07 de agosto de 2024
Leandro Mazzini

O “Rolezinho” da base aliada

Tradicionalmente todo verão o Brasil lança uma onda, quando o cotidiano ainda está em marcha lenta após as festas da virada, os estudantes e as famílias estão de férias. A onda desse Janeiro não vem da música, não é uma dança, passa longe de um personagem. É a massa, uma onda literal, de gente que escolheu os shoppings como alvos, num misto de diversão e protesto. É o chamado Rolezinho.

 

Apesar do nome, que soa ralé, o Rolezinho é apartidário, suprassocial e, claro, surge com um viés de revolta e sarcasmo. Agora que ganha os shoppings – os templos do consumo – sai das páginas de cotidiano e conquista a atenção de cientistas sociais, que veem no movimento um filho bastardo do grito retido de 2013, algo como um resquício das manifestações de Junho unido à falta do que fazer nesse início de 2014.

Fato é que o Rolezinho é um movimento antigo, que tem outros nomes de acordo com seus cenários. O Rolezinho tem muito a ver, por exemplo, com o que faz a base aliada do governo. Tal como a turma de boné e calça legging, que se junta para zoar no shopping, os mandatários dos partidos governistas no Congresso tratam visitas conjuntas ao Palácio do Planalto (o seu shopping de luxo). Assim como a garotada entra nas lojas para pechinchar preços, os deputados e senadores percorrem os gabinetes dos ministros palacianos para cobrar suas emendas. A turma do shopping faz arruaça ou manifestação por seus direitos e contra a desigualdade social; não é diferente com os líderes e caciques partidários que se rebelam contra o Palácio (e como fazem bem) para garantir seus privilégios, o tratamento igualitário junto à presidente. Se algum ‘rolezeiro’ bate carteira no shopping, é preso pelos seguranças. Ah, no Palácio é igual, embora demore um pouco: haverá uma CGU, um MP e a Polícia Federal como seguranças para enquadrar os assaltantes de verbas.

E se a galera juvenil vai às compras no shopping, em Brasília também tem saldão. Com a reforma ministerial na vitrine e a queima de estoque na Esplanada, o Rolezinho da base aliada hoje ronda o Palácio para faturar uma aquisição. Cada uma delas bilionária.  Só para citar os principais, PP, PMDB, PT, PTB, PROS, PSD vestiram seus ternos e tailleurs e começaram o arrastão nos corredores do Palácio.   

Para citar os principais: Sai Alexandre Padilha da Saúde, e PT e PMDB estão de olho na cadeira. A Integração Nacional pode cair no colo do PROS, que indicou Ciro Gomes – ele já ocupou a pasta. (É como pegar um vendedor de amendoim na porta da galeria e presenteá-lo como uma boa loja na melhor ala do shopping). A Casa Civil terá rearrumação: como num shopping, o cogitado Aloizio Mercadante sai da papelaria escolar para a administração do complexo.  Apesar das malas prontas de Gastão Vieira (Turismo), a agência de viagens deve continuar com o PMDB, assim como a praça de alimentação (Agricultura), caso Antonio Andrade queira disputar a reeleição para a Câmara ou se tornar vice na chapa de Fernando Pimentel ao governo de Minas.

Preocupada, a presidente Dilma convocou até reunião para discutir esses Rolezinhos e se há risco de ganharem as ruas. É porque ela conhece a base que tem.

O pioneiro

            Ocorreu dia 4 de agosto de 2000. Um grupo de 130 sem-teto, que acampava na beira da Av. Brasil, no Rio, reivindicando moradias, decidiu alugar três ônibus e rumou para o shopping Rio Sul, da elite carioca em Botafogo. Passearam por lojas, provaram roupas caras, se deslumbraram com as escadas-rolantes (muitos a estreavam). Houve princípio de tumulto com lojistas e clientes, contornados pelos seguranças. Tudo sem violência. Motivados pela desigualdade social, protagonizaram o primeiro Rolezinho do País. Este repórter estava lá e entrevistou o líder do grupo, Eric Vermelho.

 

Charge de Aliedo

Choveu caneta

Em 2012, com uma bela caneta à mão, na assinatura do Programa de Ajuste Fiscal que aumentaria limites de endividamento de 17 Estados em R$ 42,2 bi, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, revelou que sua caneta estava ‘sem tinta’.

           Mais que depressa, num ato como ensaiado, governadores eufóricos na sala com ele ofereceram as suas de pronto, ansiosos pela oficialização do programa que lhes garantiria pegar mais verbas em órgãos internacionais e nacionais.

Ponto final

Hoje é a Lavagem da escadaria da Igreja do Bonfim em Salvador. Como todo ano, aparecerá muito santo político para pouca vassoura.

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Com Maurício Nogueira, Luana Lopes e Equipe DF e SP

 


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