19 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 01:19

Oito dos nove pedidos de impeachment têm áudio como base

Presidente Michel Temer. (Foto: AFP)
Presidente Michel Temer. (Foto: AFP)

Dos nove pedidos de impeachment do presidente Michel Temer já protocolados na Câmara dos Deputados, oito têm como base o trecho do áudio em que o presidente supostamente dá aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha na cadeia.

Esse trecho é, contudo, um dos menos conclusivos da conversa gravada entre Temer e o delator Joesley Batista, durante reunião sem registro no Palácio Jaburu, em Brasília, em 7 de março.

Atualmente, há nove pedidos de impeachment protocolados contra o presidente na Câmara. A OAB promete protocolar o décimo na próxima quinta-feira (25).

O pedido da OAB tem como base não o trecho da gravação referente ao Cunha, mas o qual o delator conta que supostamente dá dinheiro a juízes e procuradores da Lava Jato para escapar das investigações.

O próprio presidente confirmou a reunião e o conteúdo desse segmento específico da conversa, mas diz não ter tomado atitude por julgar ser mentira do empresário.

A OAB considera que Temer prevaricou ao não denunciar às autoridades e, portanto, cometera crime de responsabilidade.

Os pedidos já protocolados, no entanto, focam no trecho em que Joesley diz manter boa relação com o ex-deputado Cunha e o doleiro Lúcio Funaro, ambos presos. Temer diz na gravação: “Tem que manter isso, viu?”.

A frase é citada em dois pedidos do deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) e em um do deputado Gualberto Vasconcelos (PSDB-BA).

O áudio do encontro do presidente está no centro de um debate sobre a possibilidade de ter havido ou não edição no arquivo.

Perito contratado pela defesa de Temer diz que o áudio é “imprestável” como prova, já que há pontos de corte e muitos trechos de baixa qualidade ou inaudíveis.

Reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira (23) mostra que a PGR (Procuradoria-Geral da República) buscará focar a denúncia no fato de um emissário indicado por Temer, no caso o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ter sido flagrado com uma mala de dinheiro fruto de propina da JBS.

Na reunião com Joesley Batista, Temer indica Loures como sendo a pessoa para quem o empresário deve endereçar suas demandas de interesse da empresa na área econômica.

Reportagem do portal UOL mostra que Loures e Temer fizeram uma viagem juntos dois dias depois do recebimento da mala de dinheiro pelo parlamentar, em ação filmada pela PGR.

Também conforme registrou a Folha de S.Paulo, ainda que o presidente esteja concentrando esforços para desacreditar o áudio, o inquérito aberto tem ao menos 15 outros elementos que levantam suspeitas acerca da conduta do presidente. O episódio da mala carrega por loures, por exemplo, é um deles.

O pedido de impeachment protocolado pelo deputado tucano João Gualberto Vasconcelos (BA), registrado no último dia 18, um dia, portanto, após os fatos serem vazados, é o único que cita a propina recebida por Loures.

Independentemente dos desdobramentos, há na Câmara sentimento de que a despeito da quantidade de pedidos, dificilmente um processo de impeachment será aberto. Primeiro, devido a demora de um processo como esse. Segundo, porque a abertura depende da aprovação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

No caso de o presidente se recusar a apreciar os pedidos, a oposição pode recorrer ao plenário da Câmara, o que também coloca a decisão nas mãos de Maia, já que ele é quem define a pauta de votações no plenário. Maia é hoje o principal esteio do presidente Temer no poder.

Esta terça-feira (23) tem ares de decisão na Câmara, já que será o primeiro dia de trabalhos legislativos após o turbilhão de acontecimentos desencadeado no último dia 17, quando reportagem do colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, revelou trechos da delação dos irmãos Batista.

O que se diz nos corredores da Câmara é que se o governo não conseguir aprovar nenhuma matéria na Câmara nesta terça dará mostras de que não terá força para passar as reformas propostas pelo governo e, portanto, sem força para manter-se no cargo. (Folhapress)

Leia mais:

 

 

 


Leia mais sobre: Brasil