BRASÍLIA, DF, E SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal deflagrou nesta terça (4) a Operação Hidra de Lerna, que investiga um grupo criminoso responsável tanto pela possível prática de financiamento ilegal de campanhas políticas na Bahia quanto por esquemas de fraudes em licitações e contratos no Ministério das Cidades. Entre os alvos estão a construtora OAS, também investigada na Lava Jato, o diretório do PT na Bahia e a empresa de comunicação Propeg.
Governador da Bahia, Rui Costa (PT) é um dos investigados na operação, que apura se o esquema de financiamento foi usado na campanha eleitoral dele ao governo do Estado em 2014. O ex-ministro Márcio Fortes (Cidades) também é investigado.
A sede do PT na Bahia foi isolada para evitar que o local fosse foco de manifestações. A ação cumpre 16 mandados de busca e apreensão. Em razão do foro por prerrogativa de função de alguns investigados, foram todos deferidos pela Ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A casa do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP), no Itaigara, é alvo de buscas. A Polícia Federal também fez busca e apreensão em um apartamento no bairro da Vitória e em uma casa no bairro de Stela Maris.
Na Vitória, os policiais foram ao prédio onde morava o publicitário Fernando Barros, dono da Propeg, endereço onde ainda mora a sua ex-mulher.
Além de ter sido a principal agência de publicidade a atuar nas campanhas carlistas, a Propeg ganhou contratos no governo federal durante os governos Lula e Dilma. Atualmente, possui um contrato de publicidade com a Secretaria de Comunicação do Governo Federal.
A Hidra de Lerna deriva de três colaborações premiadas feitas no âmbito da Operação Acrônimo, já homologadas pela Justiça e em contínuo processo de validação pela Polícia Federal. Tem como origem dois novos inquéritos em tramitação no STJ e cuja distribuição entre os ministros da corte ocorreu de forma automática.
A PF suspeita que os esquemas investigados realizassem triangulações com o objetivo de financiar ilegalmente campanhas eleitorais. Para isso, a empreiteira sob investigação contratava de maneira fictícia empresas do ramo de comunicação especializadas na realização de campanhas políticas, remunerando serviços prestados a partidos políticos. Em outra direção, a PF pretende investigar a ocorrência de fraudes em licitações e contratos no Ministério das Cidades.
O nome Hidra de Lerna remete à figura da mitologia helênica, que ao ter a cabeça cortada ressurge com duas cabeças. Para os investigadores, a Operação Acrônimo, ao chegar a um dos líderes de uma organização criminosa, se deparou com uma investigação que se desdobra e exige a abertura de dois novos inquéritos.
OUTRO LADO
Em nota, o Ministério das Cidades disse que não recebeu nenhuma notificação sobre a operação da Polícia Federal. “Em poder das informações, a pasta terá condições de avaliar do que se trata e capacidade de instaurar, imediatamente, processos administrativos disciplinares para investigar a denúncia.”
A nota afirma que o ministério vai colaborar “com todas as informações necessárias para garantir eficiência e transparência na aplicação dos recursos citados”.
Presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação afirma que o partido vê a ação da PF com surpresa: “Nunca tivemos nenhuma ligação com a Propeg”.
O petista ainda acusou a Polícia Federal de agir com sensacionalismo: “Eles interditaram a rua inteira, arrombaram a sede e depredaram nosso patrimônio, numa ação desnecessária”.
Procurado, o ex-ministro das Cidades e hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, Mário Negromonte, afirmou à reportagem que não conhece o teor do inquérito, mas negou ter cometido qualquer tipo de irregularidade: “Não tenho nenhum envolvimento neste negócio”.
Segundo ele, a Polícia Federal levou apenas dois telefones celulares antigos seus: “Não encontraram nada, nenhum documento”, disse.
A Propeg, agência de publicidade comandada por Fernando Barros, é conhecida na Bahia pelas relações estreitas com o grupo do senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), de quem fazia as campanhas políticas e tinha contas do governo estadual. Em nota, a agência confirmou que a PF fez buscas nos seus escritórios em Salvador Brasília e em casas de executivos da empresa. A empresa afirma que “tem auxiliado, por iniciativa própria, desde junho deste ano, as autoridades judiciais para esclarecer e apurar os fatos investigados”. Diz ainda que “age com correção, respeito às leis e seguindo as normas do mercado publicitário”.
A Propeg diz que a apuração não possui “qualquer conexão com o Partido dos Trabalhadores, o Governador do Estado da Bahia e com a empresa OAS”.
LEI ELEITORAL
A operação ocorre no dia em que termina a restrição a prisões durante o período eleitoral. Por lei, até as 17h desta terça, nenhum eleitor pode ser preso ou detido, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável ou por desrespeito a salvo-conduto.
Leia mais sobre: Brasil