23 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:36

No último dia da caravana, Lula admite erros e diz que crise começou com Dilma

Lula em caravana no Maranhão. (Foto: Bruno Santos/Folhapress)
Lula em caravana no Maranhão. (Foto: Bruno Santos/Folhapress)

FERNANDO CANZIAN, ENVIADO ESPECIAL – SÃO LUÍS, MA (FOLHAPRESS) – No último dia de sua caravana pelo Nordeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, nesta terça (5), que houve um “erro de dosagem” na política econômica do PT e que a atual crise econômica começou no governo de sua sucessora, Dilma Rousseff.

Em auditório no porto público de Itaqui, em São Luís (MA), Lula declarou que foram os excessos da política de subsídios e gastos estatais no governo Dilma que levaram à atual situação da economia.

Paradoxalmente, como solução para sair dessa mesma crise, defendeu que o país gaste agora parte de suas reservas internacionais em dólar e que ofereça mais crédito ao consumo, mesmo que isso faça a dívida pública subir acima do equivalente a 80% do PIB (Produto Interno Bruto).

Lula disse que programas sociais como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e as desonerações a empresários impulsionaram a economia até 2014 e ajudaram a levar a taxa de desemprego a “um padrão chique, tipo Noruega e Dinamarca”. O índice foi de 4,8% na média daquele ano.

“Então foi feito isso, e acho que nós erramos na dosagem. Porque se você tem uma torneira aberta entrando água e uma torneira aberta saindo água, e está entrando menos do que está saindo, uma hora a caixa seca”, disse, em referência às receitas e gastos do governo.

Sobre a responsabilidade de Dilma na crise, afirmou: “[Dizem] ‘é, mas a crise começou no governo da Dilma’. É verdade, é verdade. Nós tivemos problemas”.

“Agora, vamos ver a diferença da Dilma de 2014 com 1999: todo mundo sabe que o governo FHC quebrou três vezes (quando recorreu ao FMI). Qual foi a diferença do FHC para a Dilma? Que o FHC fez uma proposta de reforma na crise cambial (em 1999) e tinha como presidente da Câmara (dos Deputados) o (Michel) Temer.”

“Em seis meses, aprovou tudo o que o Fernando Henrique queria. E a Dilma tinha o Eduardo Cunha, que não aprovou nada do que a Dilma queria”, disse.

Apesar da imagem das “torneiras” e da “caixa seca” que levaram ao “erro de dosagem”, Lula defendeu mais gastos públicos neste ano de ajuste fiscal e deficit previsto de R$ 159 bilhões.

“Se o governo acredita nas suas politicas, tinha que ter coragem de dizer: ‘Nós estamos em uma situação difícil. Eu tenho US$ 380 bilhões em reservas. Vou pegar somente alguns bilhões e vou investir em infraestrutura e não vai ter nenhum centavo para custeio. Vou retomar o desenvolvimento porque a gente pode fazer esse país voltar a crescer'”.

Lula completou dizendo que um aumento da relação entre a dívida pública e o PIB poderia ajudar a economia.

“Não tem nenhum problema. Os americanos, quando começou a crise deles [em 2008], a dívida pública era 64% do PIB. Ela chegou agora a 110%. A da Alemanha e da França ultrapassou 100%. Porque [eles] fizeram investimento para tirar o país da recessão. O Brasil precisa fazer o mesmo, e fazer crédito para essa gente comprar”, disse.

“O governo passa o ano inteiro dizendo que vai controlar mais o Orçamento porque não consegue fechar o caixa. Esse governo é, no mínimo, analfabeto político e econômico”, disse. “Pois se tem um jeito de fazer a dívida pública diminuir em relação ao PIB é o PIB crescer.”

Boa parte dos motivos apontados para queda do investimento privado e da atividade hoje no Brasil é que a relação dívida/PIB está crescendo rapidamente, passando de cerca de 60% do PIB ao final de 2014 em direção aos 80% agora.

Isso tem aumentado a percepção de insolvência. Muitos economistas veem a necessidade do ajuste para controlar essa trajetória; e a própria Dilma perseguiu esse caminho em seu segundo mandato até ser cassada.

Já para a comparação da relação dívida/PIB entre países, economistas levam em conta, além da moeda de cada um (dólar e euro são considerados reserva de valor; o real, não), a renda e o PIB per capita. Eles são muito menores no Brasil do que em EUA, Alemanha e França. (Folhapress)

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