22 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:29

Novo chefe desliga promotores de Minas de apuração sobre tragédia de Mariana

Tragédia em Mariana é o maior desastre ambiental do Brasil (Foto: Agência Brasil)
Tragédia em Mariana é o maior desastre ambiental do Brasil (Foto: Agência Brasil)

Um dos primeiros atos do novo procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio Sergio Tonet, foi remover os três promotores mais atuantes da força-tarefa criada pelo Ministério Público do Estado para investigar o rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco (controlada pela Vale e BHP Billinton), ocorrida em novembro do ano passado.

O novo chefe do Ministério Público mineiro foi empossado na noite desta segunda-feira (5). Tonet determinou que os promotores Mauro Ellovich, Carlos Eduardo Ferreira Pinto e Marcos Paulo de Souza Miranda deixem os postos que ocupam na área ambiental na sede do MPMG, em Belo Horizonte, e retornem para suas comarcas de origem: Igarapé, Ribeirão das Neves e Santa Luzia, respectivamente.

Um promotor que pediu para não se identificado diz que a mudança se deve ao fato de os três não concordarem com a volta das atividades da Samarco no Estado até que todas as licenças ambientais estejam esclarecidas.

“É uma das piores coisas que aconteceram para gente”, afirma Mônica dos Santos, uma das integrantes da Comissão de Moradores Atingidos de Bento Rodrigues. Para ela, os moradores confiavam no trabalho dos promotores. “Será que os novos vão se preocupar com a gente ou somente com os interesses da mineradora?”.

Quem assumirá a coordenação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, do Patrimônio e Histórico Cultural, de habitação e Urbanismo será Rômulo Ferraz, que acumulará com a função de Procurador-Geral de Justiça Adjunto Institucional.

Ferraz foi secretário de Defesa Social no governo de Antonio Anastasia (PSDB) e continuou no governo mineiro, mesmo com a troca de comando, quando Fernando Pimentel (PT) assumiu em 2015, onde atuou como subsecretário de Relações Institucionais.

O novo comandante do Ministério Público mineiro, Antônio Sérgio Tonet, ficou em segundo lugar na eleição realizada para definir o procurador-geral. Recebeu 562 votos ante 572 do primeiro colocado Jarbas Soares, que havia comandado a Promotoria estadual durante os governos dos tucanos Anastasia e Aécio Neves.

Entretanto, Pimentel se valeu do poder de escolha do governador e optou pelo segundo colocado.

No discurso de posse, na noite desta segunda, sentado ao lado direito do governador petista, Tonet citou o combate à criminalidade, especificamente o crime organizado como prioridade da sua atuação.

Antes de participar da cerimônia de posse do procurador-geral, Pimentel enviou mensagem à Assembleia Legislativa pedindo que os parlamentares aprovem o pedido de calamidade financeira do Estado.

Um dos itens destacados pelo governador na mensagem é que situação deriva da crise econômica internacional e nacional, que resultaram na contração do Produto Interno Bruto, reflexo da queda da atividade de vários setores, citando a mineração como um dos responsáveis, o que gerou redução na receita pública estadual.

Procurado pela Folha, o coordenador da força-tarefa, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, confirmou o afastamento, que será publicado nesta quarta-feira (6) no “Diário Oficial” do Estado, mas disse que não irá comentar a decisão.

A reportagem questionou o Ministério Público Estadual se a mudança tem relação com o posicionamento dos promotores de adiar a retomada das atividades da Samarco no Estado, mas o órgão ainda não havia se manifestado até o início da tarde desta terça.

A reportagem também não conseguiu ouvir a Samarco.

As operações da Samarco estão paralisadas desde o dia 5 de novembro do ano passado, quando a barragem do Fundão rompeu e matou 19 pessoas, devastou distritos de Mariana, como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, atingiu o Rio Doce, provocando colapso no abastecimento de água de diversas cidades, poluindo toda a bacia do Rio Doce e levando a lama de rejeitos de minério até a o Oceano Atlântico.

Folhapress

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