Neste 22 de novembro nosso Grande Líbano completa 78 anos do reconhecimento de sua Independência e da consolidação da República do Líbano. O momento é de grave crise política, econômica, humanitária e social por lá, o que, tristemente, nos faz comemorar a Independência este ano com reafirmação dos esforços para novamente reerguer nosso querido Líbano. A crise que já era grave desde 2019, foi fortemente agravada pela pandemia da Covid-19 e, em agosto do ano passado, pela explosão no Porto de Beirute, que matou mais de 200 pessoas e deixou bairros inteiros destruídos. Mas estou certo de que nos reergueremos novamente.
A situação atual no Líbano não é nada fácil, o Banco Mundial considera a crise atual no país como uma das piores do mundo desde 1950. Segundo as Nações Unidas (ONU), hoje 78% dos libaneses vivem abaixo da linha da pobreza e a pobreza extrema aumentou 300% entre 2018 e 2020, chegando a 23%. O PIB encolheu 19% em 2020 e a inflação anual chegou a 119%. E tudo isso em meio a uma crise política que não permitiu compor um novo governo libanês durante longos 13 meses, depois da catástrofe humanitária que significou a explosão no Porto de Beirute no fatídico 4 de agosto de 2020.
Mas é preciso lembrar que apesar da jovem independência, a história do Líbano se junta umbilicalmente à história humana. Desde o famoso Crescente Fértil, região em que se desenvolveram as primeiras grandes civilizações, terra que abrigou fenícios, gregos, romanos, bizantinos e otomanos, e foi sempre epicentro das rotas comerciais e culturais entre Oriente e Ocidente. Foi ali que a humanidade criou o primeiro alfabeto, responsável por codificar e dar vazão à linguagem escrita, que aproximou povos, que permitiu o aparecimento das línguas modernas.
Os privilégios de nossa terra, no entanto, sempre nos custou intensos conflitos bélicos, séculos de intensa colonização e exploração estrangeira e ainda uma Guerra Civil (1975-1990) que devastou nossa terra e nossa gente. Mas sempre, em cada grave crise, demos lição de humanidade e de solidariedade ao mundo e nos reerguemos uma vez após outra. Sempre soubemos nos juntar com os cacos de destruição da nossa história e desta vez não será diferente.
No Brasil reside a maior comunidade libanesa do mundo, há mais libaneses por aqui do que no próprio Líbano. E é de nossa comunidade que abraçamos nossa terra, erguemos nossos braços para a reconstrução política, econômica e social, juntamos forças dos mais altos valores humanos para por de pé novamente aquilo que sempre fomos, o Grande Líbano. Se hoje estamos de luto, amanhã festejaremos nossa reconstrução.
*Hanna Mtanios é advogado e cônsul honorário do Líbano em Goiânia