23 de dezembro de 2024
Leandro Mazzini

O retorno de Ciro Gomes

Se tudo sair como o planejado para o PROS, o novo partido aliado da presidente Dilma Rousseff, o cearense Ciro Gomes será o novo ministro da Integração Nacional. Ontem, o deputado federal Givaldo Carimbão (AL), líder do PROS na Câmara – o responsável por angariar mandatários para a legenda e, consequentemente, o tempo de TV – e o presidente do partido, Eurípedes Junior, se reuniram com a ministra das Relações Institucionais no Palácio do Planalto, Ideli Salvatti, para tratar do assunto.

Ideli não falou em nome da presidente, mas deixou a entender para a dupla a grande possibilidade de o PROS fincar os pés e as mãos na Integração – daí a rebelião velada do PMDB, para quem a pasta oficiosamente estava prometida, com o indicado senador Vital do Rego (PB), que por ora sobrou.

‘Vamos esperar o convite oficial, é a presidente Dilma quem vai decidir’, diz o líder do PROS, Givaldo Carimbão. Cautela, cautela é a palavra de ordem no partido, que não quer soltar fogos antecipadamente, mas tem ciência de seu poder junto ao Planalto. Pelos 17 deputados da bancada, pelo tempo de TV – menos de um minuto, mas preciosos segundos em tempos de eleição – e pelo poder dos irmãos Ciro e Cid Gomes, o governador do Ceará.

Em especial pelos irmãos Gomes. Dilma já teve melhores relações com Cid, mas nada que tenha abalado a aliança, que agora renasce com a debandada da dupla e uma penca de deputados e prefeitos para o PROS e a base governista, em vez de caírem nas mãos do futuro adversário Eduardo Campos (PSB). Ciro Gomes já foi ministro da Integração, foi na sua gestão que saiu do papel a bilionária transposição do rio São Francisco, e Dilma, segundo um interlocutor dela em reunião recente, disse que tem ‘um enorme carinho por Ciro’. E também pelo Ceará, obviamente. O Estado controlado pelos Gomes soma 6,2 milhões de eleitores. Um diferencial e tanto para quem precisa de um aliado na Esplanada para ajudar nas urnas em Outubro. Detalhe: o Ceará tem grandes obras da transposição do rio Chico.

Carimbão saiu em defesa do partido ontem com a notícia de que o PSDB pretende subscrever ação jurídica por crime eleitoral contra o partido, na iminência de conquistar o ministério. Para os tucanos, a presidente Dilma usa da caneta para conquistar apoio eleitoral e tempo de TV para a campanha. ‘Somos aliados de Dilma com ou sem ministério’, diz Givaldo à Coluna.

Rio, a vitrine

O ministro da Pesca, Marcelo Crivella, ficou a sós com a presidente Dilma Rousseff por duas horas e meia no Palácio da Alvorada, na noite de segunda. Saiu dali com três certezas: ele será candidato ao governo do Rio, Dilma pediu seu apoio e prometeu apoio ao candidato do PRB, e Crivella deixa o cargo dia 4 de abril.

Com o governador Sérgio Cabral (PMDB) submergindo no cenário político nacional e afogado na baixa popularidade, a presidente, segundo aliados do Rio, precisa de pelo menos outros dois palanques além do PMDB. O candidato do PT será Lindberghg Farias. Crivella lidera as pesquisas, seguido pelo petista. O Rio é o terceiro maior colégio eleitoral do País. São Paulo e Minas, primeiro e segundo colégios, são dominados pelo PSDB. Dilma precisa do Rio para reduzir a esperada diferença eleitoral.

Ponto final

Foi graças a luta e conquista das eleições Diretas que a sede do governo foi transferida para a Papuda. Sem as Diretas o Brasil seria transformado
em um grande Haiti’.

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR)

 


O rei da Picanha – como Lula conquistou o agronegócio

 

O empresariado do agronegócio, tradicionalmente conservador e de direita no país, torcia o nariz para o recém-eleito a presidente Luiz Inácio Lula da Silva – este que, por sua ligação sindical, criticava os fazendeiros ricos. O primeiro encontro entre eles, com Lula presidente, se deu em 2003, na Expozebu em Uberaba. Estava lá a nata dos fazendeiros, desconfiada e com semblante sério, para o primeiro discurso de Lula. O presidente, com toda a sua ginga política na fala de improviso, para todas as classes – que durante seus dois mandatos o notabilizaria – sabia do desafio e conquistou, gradativamente,e em poucos minutos, toda a plateia.

– Queria levar lá para o Japão a picanha de um zebu ou nelore para mostrar para eles o que é uma carne! – citou Lula, andando pelo palanque, sobre a viagem que faria.

Uns e outros mudaram a cara e se mostraram contentes. Alguns riram. E Lula os ganhou para valer quando finalizou o discurso, quase uma hora depois:

– Se eu pudesse, andava com uma picanha pendurada no pescoço!

Risada geral. E a turma do agronegócio – responsável por grande parte das exportações de commodities agrícolas do país e por bom naco do PIB – naquele dia passou a aliada do novo presidente.

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Com Maurício Nogueira, Luana Lopes e Equipe DF e SP


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