23 de dezembro de 2024
Leandro Mazzini

O TRE de meio bilhão

 

A grande São Paulo tem muitos problemas públicos, incontáveis que não cabem nestas linhas. Ano após ano, eleição após eleição, agentes políticos desfilam uma série deles na mídia, prometem soluções, e poucos resultados aparecem para a saúde na UTI, o transporte coletivo com ‘passageiros enlatados’, a segurança deficitária etc . O Estado também conta com 70 deputados federais para que apontem soluções, mas pelo visto a bancada federal paulista tem outras prioridades: com tantos problemas de moradia, um afago ao Judiciário, em especial juízes eleitorais e desembargadores federais. A massa paulista que os elegeu em 2010 e agora reelegeu parte deles que espere mais um pouco.

É o que se depreende diante de dois casos da lista de emendas parlamentares da bancada de São Paulo. A emenda 71250010, aprovada no último dia 17, direciona nada menos que R$ 500 milhões (isso mesmo, meio bilhão de Reais) para que o Tribunal Regional Eleitoral de SP tenha uma nova sede. Trata-se de uma verba para adquirir dois edifícios recém-construídos, no total de 40.170m², na Av. Francisco Matarazzo, na Barra Funda. É o CGD Corporate Towers, cujo metro quadrado está saindo a R$ 12,4 mil!

 A validade da emenda endossada pelos deputados paulistas é de Janeiro a Dezembro do ano que vem. Em suma, os desembargadores e juízes eleitorais poderão, em breve, serem presenteados com uma suntuosa sede dada por aqueles a quem fiscalizam. São os juízes e desembargadores eleitorais quem decidem sobre registros de candidaturas e eventuais cassações de políticos, vale lembrar.

Um dos prédios tem 20 andares e o outro, anexo, seis pavimentos. E o melhor, para uma cidade com trânsito tão saturado:1.135 vagas para veículos.

E a benesse parlamentar paulista não para nisso. Os desembargadores federais da instância recursal entraram na lista do Papai Noel do Congresso Nacional. A emenda 71250011 reserva R$ 35 milhões para que o Tribunal Regional Federal expanda sua sede. Atualmente, o TRF da 3ª Região ocupa uma torre da Av. Paulista, nº 1842, de propriedade da União. Mas há muitos prédios e salas alugados pela região. De acordo com a justificativa da emenda, já foram adquiridos ’14 conjuntos’ e faz-se necessário agora, para ampliação, comprar mais ’90 conjuntos’ no edifício Cetenco Plaza e outros imóveis nos quais o tribunal é inquilino.

Vale a memória – estamos num País sem uma – do episódio grotesco do superfaturamento da sede do Tribunal Regional do Trabalho de SP, que mandou para a cadeia (em idas e vindas) o ex-senador e construtor Luiz Estêvão (novamente encarcerado, em Brasília) e o juiz Nicolau dos Santos Neto (fora da cela). Obviamente estamos, neste episódio do TRE atual, diante de um caso apenas vultoso, curioso e de escancarado desrespeito dos parlamentares e Judiciário com o povo, diante de tantos problemas. Até que se prove o contrário, nada ilegal, mas amoral.

A Justiça nunca foi tão célere. Em causa própria.

Memórias de um jornal

A direção do finado Jornal do Brasil – que mantém a versão online – decidiu fazer homenagem a veteranos jornalistas dos quadros: entrevistas em vídeo com o colunista Mauro Santayana, o repórter Luiz Orlando Carneiro e o revisor Manoel Borges Neto, entre outros.

 À primeira impressão, mais alguns depoimentos para um catálogo institucional. Enganam-se. A experiência de Mauro (60 anos de jornalismo), LuizOC (55 anos só de JB) e Borges (40 anos de Casa) renderam revelações interessantes. Como de Borges (já no Youtube), que lembra a admissão no jornal com mais 15 revisores (!) nos tempos áureos (redações de jornais hoje têm essa quantidade de funcionários, para menos).

Na entrevista de LuizOC, que vai ao ar, revela bastidores de furos do JB e a convivência com gênios como o colunista Carlos Castelo Branco, o Castelinho, que ‘orava’ todas as manhãs: ‘Mas como, se você é agnóstico?’, perguntou Luiz. E Castelo, sorridente: ‘Leio uma página de Machado de Assis todas as manhãs’.


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