14 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 15/06/2022 às 13:49

18 de maio: Araceli vive!

Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

No dia 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Sánchez Crespo, de apenas 8 anos, saiu da escola mais cedo com autorização da mãe. Ela ainda foi vista brincando com um gato em um bar da região, antes de desaparecer. Foi a última vez que a menina foi vista com vida. O corpo de Araceli foi encontrado dias depois em um matagal atrás de um hospital, desfigurado e já em estado de decomposição. A investigação constatou que ela foi raptada, drogada e estuprada antes de ser morta. Mas um fato que é tão chocante e revoltante quanto esse crime brutal e atroz que aconteceu 49 anos atrás em Vitória, no Espírito Santo, é que ele continua sem solução.

Foi justamente o 18 de maio, o dia em que Araceli Crespo não conseguiu subir naquele ônibus próximo à sua escola, o escolhido para ser a data em que unimos nossos pensamentos e ações em torno de uma premissa que deveria ser entoada tal qual um mantra: o combate à violência sexual contra nossas criancas e adolescentes deve ser uma luta constante, feroz, incansável e universal.

De acordo com dados do Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, divulgado no ano passado pela Unicef, 35 mil crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram mortos de forma violenta no Brasil – média de 7 mil por ano – entre 2016 e 2020. Além disso de 2017 a 2020, 180 mil sofreram violência sexual o que corresponde a uma média de 45 mil por ano São milhares de “Aracelis” que perderam suas vidas ou adquiriram sequelas e traumas que as acompanharão para o resto da vida vítimas de indivíduos monstruosos e covardes a ponto de causar mal a quem não possui a mínima condição de se defender.

O Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes tem não só o enorme peso simbólico do caso da menina Araceli Crespo, mas também a lembrança da responsabilidade que temos para com nossas crianças: Afinal, o 18 de maio também é, além de tudo, um dia de conscientização.

Sim, além de fortalecer as instituições de combate a esse crime horrendo, é nosso dever ouvir uma criança e nos preocupar quando ela contar, em sua própria linguagem, que algo a está incomodando. É nosso dever conversar com nossos adolescentes abertamente e informar de um jeito que eles entendam o que é abuso, como denunciar esse crime e que eles têm com quem contar. E nosso dever fazer com quem a pauta do abuso sexual contra crianças e adolescentes seja frequente nos diálogos, debates e reuniões. É nossa obrigação fortalecer as redes de proteção e as delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente, cuidando e protegendo aqueles que não podem fazê-lo sozinhos.

É difícil, é doloroso engolir o fato de que o crime bárbaro contra a pequena Araceli siga até hoje sem punição. Mas por ela e por todas as crianças que, neste momento, encontram-se silenciadas, continuaremos lutando para que suas vozes sejam ouvidas, e seus agressores punidos com o rigor da lei que esse crime hediondo merece.

Adriana Accorsi é delegada e membro da Polícia Civil há 22 anos e está em seu segundo mandato como deputada estadual por Goiás

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