07 de agosto de 2024
Política

Onda conservadora e intolerância são preocupantes, diz Haddad

O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad , destacou em entrevista ao Diário de Goiás que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem que lutar contra a onda conservadora que esta tomando conta do mundo. Ele defendeu a candidatura do ex-presidente Lula.

Ele fez uma meia culpa e destacou que nenhum prefeito petista que perdeu as eleições no ano passado foi julgado apenas por sua gestão e sim por todo o ambiente politico que envolve hoje o país.

Hadad afirma que é preciso combater a onda conservadora que chegou ao Brasil “Estamos em uma onda conservadora muito séria, o nível de intolerância no mundo está crescendo demais, as fronteiras estão se fechando, as pessoas estão recolhidas, a violência e a desigualdade estão crescendo. Não é um mundo que nós queremos. Nós queremos retomar um processo que vinha bem até pouco tempo atrás, até 2014, de inclusão das pessoas, de respeito ao trabalhador, de combate à miséria”.

 

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O senhor tem feito críticas em relação à falta de análise do PT e PSDB, que poderiam ter aprovado a Reforma Política. Muitos não gostaram dessa informação. Como o senhor avalia isso?

Estamos em um momento que não é o caso de agradar quem quer que seja. A gente está em um momento de profunda crise e que nós temos a obrigação de buscar caminhos para superar a crise e tentar entender a raiz dessa crise, quais foram os mecanismos que nos fizeram chegar a ela, o grau de profundidade que está afetando a vida de milhões de brasileiros. Temos que ter responsabilidade com o país. Então, as reflexões não fulanizam o debate, não ficam apontando dedo para quem quer que seja. O objetivo é fazer uma reflexão sobre o que nos trouxe até aqui. Uma das razões, sem dúvida, é óbvio que PT e PSDB são partidos muito diferentes, que olham para o Brasil de forma diferente, e vão olhar sempre assim. E é bom que seja assim, porque os partidos não precisam ser semelhantes uns aos outros senão não faz sentido ter pluralidade partidária. Cada um tem que defender uma bandeira. Mas apesar das divergências, havia há tempos um solo comum que era da necessidade da Reforma Política. Nós não podíamos nos manter reféns do atraso. Tínhamos que ter feito a Reforma Política e se um dos partidos, quando no poder, tiver chamado o outro para conversar, eu penso que teria saído para proteger o Brasil dos maus empresários, dos maus políticos. Isso é uma questão de inteligência. Para proteger o Estado, a República dos maus brasileiros que existem em toda a parte. Tem mau brasileiro para todo lado, mas não é a maioria da população.

Todos os partidos estão em divisão interna. Dá para pensar em uma conversa entre partidos?

Por isso que eu fazia referência a um tempo em que PT e PSDB eram partidos muito fortes. Hoje os partidos estão debilitados, todos, sem exceção. Estão muito debilitados, sobretudo aos olhos da opinião pública. E para fazer reformas dessa envergadura é preciso ter autoridade política e moral para bater o pé e falar “Vai sair”. Por isso que eu fazia referência a um tempo em que esses dois partidos capitanearam o processo político no Brasil desde 1994, com força e autoridade moral para poder propor uma agenda institucional. Isso não significa dizer que o PT tinha que abrir mão das bandeiras dele nem o PSDB abrir mão das dele, não tem nada a ver. Cada partido tem sua visão de mundo, e tem que ser assim. É assim no mundo inteiro. Os democratas e republicanos nos Estados Unidos têm visões de mundo diferentes. Na França é assim, na Inglaterra é assim, os trabalhistas e os liberalistas são diferentes. Contudo, existe uma coisa, não é só instinto de sobrevivência, é o instinto de proteção da sociedade, é aquela parte institucional que tem que ser preservada por todo mundo, independentemente da bandeira que impunha. É isso que faltou. Acho que faltou defender o Estado dos maus brasileiros, maus empresários, maus políticos, gente que não devia estar na cena pública e que ocupou espaço demais. Está surgindo aos olhos da opinião pública.

Qual o próximo passo?

Tentar reparar o mau que já foi feito. Eu digo: tem muita gente boa no PT e no PSDB, no PMDB, tem gente boa em qualquer lugar. Porque a maioria das pessoas é de bem. Nós precisamos ter noção da gravidade da crise, temos que fazer a Reforma Política. O Supremo Tribunal Federal já fez uma parte, proibindo a doação empresarial para campanhas. Isso já foi uma grande coisa. Agora, coligação proporcional, que é onde o tomá-la-dá-cá acontece, com participação exclusiva de empresários, que acabam financiando esses acordos espúrios, isso tinha que acabar.

Se não acabar agora, perderão uma grande oportunidade?

