, independente de sua escolha, terá que tomar uma decisão. Em outras palavras, este é o momento em que a pesquisa de intenção de voto passa a revelar aquilo mesmo a que se refere: a intenção de voto. É o instante, enfim, em que a intenção do eleitor mais se parece com o voto mesmo.
Estamos, de hoje até o dia 5 de outubro, exatamente nesse momento. Por isso, resultados de pesquisas como o da Grupom podem revelar o que efetivamente se pode aguardar das urnas. E, no caso desta pesquisa, o quadro revelado parece suficientemente nítido: estando corretos os números, Marconi será reeleito este ano mais uma vez. E, talvez, no primeiro turno, se considerarmos, dentro da margem de erro, o beiço de pulga que lhe falta para fechar essa conta.
Os números e suas diferenças falam por si mesmos. Mas, talvez seja importante efetuar destaques e comentá-los, para sentir a temperatura desta campanha eleitoral, que tem revelado interessantes surpresas.
Há uma confirmação e uma surpresa, neste pleito. Comentemos ambos.
A confirmação foi o favoritismo de Marconi Perillo, que não apenas se manteve, mas ganhou solidez ao longo da campanha. O índice de 49,1% de votos válidos configura um quadro de vitória no primeiro turno já posicionada dentro da margem de erro da pesquisa.
O evento é notável. Para um governador que fora envolvido há apenas dois anos no caso Cachoeira, um episódio de desgaste de imagem que ganhou repercussão nacional; que disputa pela terceira vez com seu principal adversário; e cuja oposição aparece visitada por dois dos mais bem sucedidos prefeitos do Estado de Goiás, a recuperação e a aprovação nesse nível é sem dúvida um feito extraordinário.
Como ele conseguiu isso? A fórmula parece simples, mas não devemos percebê-la com simplismo. Primeiro, ele reagiu com obras e ações de governo, acompanhadas de muita comunicação (tanta, que tem sido objeto de críticas da oposição). E, segundo, produziu uma campanha amplamente propositiva, centrada em realizações e propostas. Enquanto isso, sua oposição colocou a crítica no primeiro plano, visando desgastá-lo, fazendo, com isso, que a pauta de todos fosse, para o bem ou para o mal… Marconi Perillo. O “bateu, perdeu”, típico do processo eleitoral brasileiro, mostrou mais uma vez seus resultados.
Isso, contudo, não basta para explicar o processo. Há a surpresa: a decadência de imagem e força de Íris Rezende. A pesquisa Grupom mostra isso com requintes de crueldade. São 13,5 pontos percentuais de diferença para Marconi na fase espontânea e 15,9, na estimulada. Considerando os votos válidos, Marconi vence Íris no primeiro turno por mais de 19 pontos percentuais de diferença! Não bastasse isso, a rejeição de Íris supera a de Marconi em três pontos percentuais, um quadro de empate técnico, pois está dentro da margem de erro da pesquisa, mas bordejando seus limites.
Observando os pequenos números da pesquisa, evidenciam-se alguns detalhes dignos de nota. Como era esperado, Marconi realiza seu pior desempenho na região central do estado, mas isso não significou um acréscimo de Íris, acima da média do peemedebista no estado inteiro. Quem salta à frente da própria média estadual são as candidaturas Vanderlan e Gomide, evidentemente expressando seus prestígios próprios nas cidades que administraram, Senador Canedo e Anápolis.
O fato dos dois ex-prefeitos não terem conseguido ultrapassar os limites de suas próprias cidades é relevante para qualquer análise e pode ser explicado pela falta de estrutura política de seus próprios partidos e coligações, mais do que os conteúdos de imagem que carregam – que, em ambos, são muito positivos. Não basta ser bom, é preciso ser capaz de fazer tais qualidades chegarem com força e adesão aos eleitores. Em outras palavras, a expectativa de poder, devidamente estadualizada, é tão ou mais importante quanto o prestígio local. Em outro sentido, é exatamente esta condição que fundamenta a tradicional polarização entre uma liderança forte posicionada no governo e outra liderança antiga viabilizada no maior e mais capilarizado partido do estado. Marconi e Íris não polarizam por si mesmos, mas graças à estrutura com a qual podem contar para produzir sentido.
E por fim, o quadro surpreendentemente confortável para o governador candidato nos cenários de segundo turno. Marconi Perillo ganharia folgadamente contra todos os adversários, inclusive Íris, sobre o qual imporia uma derrota de exatos 19 pontos percentuais de diferença. Em outras palavras, para a Grupom, a diferença entre Íris e Marconi simplesmente se manteria do primeiro para o segundo turnos do pleito. Não seria apenas uma vitória, mas um recorde.
A pergunta final que fica é: considerando que tais medições expressem de fato a realidade eleitoral goiana hoje, até que ponto isso pode ainda ser alterado, nas duas semanas que restam para a votação? Embora nada se possa garantir em política, é forçoso admitir que o cenário constitui uma forte tendência, que, mantidas as condições normais de campanha, dificilmente se alteraria em tão pouco tempo. Ao contrário, a probabilidade parece ser, cada vez mais, a de um encerramento de contas já no primeiro turno, no que deve ser, caso se confirme, uma vitória histórica de Marconi Perillo.
Luis Signates é Doutor em Comunicação; Professor da UFG; Diretor Técnico e Científico da Signates Consultoria e Pesquisa.