Por Paulo Sérgio Alves Araújo, Presidente do SINPOL
Dados da Diretoria Geral de Polícia Civil apontam que a demanda de trabalho para os policiais civis cresceu mais de 400% em menos de oito anos, entre 2008 e os dias atuais. No mesmo período (de 2009, quando houve concurso, até 2015), nosso efetivo teve um aumento de 9,42%. Em 2008, por exemplo, éramos 1.370 agentes e 913 escrivães, números que passaram, em 2015, respectivamente, para 1.545 e 1.080, isso em todo o Estado. O número de delegados cresceu mais, de 296 para 399.
Uma década antes da época de análise desses números, em 1998, éramos cerca de 4,5 mil policiais civis em todo o Estado, incluindo delegados e contratos precários. A população do Estado era de cerca de 4 milhões de pessoas; hoje, os cerca de 7 milhões de habitantes do Estado contam com um efetivo de 3.553 policiais civis, cerca de mil trabalhadores a menos. Repito: são dados da Diretoria Geral da Polícia Civil.
As estatísticas também evidenciam as inverdades do discurso governamental, que diz que a violência está sob controle e sustenta que a sociedade está tomada por uma “sensação de insegurança”. Entre 2009 e 2015 (até novembro), os crimes de homicídio avançaram 80,19% em todo o Estado; os furtos qualificados e tentados cresceram 166,52% e os roubos qualificados aumentaram incríveis 1.099,42%. Em Goiânia, no mesmo período, os homicídios aumentaram 19,79; os furtos qualificados e tentados, 92,09%; os roubos qualificados, 540,95.
Além de buscar reduzir a “sensação de insegurança” de uma sociedade que não aguenta mais ficar à mercê de criminosos, o discurso governamental tenta lançar dúvidas sobre os números por nós apresentados. Mas são dados oficiais, do Sistema de Informações de Segurança Pública (SISP). Sabemos que são subestimados e sustentamos isso com base em estudos de criminologia que apontam que metade dos crimes não são denunciados às autoridades, por motivos diversos.
Esses dados deixam evidente, de forma incontestável, que a Polícia Civil do Estado de Goiás está padecendo pela falta de investimentos, patente quando se visita qualquer distrito policial (geralmente instalados em casas improvisadas, sem a menor condição de trabalhar e bem atender a população). A demanda cresce assustadoramente, enquanto o número de policiais civis encolhe ano a ano. Os que ainda ficam na polícia, por pura vocação, estão trabalhando acima do que é humanamente razoável.
Os policiais civis hoje são pressionados por parte do Estado e da sociedade, que não suporta mais tanta criminalidade, sofrem assédio moral para manter níveis de produtividade, o que é humanamente impossível. Em todo o Estado há policiais em plantões de sobreaviso, sem a devida e legal remuneração; trabalham sem direito a hora-extra e a adicional noturno. Somos exigidos e vivemos à margem dos direitos garantidos para todos os trabalhadores, em situação análoga à de escravidão.
Somos parte da sociedade. Logo, passamos pelos mesmos problemas por que todos passam, inclusive na condição de vítimas da violência, como nosso colega Oscar Charife Abrão morto no início deste mês quando tentava defender cidadãos de bem de assaltantes. Tombou em combate.
Policiais civis – sobretudo escrivães de centrais de flagrante – estão adoecendo, com problemas musculares, músculo-esqueléticos, psicológicos e psiquiátricos, entre vários outros provocados pela somatização de tantos problemas. Temos um efetivo cada vez menor e mais doente.
É preciso que haja investimentos maciços e urgentes em segurança pública. A sociedade clama por isso.
*Paulo Sérgio Alves de Araújo é presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol-GO)