Talvez a última. Eu não vejo como a gente entrar na eleição de 2018 com esse estado de coisa. Vamos reproduzir em 2018, por mais quatro anos, todos os vícios que sabemos que o sistema tem ao invés de preservar o sistema para dar uma resposta para a sociedade. A sociedade não é obrigada a conhecer os meandros da política. Ninguém sabe o que é coligação proporcional. Se as pessoas forem perguntadas. Coligação proporcional é o que permite você votar hoje em um partido e eleger um deputado de outro partido, que estão coligados. Isso é inconstitucional, todo mundo sabe disso, mas ninguém toma providência.

Deixar a proporcionalidade adianta?

Chama distritão, é uma calamidade pública, porque você acaba com o conceito de bandeira partidária. Ao invés de ter no espectro político visões de mundo claras, que as pessoas se identifiquem e votem, como é no mundo, você vai se identificar com personalidades, aí teremos um esvaziamento dessa visão mais geral de como uma sociedade tem que se organizar. Então, vamos perder substância democrática e teremos uma democracia de personalidades, de gente famosa.

Isso interessa a quem?

A quem tem programa de TV, quem tem visibilidade pública, quem exerce profissões que tem uma interface com o público muito intensa. Mas o militante do bairro, aquela pessoa que está ali humildemente sem recursos, fazendo um trabalho de base, essa pessoa nunca mais terá a oportunidade de ser eleita.

Qual a saída para o PT?

Eu tenho repetido que a condenação é muito frágil. A maioria dos juristas que eu respeito considera a decisão muito frágil. Porque imaginar que alguém vá lavar dinheiro trocando de apartamento, um barato por um caro, é no mínimo de muita ingenuidade, ninguém faz isso. Não se faz isso, imaginar que você tem uma cota de um apartamento tipo e de repente você aparece com a escritura de uma cobertura e não paga a diferença? Imaginar que isso tenha sido planejado…

Lula poderá ser candidato?

De forma pragmática, tem um recurso no TRF 4 que pode reverter, como aconteceu com Vaccari, que foi inocentado. Direito serve para isso, temos juízes e temos desembargadores, que podem rever a decisão. Se a decisão for revista, Lula é um forte candidato, ainda mais inocentado pelo Tribunal, eu diria que ele é praticamente imbatível. Ele só não tem 60% de intenção de voto porque paira essa dúvida. Se essa dúvida for dissipada…

Caso seja mantida a condenação, o senhor é uma saída?

Não trabalhamos com essa possibilidade até porque seria um grande desrespeito com o presidente. Seria imaginar que essa sentença possa prevalecer, e não é o entendimento de ninguém, que ela prevaleça. Mas nessa hipótese não há nenhuma discussão em curso sobre o que fazer. Na verdade, está um pouco todo mundo apreensivo em resgatar o Estado Democrático de Direito, que as pessoas possam se defender. Um homem que tem 50 anos de vida pública, não tem nada cabal contra ele e a gente tem essa expectativa de reversão. Por isso que não há mesmo nenhum debate sobre plano B, C. Não há nenhum debate dessa natureza, nem teria cabimento a essa altura do campeonato.

Em Goiás, a prioridade pode ser deixar de lançar um candidato a governador e apoiar alguém que apoie Lula. Esse é um caminho?

Eu sempre fui defensor de a gente ampliar para além do partido esse campo mais progressista, mais antenado, mais modernizador. Estamos em uma onda conservadora muito séria, o nível de intolerância no mundo está crescendo demais, as fronteiras estão se fechando, as pessoas estão recolhidas, a violência e a desigualdade estão crescendo. Não é um mundo que nós queremos. Nós queremos retomar um processo que vinha bem até pouco tempo atrás, até 2014, de inclusão das pessoas, de respeito ao trabalhador, de combate à miséria. A Universidade Federal de Goiás dobrou de tamanho, ela tem mais de 30 mil alunos, ela tinha só 13 mil. Isso que dá orgulho, isso que muda o país, aqui está cheio de pobres e negros estudando pela primeira vez. Metade das pessoas que estão aqui vão obter o primeiro diploma da família. Isso muda um país. Nós temos que retomar esse processo, porque só tem esse caminho, educar as pessoas para com uma vida cidadã, de direitos, e resgatar isso é fundamental.

O senhor consegue fazer uma avaliação da gestão do PT em Goiânia, de Paulo Garcia?

Eu não conseguiria fazer, mas eu diria, sem conhecer a administração, que o PT perdeu 60% dos votos entre 2012 e 2016. Então, imaginar que um prefeito possa ser responsabilizado, ninguém do PT foi julgado exclusivamente pela sua gestão. Não que ele não tenha cometido erros. Todo mundo comete, eu cometi os meus, imagino que ele tenha cometido alguns também, porque é impossível administrar sem errar. No balanço geral, imagino que ele tenha mais acertado do que errado, mas não era possível a um prefeito do PT no ano passado conseguir defender sua administração sem que os assuntos estivessem todos misturados com o plano nacional. Era quase impossível. Você saia à rua e as pessoas não estavam discutindo a cidade, as pessoas estavam discutindo o país.


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