Por Antônio Silva (@antoniosilvva)
Maio do ano passado. Aniversário de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Cachoeira. Como é natural na relação de pessoas próximas, o governador de Goiás liga para cumprimentar, ao que parece, o bom amigo. Normal, se nas entrevistas não insistisse em dizer que mantém apenas relação formal, com o contraventor. Nas suas falas, de maneira coerente, reafirma que o homem público está aberto ao diálogo, o que visa o desenvolvimento econômico do Estado.
Entretanto, conforme publicado pela imprensa nesta sexta-feira (11), o que se percebe nas trocas de gentileza, a proximidade vai além do mundo dos negócios.
Marconi – Liderança!
Cachoeira – Fala amigo, tudo bem?
Marconi – Rapaz, faz festa e não chama os amigos?
Cachoeira – Ah! O quê que é isso?
Marconi – Parabéns!
Cachoeira – Tudo bem? Obrigado pela lembrança, viu governador.
Marconi – … que Deus continue te abençoando aí, te dando saúde, sorte.
Cachoeira – Amém, muito obrigado, viu?
O que chama mais a atenção é a frase “que Deus continue te abençoando aí, te dando saúde, sorte“, embora seja uma conversa do cotidiano, mas vale ressaltar que a fala, tem muitos sentidos, mas neste contexto, é possível acreditar no desejo do governador para o êxito nos bons negócios, destacando as jogadas arriscadas, peculiar ao sistema capitalista de um jogador – daí a primeira palavra, do início da conversa: Liderança!
Pois bem, “que Deus continue dando sorte”. Ramos, realmente viveu perigosamente, a margem dos princípios sociais. Não é possível qualquer tipo de afirmação, que o governador sabia dos empreendimentos do bicheiro.
Outro ponto importante. Como distanciar o eleito das questões públicas, no seu convívio das relações privadas. Quem frequenta a casa de um governador – ou recebe-o – certamente mantém certa influência sobre suas decisões, ou na pior das hipóteses mantém um diálogo, o que pressupõe condições privilegiadas para obter informações, que ultrapassam os limites do particular. “Digas com quem andas e direis quem es”, talvez seja um provérbio que merece reflexão, embora não sendo absoluto, cabe advertir.
Se assim for, as relações do político dizem respeito à esfera pública, e a imprensa. Se não quer ser representação há outros caminhos mais tranquilos para isso, inclusive projetos de empreendedorismos, que se cerca no particular, sobremaneira.
O governador Marconi Perillo, de maneira ríspida, deixa transparecer o seu senso de humor, para uma questão sempre repetitiva: como foi feita a negociação da casa em que morava, no valor de R$1,4 milhão, em área nobre de Goiânia? Exatamente o imóvel em que Cachoeira foi preso pela Polícia Federal, numa operação de sigilo, que certamente nem mesmo Perillo foi informado pelos seus assessores. Portanto, havia desconfiança por parte da operação, no quesito político.
A grande pergunta que continua sem resposta não é sobre o direito privado de um governador vender a “sua” casa, mas saber “com quem andas”, se as negociações são feitas para o bem do povo, ou realmente diz respeito somente ao limite dos espaços privados. Eis a questão.
Antonio S. Silva é Jornalista, mestre pela PUC/SP, doutorando pela UnB e professor.