Recife – Em busca de apoio político e prestígio popular no Nordeste, a presidente Dilma Rousseff voltou nesta sexta-feira, 21, a Pernambuco, berço político do ex-presidente Lula, pela terceira vez neste seu segundo mandato. Em discurso a integrantes de movimentos sociais, Dilma pediu “tolerância, paciência e humildade” para o País avançar após as “dificuldades”. A empresários, ela reconheceu “excessos” nos subsídios e desonerações, o que segundo ela causou “alto custo fiscal” ao governo.
Pela manhã, em Cabrobró, no agreste pernambucano, a presidente inaugurou um trecho da transposição do Rio São Francisco. No Recife a presidente enfrentou protestos de sindicalistas críticos ao governo, que tentaram bloquear a saída da comitiva do governo, ao final de encontro com empresários, durante a tarde.
Perdendo popularidade entre os nordestinos, a presidente lembrou líderes políticos da região, citando o ex-presidente Lula e o ex-governador Eduardo Campos. Ela destacou os avanços regionais dos governos petistas. “Regiões são diferentes, mas as oportunidades têm que ser iguais. Antes, a pobreza tinha sexo, cor e região. Não tem volta atrás”, disse Dilma.
“A gente só avança com tolerância, respeito e humildade de escutar a voz do outro. O que nos une hoje são dois compromissos: com o nosso País e com o nosso povo. Eu aposto no País. Vamos superar as dificuldades, vamos pegar o túnel e alumiar o fim do túnel com esperança e otimismo”, discursou a presidente.
Em meio à crise política, a estratégia da presidência para defender o governo é ampliar a divulgação dos projetos pela plataforma digital Dialoga Brasil, criada há três semanas. No Recife, um time de ministros foi escalado para defender programas-símbolo das gestões petistas, como o Bolsa Família, o Prouni, Pronatec e o Mais Médicos.
A plateia formada por ativistas de diversos movimentos sociais gritou “Fora Cunha”, em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e cantou coros de apoio a Dilma. Alguns participantes subiram ao palco para entregar flores e presentes à presidente. O governador Paulo Câmara (PSB) foi hostilizado com vaias e encurtou o discurso. “Não vamos superar a crise com intolerância. O momento exige unidade nacional”, disse.
Protestos
Com carro de som, faixas e apitos, cerca de 50 sindicalistas cercaram o prédio onde Dilma estava e tentaram bloquear a saída da comitiva presidencial. O local teve policiamento reforçado pela Polícia Federal, Polícia Militar e militares do Exército. A manifestação provocou congestionamentos,. De dentro dos carros e ônibus, motoristas, passageiros e estudantes apoiaram o protesto com gritos, aplausos e buzinaços.
Os sindicalistas criticaram o governo e as suspeitas de corrupção nas obras da Arena Pernambuco, estádio construído para a Copa de 2014 pela construtora Odebrecht e alvo de investigação pela Polícia Federal por suspeita de superfaturamento. A presidente driblou o protesto saindo pela lateral. “É uma vergonha a presidente vir a Pernambuco e sair escondida, como se estivesse fugindo. Ela está sitiada”, afirmou Áureo Cisneiros, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco.
Reunião
A reunião foi realizada a portas fechadas. Durante o encontro, a presidente Dilma Rousseff reconheceu a empresários pernambucanos que as medidas econômicas adotadas em respostas à crise internacional gerou “excessos” e “alto custo fiscal” ao governo.
“A presidente pôde transmitir de forma direta que as políticas de resposta ao período de crise têm excessos, na medida em que criaram um custo fiscal ao governo”, disse Armando Monteiro, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Experior, após a abertura da reunião, na sede da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe). “Os subsídios e as desonerações tiveram custo fiscal muito alto ao Tesouro e agora não se pode manter esses incentivos”, completou.
A reunião também contou com a participação dos ministros Nelson Barbosa (Planejamento), Kátia Abreu (Agricultura) e Thereza Campello (Desenvolvimento Social). Também acompanharam o encontro o senador Humberto Costa (PT) e outros parlamentares.
Segundo o diretor-presidente da Fiep, Ricardo Essinger, a expectativa entre os empresários era de iniciar um movimento contrário à “contaminação da economia pela disputa político-partidária”. “A Lava Jato não pode contaminar o ‘real’, não pode paralisar o País”, afirmou Essinger antes da reunião. “Nós, empresários, somos os eternos batalhadores. Diante das trevas, temos que seguir para a luz”, contemporizou.
(Estadão Conteúdo)
Leia mais sobre: Brasil