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Em entrevista concedida ao jornalista Kennedy Alencar, o ex-presidente da República e hoje preso em Curitiba, Luís Inácio Lula da Silva, classifica os primeiros quatro meses do atual presidente Jair Bolsonaro como “desastroso”. “A impressão que eu tenho é que ele não sabe lé com cré”, disse.
“Eu não vou fazer julgamento do Bolsonaro, porque ele só tem quatro meses de mandato”, mencionou ao jornalista. Ao mesmo tempo, ele não deixa de trazer algumas críticas pontuais. “A impressão que eu tenho é que ele não tem noção das coisas que fala. Ele não conhece nada de política externa, ele não conhece nada de economia. Ele faz questão de mostrar que não conhece!”, salienta.
Ele não deixou de lembrar o tamanho da missão que o super-ministro da Economia, Paulo Guedes tem no atual governo. “Ele [Bolsonaro] delegou ao Guedes para fazer a questão da economia. A questão da economia não é apenas uma questão econômica: a economia é uma questão política. O governo tem que decidir quem é que vai ser beneficiado. ‘Para quem que eu quero governar? Quem é que precisa do Estado?’ E como é que funciona a cabeça do Guedes? A cabeça do Guedes funciona… está pensando no mercado. Então, para o Guedes, se vai ter aposentado passando fome, se vai destruir a Previdência Social, pouco interessa. Isso é dado estatístico. O que ele quer é contemplar o mercado”, pontuou.
Ao ser alertado que a situação econômica do Brasil é muito mais grave que em outras épocas e que há um problema fiscal escancarado, Lula voltou ao tempo e fez um contraponto. “Quando eu estive no governo, acho que o dólar era R$ 2,60, e nós exportávamos metade do que exportamos hoje. Hoje nós exportamos o dobro, com o dólar a R$ 4,00”, rememorou.
Sobre a política externa, Lula também tece alguns pontos que estão vindo a tona no governo Bolsonaro. Para ele é errado a condução das relações que estão se costurando, priorizando em demasia o relacionamento com os Estados Unidos. “Quando você tem um governo que começa a brigar com a China, que é o nosso maior parceiro comercial, atendendo aos interesses dos Estados Unidos e os americanos, por detrás, que ganham uma fatia do nosso mercado, vendendo 10 milhões de toneladas de soja para a China no nosso lugar, quando a gente briga com o mundo árabe, quando a gente briga com o Mercosul, você vai vender para quem? Para os Estados Unidos? Os Estados Unidos não querem comprar soja do Brasil, não querem comprar milho do Brasil, não querem comprar carne do Brasil, porque eles produzem. E também não querem comprar produto manufaturado”, pontua.
Se é um erro a política de alinhamento externo com os Estados Unidos, Lula diz que o Brasil “é um país grande” e “que tem apenas aprender a se respeitar”. “O Brasil não tem que se alinhar nem a Washington, nem a Pequim, nem a Moscou, nem muito menos a Frankfurt. O Brasil tem que se apoiar na sua soberania. O Brasil é um país que tem 210 milhões de habitantes. O país tem efetivamente quase tudo que precisa. Tem um potencial intelectual extraordinário! O que o Brasil precisa é parar de ser mesquinho. E em tudo que você quer fazer para avançar a sociedade, aparece alguém para dizer: ‘Não pode, não pode. Não tem dinheiro’. Você sabe o que eu dizia para o meu pessoal? ‘Gente, é o seguinte, vamos parar de discutir que a gente não pode fazer as coisas e vamos discutir quanto custou ao Brasil não fazer as coisas na hora certa'”, concluiu.
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