07 de agosto de 2024
Leandro Mazzini

O último olheiro

O ministro Gilberto Carvalho, demissionário da Secretaria Geral da Presidência, chamou este colunista de mentiroso, por ter revelado mês passado a decisão da presidente Dilma de demiti-lo após uma ríspida conversa. A reunião fora motivada por críticas de Carvalho numa entrevista à BBC à gestão da presidente. Carvalho negou veementemente a reunião e a demissão. Mas agora deixa o Palácio.

Gilberto é o último ‘olheiro’ do ex-presidente Lula dentro do Palácio do Planalto. Fiel a ele, e não a Dilma – mostram os episódios das críticas a ela – Carvalho cumpriu com competência por 10 anos o seu papel de interlocução com os movimentos sociais, em especial o MST, o movimento dos sem-teto e dos catadores de lixo, entre outros.

O ministro foi também o principal braço da Igreja Católica dentro do governo, contornando situações que colocariam a gestão e o PT sob risco de perder o Poder. Em 2010, articulou uma frente suprapartidária evangélica para salvar a candidatura de Dilma ao Planalto, após um disse-me-disse (ela contribuiu, confusa) sobre a então candidata ser ou não ser a favor do aborto.

Destaca-se deste episódio a ingratidão da presidente eleita para com o ministro-olheiro. Quando a campanha desandava contra ela em 2010 na etapa final, por declarações desencontradas sobre o direito ao aborto e a legalização, Carvalho ‘patrocinou’ uma caravana de importantes parlamentares para que percorressem o Brasil durante duas semanas antes do pleito em defesa da candidata do PT. Em síntese, José Serra (PSDB) disparava gradativamente nas pesquisas após a polêmica e ameaçava o projeto de Poder dos petistas.

Carvalho acionou o então vice-presidente da República José Alencar, que cedeu o seu jato Citation X. Nele viajou um séquito de elite do Parlamento, aliados do governo, em visitas às igrejas evangélicas, desconstruindo a imagem ruim em torno da presidente. Àquela altura, 5 milhões de folhetos apontando Dilma a favor do aborto já eram distribuídos por um movimento católico em capitais. Os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Magno Malta (PR-ES) capitanearam o time, incluindo deputados pastores, que percorreu os templos, enquanto o ministro Carvalho dialogava com a CNBB. Passada a eleição, o resultado das viagens foi visto como fator contribuinte para a vitória de Dilma.

Ontem, foi confirmada a saída de Gilberto Carvalho do governo da presidente, comprovando o que a Coluna antecipou. Este repórter deseja sucesso ao futuro ex-ministro em suas empreitadas políticas e na relação com a imprensa livre.

Dirceu & Dilma

O ex-apenado José Dirceu enviou nota oficial, através de sua assessoria, para informar que não se reuniu com a presidente Dilma no Palácio da Alvorada, conforme publicou a Coluna ontem.

“Diferentemente do que publicou a Esplanada, o ex-ministro José Dirceu nega, com veemência, que tenha visitado recentemente a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Alvorada. A informação é desprovida de qualquer fundamento. O ex-ministro também reitera que não foi responsável pela indicação de Renato Duque para a diretoria da Petrobras.”

Dirceu tem suas preocupações. A Justiça concedeu prisão domiciliar sob algumas condições, entre elas a de ele não participar de reunião política, o que conota o encontro relatado. A coluna confia em suas fontes.


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