“Todos veem aquilo que pareces, poucos sentem o que és”
(Nicolau Maquiavel)
Por Helmiton Prateado, jornalista. Texto publicado originalmente no jornal Diário da Manhã (19/08/13)
A liberdade de expressão é um dos valores mais caros à sociedade brasileira. Por sua consolidação milhares de pessoas foram às ruas e enfrentaram a dureza da repressão imposta pelos militares. O centro da luta política nas décadas de 1970 e a primeira metade dos anos 1980 era lutar por liberdade, poder dizer seu sentimento, expressar seu desejo, pensar e poder falar. A conquista se deu com o expurgo dos meganhas do poder e a volta da democracia.
Foram tempos bons, românticos, embalados por canções que falavam de liberdade, de amor, de mudanças, e sorrisos nas praças e da construção de um Brasil para os brasileiros. De democracia, de respeito entre os cidadãos e de estabelecimento de um contraditório saudável que permita a evolução humana. Sonhamos muito em que não voltaria o tempo da mordaça no Brasil, da repressão e do uso da força, de toda forma de força para calar o povo e que ditadores não teriam mais vez no País.
Me lembro que no movimento estudantil havia bons valores que se tornariam ao longo dos anos seguintes qualificados homens e mulheres públicos que exercitariam a democracia em seu estado lapidado. Havia também os filhotes espúrios da ditadura, falsos, dissimulados, peçonhentos, pútridos e asquerosos, que aprenderam apenas a usar o poder em proveito próprio e para servir a seus interesses nefastos. Vamos falar dos dois tipos.
Recordo de um jovem expoente no PMDB Jovem, que se formava na luta pela democracia e tinha bom discurso, capaz de agregar muitos outros ao seu redor. Que obteve o respeito e admiração de vultos políticos da época, como Henrique Santillo, e que soube ocupar com mestria o espaço que se descortinou à sua frente. Esse promissor quadro político aprendeu na luta com seus professores que o exercício do poder é a liderança conquistada no convencimento, na prática da dialética como fundamento de posições assumidas dentro do tabuleiro político. Esse jovem valor atendia pelo nome de Marconi Ferreira Perillo Júnior e se sabia desde antes que ele seria uma estrela de primeira grandeza. De riso fácil e sincero, sedutor nas palavras, raciocínio veloz como um raio, articulado na colocação das ideias e tino para governar lapidado ao longo dos anos de prática política.
No outro extremo existiam indivíduos que sugaram o quanto puderam as tetas da ditadura militar e aprenderam o que havia de pior para ser ensinado naquele meio. A mentira, a dissimulação, o uso desmedido da força, o terror, o fuxico, a intriga foram as lições que começaram recebendo em casa e aprimoraram nos corredores do poder que frequentavam. O produto não poderia sair diferente.
Pois, chegamos em 2013, no terceiro mandato do governador Marconi Perillo não sabendo onde foi criada a crosta que tirou parte do brilho que encantou os goianos e provocou uma ruptura histórica em 1998. Onde ficou o defensor de primeira hora da democracia, perguntam uns. Por que caminhos se desviou o arauto da liberdade. Onde foi parar o escudeiro dos direitos de expressão das multidões, indagam outros. Mudou ele ou mudou a periferia que influencia seus pensamentos, sonhos e pregação.
O jovem que discursava a favor da liberdade se um tornou rancoroso usurário da Justiça, um pedinte para que a força se reverta contra quem quer falar, mesmo que lhe seja criticando ou cobrando. Que triste mudança. Posso até não concordar com muito do que seus críticos dizem, mas defenderei com todas as minhas forças seu direito de dizê-lo.
O erro, dileto Marconi, está em abandonar o legítimo campo das ideias e das palavras para usar a força e fazer calar quem faz da crítica uma maneira de auxiliá-lo. Ouso chama-lo dileto, porque como muitos companheiros nossos, aprendemos a admirá-lo e por muitas vezes ombreamos em sua defesa. Eu mesmo, encarei de frente líderes do PMDB e do PT em seu auxílio de forma abnegada e, creio, não saiba mesmo que isto tenha ocorrido.
