07 de agosto de 2024
Brasil

Novos vazamentos mostram que Procuradores da Lava Jato ironizaram morte de Marisa Letícia

 

Mais uma leva de vazamentos foram publicados nesta terça-feira (27/08) pelo portal Uol em parceria com o site the Intercept. Os diálogos mostram que integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba fizeram comentários jocosos com relação a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do seu marido e ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Também revelam que os procuradores chegaram a debater e divergiram opiniões sobre o pedido de Lula para ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, no ínicio do ano. O procurador Athayde Ribeiro Costa inclusive reconheceu que não estavam se comportando de forma correta: “Estamos agindo como Pilatos e deixando a juíza em situação difícil”, escreveu no dia 29 de janeiro de 2019.

Outro chegou a chamar Lula de “safado” que “só queria passear”.

2017: Marisa sofre AVC – “Um amigo de um amigo de uma prima disse…”

Em janeiro de 2017, Marisa Letícia sofria um AVC hemorrágico e estava sendo encaminhada para internação no hospital Sírio-Libanês. A situação foi comentada em um grupo de procuradores no Telegram. “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”, escreveu Deltan Dallagnol às 22h24.

Quase 9 minutos depois, Januário Paludo conjecturou: “Estão eliminando as testemunhas…”

Cinco dias depois, a morte de Marisa foi confirmada. Era dia 2 de fevereiro quando o assunto voltou a ser tratado no grupo: “Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”, mencionou Laura Tessler.

Carlos Fernando dos Santos Lima ponderou. Disse que era melhor aguardar em silêncio e esperar o comportamento. “Reação somente se passarem os limites. Ninguém ganha falando contra quem morre ou contra a família”, pontuou.

Quando o procurador Júlio Noronha publica um link sobre a morte de Marisa Letícia, no dia 3 de fevereiro sua colega Jerusa Viecili comenta sarcasticamente: “Querem que eu fique pro enterro?”

“Ridículo…”

As notícias circulavam em todo o Brasil sobre a morte de Marisa Letícia. A jornalista Mônica Bergamo em sua coluna na Folha publicou uma nota no dia 4 de fevereiro. Nela, Bergamo publicizava a agonia vivida pela esposa do ex-presidente em seus últimos dias de vida.

Laura Tessler não ficou tocada com a notícia. Ao contrário, refutou a possibilidade do agravamento do quadro de Marisa ter acontecido após a busca e apreensão na casa dela e da condução coercitiva de Lula. “Ridículo… Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula”, afirmou Laura. Dois minutos depois emendou: “Só falta dizer que a Lava Jato implantou 10 anos atrás um aneurisma na cabeça da mulher… milhares de pessoas morrem de AVC no mundo… isso faz parte do mundo real e ponto”.

O velório de Marisa Letícia aconteceu dia 4 de fevereiro em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lula fez um discurso que comoveu muitos mas também foi críticado por outros tantos. A fala de Lula na despedida da mulher é compartilhada pela procuradora Laura Tessler no grupo de procuradores. Na ocasião, o ex-presidente fala contundentemente: “Eles que têm que provar que as mentiras que estão contando são verdade. Então, Marisa, descanse em paz porque esse Lulinha paz e amor vai continuar brigando muito”. Deltan define a manifestação de Lula como “uma bobagem”. “Bobagem total… ninguém mais dá ouvidos a esse cara”, diz.

“O safado só queria passear”

Era dia 29 de janeiro quando o ex-presidente Lula teve mais uma baixa em sua família: em decorrência de um câncer, o seu irmão Vavá havia falecido. No mesmo dia, já iniciava-se nos grupos de procuradores uma movimentação acerca do assunto. Quando o procurador Athayde Ribeiro Costa noticiou a morte de Vavá, Dallagnol já previu o que aconteceria: “Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso”, disse.

A partir daí, começaram a falar sobre as ilegalidades e legalidades em torno de sua liberação da sede da PF, custos relacionados à ida do ex-presidente ao velório. Alguns procuradores defenderam que Lula fosse autorizado à dar um último adeus ao seu irmão. Outros, se posicionaram contra.

Em resposta Dallagnol, Athayde disse que se Lula não fosse liberado, seria “um prato cheio para o caso da ONU”. “Vai ser uma gritaria”, previu. O procurador Orlando Martello considerou que seria uma “temeridade” caso Lula saísse.

O procurador Diogo Castor sustentou que deveriam liberar o ex-presidente. “Eu acho que tem que deixar o cara sair. É muito grave você não poder enterrar um irmão” e finalizou dizendo que respeitava as opiniões contrárias. Athayde segui a mesma linha dizendo que também considerava que deveriam autorizar a saída.

Martello pontuou que fosse Lula liberado, sua militância não iria deixar que ele voltasse a prisão. “Precisa de um batalhão para fazer a segurança dele. A militância vai abraça-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!!!”

Castor disse que entendia as complicações do contexto mas lembrou que Lula estava amparado pela lei. “Entendo as ponderações. Considero razoáveis. Mas mesmo assim não acho que ele possa ser penalizado por causa disso, sendo que a lei prevê que todos os brasileiros em regime fechado tem esse direito”, rememorou. Martello concluiu dizendo que era perigoso fazer ‘cumprir a lei’. “2, 4, 10 agentes não o trarão de volta. Aí q mora o perigo caso insistam em fazer cumprir a lei”.

Na sequência, Januário Paludo leva a tona aos colegas uma manifestação que seria entregue à juíza responsável por avaliar o pedido de liberação. Tratava-se de um parecer da força-tarefa da Lava Jato pelo indeferimento da saída solicitada pela defesa de Lula. Ao ler o texto, Athayde Ribeiro Costa pondera: “Simplesmente indefirir [sic] estamos agindo como pilatos e deixando a juíza em situação difícil”.

Alguns minutos depois, os procuradores conseguem acesso a parecer da Polícia Federal que disse não ter condições de atender ao pedido de Lula. O relatório levou em consideração três situações de risco: “Fuga ou resgate do ex-presidente Lula, atentado contra a vida do ex-presidente e comprometimento da ordem pública”. A PF também considerou que as aeronaves que poderiam estar disponíveis para levar o ex-presidente ao enterro, naquele momento, estavam realocadas para dar apoio às autoridades em Brumadinho (MG), onde o rompimento de uma barragem, dias antes, deixou aos menos 248 mortos.

No chat, o procurador Antônio Carlos Welter concorda com a PF, mas diz acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. “Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como”. Januário Paludo responde: “O safado só queria passear e o Welter com pena”. Laura Tessler tenta contornar a situação e diz que é muito ‘mimimi’. A prioridade era mesmo Brumadinho: “O foco tá em Brumadinho…logo passa…muito mimimi”.

 


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