18 de novembro de 2024
Cidades

43 desaparecidos em Goiás, revela O Popular

 

O Jornal O Popular traz, neste domingo (11) uma estatística que envergonha os goianos. Enquanto o Rio de Janeiro pergunta onde está o pedreiro Amarildo, desaparecido depois de ser interrogado em uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em Goiás, já são 43 desaparecidos sem que as famílias tenham resposta alguma.

 

 

Veja a reportagem esclarecedora assinada por Cleomar Almeida e Rosana Melo. O texto está disponível no site do Jornal, para assinantes.

O Brasil inteiro pergunta onde está Amarildo, um pedreiro que desapareceu no Rio de Janeiro depois de abordagem policial no dia 14 de julho. Em Goiás, 43 famílias há muito tempo não têm um sono tranquilo e sofrem com a falta de respostas ao perguntar onde estão Alair, Rogério, Fábio, Murilo, Célio, Gustavo, Camila… São pessoas que tiveram suas histórias contadas pelo POPULAR desde 2000 e que foram contabilizadas pela primeira vez na série de reportagens Onde eles estão?, publicadas em janeiro de 2011 pelo jornal. A lista de desaparecidos só vem crescendo desde então e nenhum corpo sequer foi encontrado. Já são 43 casos. É como se tivessem evaporado. E o que é pior: o andamento das investigações não dá qualquer esperança para as famílias, afundadas na desolação.

A Comissão de Defesa da Cidadania, criada em maio de 2011 por decreto do governo de Goiás, foi desfeita sem respostas. Após uma sequência de reuniões, produziu um relatório com mapeamento das investigações acerca dos sumiços, mas as famílias continuaram na angústia da incerteza. Um grupo de investigação de desaparecimentos forçados, da Delegacia de Homicídios, também articulado após a série de reportagens, funciona há pelo menos quatro meses sem delegado, segundo confirma o delegado-geral da Polícia Civil, João Carlos Gorski.

A interrogação em torno dos desaparecimentos no Estado parece não ter fim. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, protocolou, em 10 de maio deste ano, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), um pedido de federalização das investigações de cerca de 40 crimes no Estado, alguns deles com suposta participação de policias militares. Ele atendeu a um pedido do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), órgão máximo dos direitos humanos no País, para que a apuração desses casos saísse da esfera estadual. Mas a solicitação – incidente de deslocamento de competência (IDC) 3 – ainda está parada no gabinete do ministro Jorge Mussi, presidente da 3ª Seção do STJ, e não há previsão para ser julgada.

Ao sustentar o pedido de federalização, Gurgel criticou a falta de atuação por parte dos órgãos de investigação do Estado. Na avaliação dele, está constatada “não apenas a inércia do governo de Goiás na adoção de medidas contra a violação de direitos humanos, mas também uma ação legitimadora da violência policial”.

Em resposta encaminhada ao STJ, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP) se manifestaram contrariamente à federalização das investigações. Mas, na semana passada, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu vistas do processo. Para a entidade nacional, até o momento existem pontos suficientes para que as investigações do Estado sejam federalizadas.

Presidente da OAB em Goiás, Henrique Tibúrcio destacou, ainda, que desaparecimentos forçados com suspeitas de envolvimentos de policiais militares precisam ser apurados imediatamente. “É inadmissível alguém desaparecer após abordagem policial”, ponderou, para emendar: “A polícia não pode julgar e executar sumariamente qualquer tipo de pessoa. Os casos de desaparecimento com suspeita de envolvimento de policiais precisam ser investigados com rapidez.”

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, que também preside o CDDPH, voltou a defender, na última quinta-feira, a transferência, da esfera estadual para a federal, da competência para apurar e julgar as denúncias de que policiais estariam envolvidos em uma série de crimes registrados na região metropolitana de Goiânia, nos últimos anos. “Precisamos da federalização para respondermos à investigação, ao julgamento e a um conjunto de questões”, disse à imprensa.

GOIANIRA

Famílias de desaparecidos chegaram a ter esperanças de que o trabalho pudesse avançar depois que foi descoberto um cemitério clandestino, com restos mortais, em Goianira, na região metropolitana da capital. A ossada humana, no entanto, até hoje não foi identificada nem há previsão para sair o resultado do exame de DNA. Além disso, as escavações no cemitério clandestino foram suspensas, sob a justificativa de falta de estrutura da Polícia Civil.

A família de Thiago Junio Oliveira Faquin, de 22 anos, desaparecido no dia 4 de maio de 2012 após ser preso em casa, em Goianira, não acredita que o rapaz ainda esteja vivo. Os parentes pediram para não ser identificados na reportagem. Temem represálias, já que os principais suspeitos do desaparecimento da vítima são policiais militares da cidade.

Eles contam que no dia do desaparecimento, uma vizinha viu quando três carros da PM pararam na porta da casa de Thiago. “Quebraram tudo”, contaram. Thiago era pequeno traficante e usuário de drogas e era constantemente extorquido pelos militares, segundo a família. Um dia, porém, negou-se a pagar a propina. Desapareceu.

A esperança de ver Thiago vivo acabou quando a família soube que a Polícia Civil havia encontrado um corpo em uma cisterna na área rural de Goianira. “Naquele momento soubemos que o Thiago não voltaria mais. Mataram ele”.

Enquanto as providências se arrastam, sobram dor, desespero, sofrimento e aflição para as famílias que esperam ter o direito de pelo menos enterrar o corpo daqueles que entraram para a estatística de desaparecidos forçados no Estado.”

 

 


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