01 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 26/11/2012 às 04:20

A alquimia de Barbosa

A posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) nunca foi tão badalada como no evento do ministro Joaquim Barbosa, ocorrido nesta quinta-feira(23). Os

gastos institucionais superaram a previsão, cuja festa não faltou boa música, imprensa e grandes nomes brasileiros e internacionais. Nada demais a comemoração de autoridade que assume um cargo de importância, no topo da pirâmide social.

Exatamente por esta característica a badalação leva a algumas dúvidas. A principal delas é pensar o significado e o papel da justiça para a sociedade.

Barbosa na cadeira de liderança do Tribunal tem uma importância simbólica, que não deve ser desprezada, afinal trata-se uma pessoa que vem de uma família humilde do
interior do país, Paracatu (MG), para comandar as decisões jurídicas, pelo menos as de grande importância social. Uma espécie de ascensão das classes sem prestígios, que obtém um nome que consegue desvencilhar das amarras do sistema e chegar lá.

Mas deve-se considerar que o show midiático não é de representação popular, mas a exposição do status quo que pertence aos afortunados brasileiros, sendo que aos mais
humildes apenas cabe à representação nas destacadas novelas brasileiras, filmes e ás vezes no teatro – de quando em quando personagens dos badalados programas policiais.

O mundo da glorificação de uma autoridade é a forma mais simples de colocá-la nos braços do glamour social. Morre uma representação natural para nascer um ídolo, o
qual serve ao proposito da lógica de um sistema de ordem, no qual nem sempre a justiça impera no seu esplendor.

Não seria sem razão o excesso de exposição do ministro nos principais jornais brasileiros. Hoje em qualquer coisa que Barbosa tocar vira ouro e divulgação. Recebe
luzes até mesmo quando se senta em um restaurante em Natal (RN) ou mesmo em eventos universitários

Um mundo que certamente a nobreza fez questão dar publicidade quando pode estar no poder ao lado da simbólica monarquia. Mudam os atores, mas não os papéis históricos,
que exigem representação mítica. Neste quesito a sociedade pode não se ver na igualdade e liberdade, de justiça e comunicação.

No papel do homem da justiça acredita-se no bom mineiro, e na sua capacidade de defender os homens sociais da desigualdade perene. Viva! Viva! Joaquim Barbosa, o
povo, na presidência do STF.


AntonioSilvaPequenaAntonio S. Silva é mestre pela PUC/SP, doutorando pela UnB e professor.

@antoniosilvva