A agropecuária é a principal causa das emissões dos gases de efeito estufa em 67% dos municípios brasileiros, com destaque para a criação de gado de corte, segundo balanço do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Já o desmatamento, embora seja a principal fonte de contribuição para a crise climática pelo Brasil, é a maior causa da poluição atmosférica em 18% das cidades. No geral, dos dez municípios com mais emissões no Brasil, oito estão na Amazônia, principalmente por causa do desmatamento.
Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, lideram a lista, seguidos por Porto Velho (RO) e Lábrea (AM). Em 2019, os dez emitiram juntos 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e). Isso corresponde a mais poluição na atmosfera do que todas as emissões de países como Peru e Holanda.
São Paulo e Rio de Janeiro são os únicos de fora da Amazônia entre os campeões de emissões, na quinta e oitava posições, respectivamente. No caso das capitais, as causas estão no setor de energia, em especial os transportes. “Esses dois desafios (desmatamento e transporte) podem ser regulados também em nível municipal”, diz Tasso Azevedo, engenheiro florestal e coordenador do sistema. “Mas a atuação estadual e federal são fundamentais. Os instrumentos de taxação, por exemplo, são todos deles.”
As dez cidades com mais emissões no País:
Altamira (Pará)
São Félix do Xingu (Pará)
Porto Velho (Rondônia)
Lábrea (Amazonas)
São Paulo (São Paulo)
Pacajá (Pará)
Novo Progresso (Pará)
Rio de Janeiro (Rio de Janeiro)
Colniza (Mato Grosso)
Apuí (Amazonas)
Maiores poluidores do agronegócio não têm maior fatia do PIB do setor
Se considerar as 10 cidades com mais emissões no setor da agropecuária, o levantamento também aponta que, de 2000 a 2019, houve aumento de 2,13 milhões de hectares de pastagem (em vez do aproveitamento de áreas já abertas). Mais da metade dessas áreas (56%) estão em algum estágio de degradação. Isso explica as emissões de CO2 e também indica o potencial de recuperação dessas áreas, que podem se tornar mais produtivas e contribuir para a remoção de carbono, quando bem manejadas e sem a abertura de novos pastos.
Os dados mostram que o volume de emissões atmosféricas não está ligado à rentabilidade do setor. O levantamento cruzou dados de emissão com o valor do PIB Agropecuário nos municípios. Dos dez municípios com as maiores emissões do setor em 2019, nenhum deles está entre aqueles com maior PIB Agropecuário.
Os dez municípios que mais geram PIB no setor têm o perfil de emissões e de uso do solo mais relacionados com atividades de produção agrícola, diferentemente dos dez que mais emitem, que têm atividades relacionadas com a pecuária. “Poluir mais não significa gerar riquezas para o País”, afirma Tasso Azevedo.
O processo de digestão dos animais, chamado de fermentação entérica, é a causa das emissões de metano (CH4), principal gás de efeito estufa do setor. São Félix do Xingu, no Pará, com o maior rebanho do país, foi o que mais emitiu em 2019, totalizando 4,5 MtCO2e, seguido por Corumbá (MS) e Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), com 3,6 MtCO2e e 2,4 MtCO2e, respectivamente.
Na última Cúpula do Clima (COP-26), realizada em Glasgow em 2021, o Brasil se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2028. Também aderiu a um pacto global para reduzir as emissões de metano. As taxas de devastação da Amazônia, no entanto, têm apresentado alta e o País patina no cumprimento das metas assumidas na conferência climática. (Por Emílio Sant’anna/Estadão Conteúdo)
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