15 de setembro de 2024
Democracia

Obras vandalizadas no Congresso, em 8 de janeiro, são recuperadas

O projeto é realizado a partir de parceria entre o Iphan e a UFPel
Foto: Nauro Júnior/Iphan
Foto: Nauro Júnior/Iphan

Uma estrutura laboratorial de restauração inédita foi montada no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, por meio da Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais e da Coordenação-Geral de Administração das Residências Oficiais.

Ao todo, cerca de 30 pessoas, entre professores, pesquisadores, estudantes e servidores trabalham no projeto, cujo principal objetivo é a restauração completa das 20 obras de arte pertencentes ao Palácio do Planalto danificadas no ataque de 8 de janeiro do ano passado. O projeto é realizado a partir de parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Dia da Democracia

Até este domingo (15), em que se celebra o Dia Internacional da Democracia, praticamente todas as obras e peças estão com o restauro finalizado. A informação é da Agência Brasil, que frisa que os trabalhos seguem até dezembro e incluem a produção de um livro, de um documentário e a realização de ações educativas de promoção do patrimônio cultural em escolas públicas do Distrito Federal.

Trabalho minucioso

À reportagem da Agência Brasil, a professora e pesquisadora do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro da UFPel, no Rio Grande do Sul, Andréa Lacerda Bachettini relata a primeira visita a Brasília já como coordenadora do projeto, batizado de “Lacorpi – Ação Patrimônio Cultural dos Palácios Presidenciais: valorização e promoção da democracia a partir da conservação-restauração dos bens culturais vandalizados do Palácio do Planalto”.

“Foi um momento de muita emoção, eu sempre tenho vontade de chorar quando me lembro”, conta a professora, com a voz embargada. “A primeira obra que vi foi a tela do Di Cavalcanti, conhecida como ‘As Mulatas à mesa’. A tela é um tecido, mas tem toda uma estrutura de madeira e travas que a sustenta. Essas travas de madeira estavam todas rompidas. Naquele momento, percebi de perto o tamanho do ato de brutalidade daquela tentativa de golpe”, descreve.

Com cerca de 3,5 metros de largura por 1,20 metro de altura, a obra é uma das mais importantes do acervo dos palácios presidenciais. Ela foi rasgada em sete pontos diferentes, não se sabe ao certo se por uma faca ou punhal usado pelos golpistas que invadiram o Planalto naquele domingo fatídico.  

Segunda Andrea, o trabalho sobre a tela de Di Cavalcanti foi minucioso. A obra já tinha um reentelamento (cobertura protetora no verso da tela) com tecido de linho, que foi rompido pelos rasgos e não era possível emendar com fibras originais. A opção foi utilizar um poliéster, que é um tecido sintético, comumente usado em velas de barco.

Na parte frontal da tela, onde a obra está pintada, técnicas de justaposição das texturas dos fios, reproduzindo as pinceladas do artista, disfarçaram completamente os rasgos, que não são mais visíveis. Já na parte de trás da tela, os rasgos foram mantidos.

“Foi um opção da equipe, um opção política, para mostrar que essa tela sofreu esse processo, que foi perfurada sete vezes. Essa memória estará registrada”, explicou o gerente do Iphan, Leandro Grass.

Outra agressão chocante, conforme a reportagem, foi sobre a escultura em bronze O Flautista, do também brasileiro Bruno Giorgi, que tem mais de 1,6 metro de altura. Ela foi rompida em quatro partes. Em outra atitude de brutalidade e estupidez, outra escultura em bronze, a “Vênus Apocalíptica”, da artista argentina Marta Minujín, foi simplesmente arremessada do quarto andar do Palácio do Planalto, caindo sobre o gramado na área externa.

Construído pelo relojoeiro Balthazar Martinot Boulle, a peça havia sido um presente da corte francesa ao imperador Dom João VI, em 1808. Tanto o relógio quanto a caixa de André Boulle, destruídos durante os atos de vandalismo, estão em processo de revitalização por meio de outro acordo formalizado com a Embaixada da Suíça no Brasil.

Exposição

Os detalhes e bastidores do processo de restauração das obras pode ser conferido em uma exposição temporária na sede nacional do Iphan, em Brasília. A mostra, intitulada “8 de janeiro: restauração e democracia”, exibe materiais e ferramentas utilizadas pelos restauradores, além de detalhes das descobertas e do processo de reconstrução das peças.

“É muito importante devolver essas obras para que elas possam ser vistas pelo público. Essas obras são do povo brasileiro e representam a vitória da democracia e da liberdade”, aponta Leandro Grass.

Confira, abaixo, a lista das obras que estão sendo restauradas pelo projeto:

  1. Tela de Emiliano Di Cavalcanti (artista brasileiro);
  2. O Flautista de Bruno Giorgi (artista brasileiro);
  3. ⁠Idria (Majolica Italiana);
  4. Galhos e Sombras de Frans Krajcberg (artista polonês naturalizado brasileiro);
  5. Retrato do Duque de Caxias de Oswaldo Teixeira (artista brasileiro);
  6. Rosas e Brancos Suspensos de J. Paulo (José Paulo Moreira da Fonseca) (artista brasileiro);
  7. Casarios de Dario Mecatti (artista ítalo-brasileiro);
  8. Obra de Dario Mecatti (artista ítalo-brasileiro);
  9. Cena de Café de Clóvis Graciano (artista brasileiro);
  10. Tela de Armando Viana (artista brasileiro);
  11. Matriz e grade no 1º plano de Ivan Marquetti (artista brasileiro);
  12. Pintura de Glênio Bianchetti (artista brasileiro);
  13. Pintura de Glênio Bianchetti (artista brasileiro);
  14. Pintura de Glênio Bianchetti (artista brasileiro);
  15. Pintura de Glênio Bianchetti (artista brasileiro);
  16. Pintura de Glênio Bianchetti (artista brasileiro);
  17. Vênus Apocalíptica Fragmentando-se de Marta Minujín (artista argentina);
  18. Cotstwold Town de John Piper (artista inglês);
  19. Tela de Grauben do Monte Lima (artista brasileira);
  20. Pássaro de Martin Bradley (artista inglês).

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