28 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:34

A Democracia Messiânica e a imprensa-livre de todos nós

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Até parece que apenas o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) está certo quando se trata do assunto que se desencadeia desde a semana passada: o desmatamento da Amazônia. Os estudos de Institutos (inclusive os do próprio Inpe), as imagens de satélites, profissionais, pesquisadores, estudiosos e ambientalistas entre outros se tornaram “inimigos do Brasil”. “Maus Brasileiros” que produzem fakenews, segundo o presidente. Aliás, o Messias está certo em absolutamente todos os assuntos e jogue-se fora tudo que possa o contrariar. Ele sequer precisa de assessores que o defendam já que tem uma milícia virtual que acredita em cada palavra e virgula que diz ou escreve.

E a imprensa? Ah, a imprensa… Tão cruel e anti-patriótica à serviço de comunistas e bolivarianos. Sequer deixa o Messias governar. “A campanha acabou para a imprensa. Eu ganhei! A imprensa tem que entender que eu ganhei. Eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro, ganhou, porra! Ganhou, porra! Vamos entender isso”, desabafou o presidente ontem (05/08) em Sobradinho na Bahia, visivelmente irritado. Até parece que boa parte do que a imprensa repercute não são suas próprias falas de seus discursos ou suas frases a lá “Golden Shower” publicadas em seu Twitter em formato de comunicação oficial.

Nesta terça-feira (06/08), Bolsonaro anunciou uma Medida Provisória que faz com que empresas estatais e privadas deixem de publicar seus balanços em jornais impressos. A decisão fará com que o setor deixe de faturar aproximadamente 600 milhões por ano. No seu discurso, Bolsonaro não poupou ironias aos veículos de comunicação que por algum motivo, fazem críticas ao seu governo. Disparou dizendo que são partidários. “O que eu preciso é a verdade. Eu quero que a imprensa venda a verdade pro povo brasileiro e não faça política partidária como vem fazendo alguns órgãos de imprensa”. Parece que Bolsonaro tem a verdade absoluta em punhos e as carrega assinando decretos em sua caneta “BIC ou Compactor”. A verdade que Bolsonaro quer nos veículos de comunicação parece ser apenas uma extensão à sua assessoria de imprensa, se é que ela existe.

Falando sobre o jornalismo e papel do jornalista: este não age para obter resultados que não sejam o de bem informar o público, com o máximo cuidado possível dentro do que lhe cabe, seja na checagem dos fatos ou na construção da matéria. Fora isso, o jornalista não tem qualquer outra autorização para perseguir outros fins. E o que o jornalismo brasileiro tem feito ao longo dos últimos anos? Sempre foi o de confronto. Jornalismo por si só, é oposição, gostem ou não governos ou militantes partidários, sejam eles lulistas ou bolsonaristas.

Ter bons profissionais que questionem e que tenham olhares perspicazes sobre cada declaração e fala de autoridades é extremamente importante para a democracia brasileira. Sejam estes de direita ou de esquerda. Isso, claro, incomoda os detentores do poder que almejam fazer o que bem entenderem, deleitando-se no seu momentâneo poderio. Gostam do debate fechado, apenas dentro do seu gabinete, com uma equipe que tem o mesmo pensamento, sem espaço para o contraditório. Este tipo de debate, não é produtivo. É no público e ouvindo vozes diferentes que os debates encontram melhores consistências e a partir daí, fundamentos para buscar melhores soluções. E ainda vivemos numa democracia. Queremos saber o que é decidido e planejado com transparência e amplo diálogo, até mesmo com aqueles que possam discordar daqueles que estão no poder. O contrário disso cabe aos intolerantes e qual seria o sentido para a intolerância numa democracia livre e saudável?

Sonegar à informação do público, como o senhor presidente insinua que quer fazer, silenciando e atacando todo o tempo à imprensa e os especialistas que tem voz para atingir um grande público é característica de um político autoritário que sequestra pouco-a-pouco e lentamente a democracia por meio do voto. Não há outro belo exemplo do que a “censura velada” sofrida por Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe ao anunciar os dados referentes ao desmatamento da Amazônia. Qualquer outro líder de uma democracia saudável no mundo se constrangeria sim com as informações que ali estavam sendo postas. E claro: na sequência sentaria com os envolvidos em busca de soluções para o problema. Jamais buscar o silenciamento e a sonegação da mensagem.

Quer mais? O ministro da Cidadania, Osmar Terra engavetar uma pesquisa que custou 7 milhões aos cofres públicos e demorou anos para ser feita, apenas porque não concordou com o que ela apontava. Sem apresentar nenhuma número que pudesse rebatê-la. Apenas confiando em seu senso comum. “A tentativa de desqualificar a Fiocruz é algo assustador, sombrio e medieval”, chegou a comentar o jornalista especializado em meio-ambiente André Trigueiro, na CBN.

Os ataques à aqueles que discordam minimamente do presidente eleito só fazem que o país avance à passos largos para uma forma de governar cada vez mais fechada, sem espaço para o contraditório em uma democracia messiânica cada vez mais nebulosa, porém, eleita por voto popular.