Entre tantas referências que compuseram minha formação intelectual, “Vou-me Embora pra Passárgada” de Manuel Bandeira, ocorreu-me quando li uma matéria publicada recentemente na imprensa goiana que falava sobre o paraíso que a Assembleia Legislativa de Goiás é para os “bem relacionados”.
Ao descobrir que, por força de relacionamentos bem construídos, existem diretores recebendo salários de até R$44 mil, recorri ao célebre autor para entender o quanto ser amigo do rei pode favorecer uma pessoa. Até então, apenas achava o poema do citado imortal uma utopia fantástica.
Ao ler que os nobres ocupantes da casa de leis estaduais aprovaram a criação de novos cargos de diretoria, com salários de fazer inveja aos melhores executivos de grandes empresas nacionais, percebi o valor das “amizades”.
No jogo dos desentendidos, alguns deputados tentaram se esquivar das responsabilidades pela anuência a essa indecência. Mas, em minha cética opinião, deixaram as coisas em um nível ainda pior, pois alegaram não terem visto a votação, lido o projeto. Se não leem os projetos, fazem o quê nas tribunas e mesas do plenário? Que tipo de representação estão prestando aos seus eleitores?
Em um lugar onde tudo o que tange aos cofres, benesses e mordomias dos ocupantes do legislativo, é secreto, vemos a já aprovada Lei de Acesso à informação (LAI Nº12.527) e o Ministério Público relegados ao limbo da desinformação. É ou não um estado dos sonhos para os amigos do rei?
O fato mais importante é que nós, os súditos, continuamos levando nossos tributos – advindos de árduas e mal pagas jornadas de trabalho – aos cofres administrados pelos amigos e conselheiros da corte.
Como não fazemos parte da realeza “ALEGOriana”, o que nos resta é cobrar o pedágio destes que vão se instalar na Passárgada do legislativo em 2014. Devemos lembrar com faixas e cartazes, se preciso for, que no próximo ano todos eles deverão passar por nós para voltarem, ou chegarem, ao paraíso aludido por Bandeira. Vamos deixá-los passar?
Marcos Marinho – Professor e consultor político
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(O professor Marcos Marinho passa a escrever como articulista no Diário de Goiás a partir de hoje)