13 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:30

A imaginária religiosa de Goiás: o reconhecimento de Veiga Valle e o anonimato dos santeiros goianos

José Joaquim Veiga Valle (Fonte: ANgotti-Salgueiro)
José Joaquim Veiga Valle (Fonte: ANgotti-Salgueiro)

Quem foi Veiga Valle? José Joaquim da Veiga Valle  foi um escultor que nasceu em Pirenópolis em 1806 e começou a pintar e a esculpir aos 14 anos. Mudou-se para a Cidade de Goiás, antiga Vila Boa, em 1841, e de lá não saiu, por isso é conhecido como “o escultor do sertão”. 

Seja para igrejas ou oratórios residenciais,grande parte das esculturas de Veiga Valle se tornaram patrimônio público. A maioria  se encontra na Cidade de Goiás, especialmente no Museu de Arte Sacra da Boa Morte. Em 2016 defendi uma dissertação de mestrado em que   divulguei os resultados da pesquisa  sobre os santeiros goianos que ficaram à sombra de José Joaquim da Veiga Valle (1806-1874) no século XIX e início do século XX. O período dessa produção artística abrange de 1820 a 1940. Não apresento um estudo histórico secular, e sim a biografia dos artistas e suas obras. 

A pesquisadora Raquel Machado com o artista Demétrio Pompeu de Pina e a escultura do Menino Deus, obra de Antônio de Sá. (Foto: Acervo Pessoal)

Arte santeira: pesquisa em campo além de Pirenópolis e da Cidade de Goiás

O objetivo, a princípio, era realizar um estudo comparativo entre as obras de Veiga Valle e de seu filho Henrique Ernesto da Veiga Jardim (1849-1933). No entanto, no decorrer da pesquisa, descobri que havia outros santeiros goianos que mereciam ser reconhecidos, isto é, sair de sua condição de anonimato e passar a ter visibilidade. O intuito passou a ser a descoberta dessas obras, buscar sua localização e algum documento que comprovasse a autoria.

A pesquisa  foi feita nas cidades de Goiás, Pirenópolis, Jaraguá e também em Cuiabá,onde visitei igrejas, museus, arquivos, bibliotecas. Entre os santeiros goianos destacados estão os pirenopolinos Antônio de Sá (1879-1905) e Francisco Ignácio da Luz (1821-1878); os vilaboenses Henrique Ernesto da Veiga Jardim e Sebastião da Silva de Jesus, este conhecido como Sebastião Epifânio (1869-1937). 

Para entender a imaginária religiosa em Goiás, considerei pertinente a definição de um grupo de imagens para o estudo iconográfico: as esculturas do Menino Deus, que foram escolhidas por sua presença nas festas religiosas goianas e por terem sido realizadas, em boa quantidade, por Veiga Valle e, entre os santeiros estudados, somente o padre Francisco Ignácio não o esculpiu ou não se teve notícia a esse respeito. Além dos “Meninos Deus” destaco também as esculturas de Nossa Senhora da Conceição feitas por estes santeiros em estudo.

Por meio de documentos e análise iconográfica, procurei tirar alguns santeiros do anonimato, valorizar a sua arte, herança ao patrimônio cultural goiano, destacar que essa imaginária religiosa possui grande significado devocional e objeto artístico. Muitas dessas obras se encontram em acervos particulares ou estão expostas em museus e outras ainda estão em igrejas. Outras imagens foram roubadas e não se conhece o paradeiro. Você pode ver toda a pesquisa na íntegra clicando aqui.

Raquel de Souza Machado é professora, mestre em História e pesquisadora em Arte Sacra Goiana