05 de dezembro de 2025
Ato histórico • atualizado em 26/10/2025 às 16:07

“Novo momento da história política”, diz Aldo Arantes sobre pedido de perdão do STM pelos crimes da ditadura

O ex-deputado goiano, preso político da ditadura militar, foi uma dos nomes citados pela presidente do STM em ato ecumênico em memória das vítimas, em especial ao jornalista Vladimir Herzog
Aldo Arantes foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar. Foto: reprodução
Aldo Arantes foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar. Foto: reprodução

Em ato ecumênico em memória aos cinquenta anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, a presidente do Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Rocha, pediu perdão às vítimas da ditadura militar no Brasil. Em discurso emocionado, a presidente citou os nome de algumas vítimas e de seus familiares, entre eles, o goiano ex-deputado federal Aldo Arantes, e pediu perdão pelos crimes cometidos.

O momento foi considerado histórico e de extrema representatividade. Esta foi a primeira vez que uma chefe da Justiça Militar pediu desculpas pela violência, repressão do Estado e pelos crimes executados durante o período de ditadura, que assolou o país entre os anos de 1964 a 1985.

Em entrevista ao Diário de Goiás, Aldo Arantes falou sobre a representatividade do ato de Maria Elizabeth. “Foi um resgate da verdade e da Justiça. Porque é presidente do Tribunal Militar, então tem um significado especial, uma mulher, que pede perdão a todos àqueles que foram assassinados pela ditadura e cita expressamente, no caso específico, o Vladimir Herzog, que foi assassinado na tortura, no DOI-Codi”, destacou.

O discurso ocorreu na mesma igreja onde, cinquenta anos atrás, foi realizado o ato ecumênico em memória do jornalista Vladimir. Em sua fala, Maria Elizabeth se referiu nonimalmente a algumas vítimas e suas famílias e reconheceu publicamente a injustiça enfrentada por eles durantes anos de repressão e perseguição política.

“Eu peço perdão a Vladimir Herzog e sua família, a Paulo Ribeiro Bastos e a minha família, a Rubem Paiva e a Miriam Leitão e seus filhos, a José Dirceu, a Aldo Arantes, a José Genoino, a Paulo Vanucchi, a João Vicente Goulart e a tantos outros homens e mulheres que sofreram com as torturas, as mortes, os desaparecimentos forçados e o exílio. Eu peço, enfim, perdão à sociedade brasileira e à história do país pelos equívocos judiciários cometidos pela Justiça Militar Federal em detrimento da democracia e favoráveis ao regime autoritário. Recebam meu perdão, a minha dor e a minha resistência”, disse a presidente do STM.

Segundo Aldo Arantes, o momento representa um novo momento para o país. “O sentimento que eu tenho é de que estamos vivendo um novo momento da história política do Brasil. Porque para a presidente do Tribunal Militar vir a público num ato expressivo em São Paulo, pedir perdão da forma em que ela pediu, eu acho que é extremamente significativo. Isso significa um reconhecimento também do papel de centenas de brasileiros que deram a vida e a milhares de outros que foram torturados e tiveram seus mandatos cassados. É uma homenagem àqueles que lutaram contra a ditadura militar”, ressaltou o político.

Memória de tempos sombrios

Durante a ditadura no Brasil, Aldo Arantes e sua família foram perseguidos, presos e torturados e precisaram viver vários anos na clandestinidade. “Eu passei 11 anos clandestino. Fui preso, em um determinado momento, no interior de Alagoas. Meus filhos de três e quatro anos de idade ficaram presos quatro meses e meio. Foi uma situação muito trágica o que nós vivemos. Não só em termos de violência física ou violência política, mas também econômica e cultural. Foi um grande prejuízo para a sociedade brasileira”, relatou Aldo. 

Aldo vê o atual momento na política brasileira como “a volta por cima”. “A repercussão é um pouco, eu diria, de sinal de novos tempos. É exatamente o momento em que a democracia se afirma no Brasil. A derrota das forças da extrema direita, que por um lado vem da condenação de Bolsonaro, do núcleo golpista, enfim, tudo isso que nós estamos vendo. Um conjunto de iniciativas, seja do ponto de vista legal, seja do ponto de vista político, que expressa essa afirmação da democracia brasileira”, reforçou o ex-deputado.

A partir disso, Aldo aponta e reforça a força e a importância da luta pela democracia no país. “Isso ressoa alto: ditadura não dá mais! O brasileiro quer aprofundar a democracia, quer novas conquistas”, pontuou. “Procuramos reconstruir um novo momento da história política do Brasil. E recobrar, rememorar. Isso é importante para que a juventude perceba o que foi a ditadura e a necessidade, justamente, que isso não volte a acontecer. Para isso, nós temos que ter uma consciência clara da democracia, e inclusive, também investir em eleger representantes que expressem essas aspirações”, finalizou.


Leia mais sobre: / / / / Política