Mas, vamos aos fatos, porque contra eles não existem argumentos que sobrevivam. A esmagadora maioria dos que agora você leva às barras dos tribunais processando-os e pedindo para que sejam calados foram seus defensores e até eleitores em 1998 e outros pleitos, inclusive eu. Sabíamos que era necessário renovar e que seu nome era o novo que nossa gente ansiava e que poderia dar o impulso que Goiás precisava para crescer.
Nomes como Marcus Vinícius, Vassil Oliveira, Altair Tavares, Laerte Júnior foram defensores de primeira hora da mudança salutar que seu nome representava. Sonhamos que o “Tempo Novo” daria novo alento ao combalido processo de desenvolvimento que nosso Estado vivia à época e não tivemos dúvida em nos postar de pé com força e determinação para defender que seu nome era o melhor para Goiás.
Agora vamos ao outro extremo. O “lado negro da lua”, a face oculta da maldade, é representado por quem lhe cuspiu naquela época e que hoje lhe corteja. Falo e posso provar que os irmãos Bittencourt – José Luiz Filho, Paulo e João Bosco – viviam noite e dia a desídia de lhe achacar com mentiras, calúnias e malfeitos. Enquanto uma carreata da frente do “Tempo Novo” liderada por Marconi Perillo percorria as avenidas de Goiânia e passava à porta da Styllus Publicidade, que nessa época era o quartel-general do candidato do PMDB, Iris Rezende, três figuras se destacavam na frente daquela agência de propaganda com cartazes nas mãos.
Os três irmãos brandiam banners com cópias de cheques de Marconi Perillo e gritavam a plenos pulmões: “Marconi, seu malandro, vem pagar seus cheques sem fundo.” Ou, o pior: “Marconi, safado, pague suas dívidas.” Isto mesmo, eram deles as vozes mais raivosas que destilavam venenos contra Marconi Perillo. Seu estilo “boca de sepultura” exalava o ódio que sempre nutrem por quem alcança o que não podem conseguir. Caro Marconi é bom que saiba como são chamados os Bittencourt no meio da comunicação e que agora extrapolou para outros setores: “Irmãos Metralha”, numa referência à fraternidade de “foras-da-lei” das histórias em quadrinhos. Ninguém, mas ninguém mesmo, recebe uma alcunha dessas impunemente. É preciso ter feito muito para ganhar essa referência (nada) elogiosa.
Hoje é deles a influência para que Marconi judicialize todas as críticas que recebe. Com especial destaque para João Bosco Bittencourt, assessor especial do governador, que é incapaz de sair para a frente legítima de batalha e usar a linguagem e a argumentação para promover a defesa do governo. Esse é o mais dissimulado dos irmãos. A indicação para que o governador leve para a Justiça todos os assuntos referentes às referências feitas a ele na imprensa é de exclusividade dos filhotes da maldade cultivada nas pocilgas da ditadura. Janotinhas ignóbeis que disseminam a cizânia e a desarmonia por onde passam.
O ônus se reverte contra o governador Marconi Perillo. Sua imagem se transmuta para antidemocrático, de quem não pode ouvir uma crítica e de busca a todo custo calar a voz de quem exercita a democracia e a liberdade. Que reversão terrível. Que degradação para um homem que foi formado na luta pela liberdade. Incapaz de travar um debate salutar e engrandecedor, mostrando com fatos sua versão e se sustentando apenas na falácia de mandar calar a boca sem ter a menor razão. É uma grande pena.
Até mesmo eu e o Diário da Manhã fomos alvo de sua investida na Justiça de forma intimidadora. Logo o Diário da Manhã, e seu compadre Batista Custódio, que brigou com o mundo para lhe defender, foi acionado judicialmente por interveniência dos Bittencourt. Notem que até Sueli Arantes, amiga e companheira de primeira hora de Marconi Perillo, está sendo processada pelos “Irmãos Metralha”. Logo ela, que é amiga do governador, desde os tempos que os Bittencourt eram inimigos viscerais de Marconi Perillo.
Sem contar que João Bosco Bittencourt só foi readmitido no DM a pedido de Sueli e que ele mesmo cuidou de fritá-la e demiti-la depois. Bem que avisamos que ela estava “criando cobras para mordê-la”. João Bosco Bittencourt dizia, até bem pouco tempo, que Batista Custódio estava “velho demais para continuar tocando o Diário da Manhã” e que em breve sucumbiria. Se um sujeito falasse alguma coisa tão vil sobre um compadre meu levaria e ainda leva um contravapor tão grande nas fuças que perguntará três dias depois se o que lhe ocorreu foi um “coice de mula” ou foi “castigo de Deus”. Além do mais, Batista tem discípulos, amigos e sócios de briga leais, que não hesitam em saltar à sua frente para defendê-lo da sanha de abutres como esses.
O mais curioso é que eles se gabam de ser intelectuais, pensadores, formuladores de estratégias. Desde o início do governo atual, em 2011 e principalmente durante o ano de 2012, em que o governador Marconi Perillo esteve sob fogo cerrado e foi alvo de uma investigação do Congresso, nenhum deles abriu a boca ou escreveu qualquer artigo para defender seu suserano. Nenhum “Metralha” colocou a cabeça para fora e gritou em defesa de Marconi Perillo e de seu governo. Qual nada, são ossadas mentais, que cristalizadas pela maldade não revelam nada mais latente ou que demonstre vida, amor e sentimento. O mais provável é que no meio da imprensa o nome Bittencourt seja o famoso “espanta rodinha”, bastando que seja pronunciado para acabar com a conversa. Basta que o governador indague de alguns jornalistas qual é a imagem que fazem dos irmãos. A referência mais elogiosa é que o punhal dos Bittencourt jamais enferruja: está sempre cravado nas costas de alguém. Esse próximo alguém, entorpecido Marconi, podes supor quem seja?
Talvez o mais cruel dos irmãos seja José Luiz Bittencourt Filho. Acatando indicações de outras pessoas o governador Marconi Perillo indicou-o para a presidência da Agência Goiana de Comunicação (Agecom). Que tristeza para seu governo. Somente no ano de 2012 a Agecom consumiu R$ 150 milhões em gastos com publicidade. As contas de sua gestão não suportam 10 minutos de uma auditoria bem feita e são inúmeras as denúncias de malversação do dinheiro do órgão. Já existem investigações sobre isto e torço para que nada do que for levantado respingue diretamente no gestor principal: o governador. Apesar disso, Marconi, faça uma pesquisa entre seus auxiliares com peso moral e intelectual: dirão de seu receio sobre o que pode comprometer a imagem do governo com relação à gestão dessa súcia na área de comunicação e muitos dirão da insatisfação de tê-los por perto.
Mas, o uso da maldade engendrado pelos Bittencourt não para por aí. Usaram dinheiro, estrutura e influência com seus cargos no governo para montar uma central de espionagem telemática já denunciados e objeto de investigação. O famoso caso do Mr. Magoo, financiado com dinheiro da Agecom e operado por um casal de comparsas dos irmãos é conhecido e se for apurado com rigor será mais um problema para o governo. Aliás, os irmãos não têm amigos, têm comparsas. Eles não se relacionam, fazem conluios. Diziam que o Diário da Manhã estaria fechado até o final de 2012 e que eles herdariam o espólio.
Creio que tenha sido por isto que tentaram asfixiar o jornal impedindo que anúncios do governo chegassem ao DM. Creio também que o governador Marconi Perillo não saiba do plano de asfixia financeira que os “Irmãos Metralha” engendraram e executaram para tentar fechar o Diário e assumir seu controle. Isto seria a adaga na jugular de Marconi, que ficaria refém deles para sempre com um jornal nas mãos para perpetrar seus planos sórdidos e sua maldade sem limites. Muitos acreditam que Marconi não saiba da “central da improbidade” montada quando os irmãos se reúnem com seus cupinchas para tramar a tunga sobre os cofres do governo.
Criaram e financiam também com dinheiro do governo um site de notícias que funciona como “porta-voz” dos ataques e das maldades dos Bittencourt: o Goiás 24 Horas. Seu editor é funcionário do governo, Cristiano Silva, assessor de imprensa da Agência Goiana de Esporte e Lazer (Agel). Bonito, não. Um assessor pago pelo governo recebe ainda mais dinheiro desse governo para atacar oposicionistas e aliados do próprio governo, desde que sejam inimigos dos Bittencourt. Falo e provo: usaram o Goiás 24 Horas para tentar achacar, constranger e pressionar o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Helder Valim e secretários de primeira linha como Vilmar Rocha e Giuseppe Vecci, além de conselheiros do Tribunal de Contas e outros órgãos.
Governador Marconi Perillo, sob influência deles estás cometendo erros crassos. Um dos mais graves é aumentar de forma deliberada o leque de animosidades. Os sábios pensamentos de Sun Tzu, na Arte da Guerra, lecionam que “um general não pode abrir várias frentes de batalha”. Além do mais, estás tripudiando sobre quem já lhe defendeu com orgulho. Não se escarra a mão que te acaricia, é de péssimo alvitre isto.
Quando perceber o quanto isto está sendo nefasto terás construído uma legião de amargas lembranças em quem sempre lhe teve admiração e respeito. Ouça vozes que sofreram punhaladas nas costas desses mesmos indivíduos que hoje lhe cortejam a presença com a falsidade no olhar e nos gestos. Antecessores seus como Irapuan Costa Júnior e Iris Rezende sofreram a deslealdade e a desgraça praticadas com satisfação por essa súcia chamada Bittencourt. O principal sustentáculo de sua campanha em 1998, o ex-prefeito Nion Albernaz, não consegue ouvir uma referência aos irmãos Bittencourt sem demonstrar seu asco e repulsa.
Como gostam de se intitular pensadores e artífices da linguagem estou autorizado a lhes franquear as edições do Diário da Manhã para que venham para o limpo campo de debate de ideias. Que saiam do pântano putrefato da dissimulação e dos ardis para a discussão sobre suas posições acerca do governo e do que fazem nele. Venham debater com Vassil Oliveira, Marcus Vinícius, Sueli Arantes, Altair Tavares, Lênia Soares. Defendam o governo com posições claras e argumentos irrefutáveis. Neguem que não foram a tropa de choque de xingatórios a Marconi. Digam que gozam de respeito e consideração junto aos governantes que citei. Refutem as dúvidas sobre a gestão Bittencourt na Agecom. Desmintam a versão de que não financiam blogs e sites de ataques pessoais a oposicionistas e desafetos seus dentro do próprio governo. Provem que são respeitados e admirados entre os profissionais de imprensa.
Dileto governador Marconi Perillo, pesquisas qualitativas revelam com precisão milimétrica que o povo goiano anseia pelo Marconi de 1998, aquela simpatia de candidato que pedia votos para que o “Tempo Novo” soprasse seus ventos em Goiás. Ouça o apelo de nosso povo e mostre que é possível renovar-se e voltar a ser a esperança materializada no místico “moço da camisa azul”. Use o que aprendeu de melhor: dialogue, ouça, aprenda a conviver com adversidades e críticas. Deixe que a luz te liberte e resplandeça os ideais maiores de nossa gente.
Usar a força qualquer homem pode fazê-lo. Ter força para convencer com argumentos só estadistas conseguem. Goiás lhe quer estadista e não uma vaga lembrança de um sonho perdido na história.
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